A partir do momento que o cordão umbilical é rompido, o recém nascido adquire uma porta de entrada para bactérias e agentes patogênicos, por isso é tão importante cuidar do umbigo.
O parto das vacas pode ser considerado um dos momentos mais importantes para os criadores de bovinos de leite. Nesse momento, uma nova fêmea passa a ser lactante em seu plantel, concomitantemente ocorre o nascimento do filhote.
Após o rompimento do cordão umbilical, o recém nascido adquire uma porta de entrada em seu abdômen, dando livre acesso à agentes patogênicos em órgãos vitais, necessitando uma adequada desinfecção para minimizar complicações e até mesmo sua morte. Essas circunstância podem refletir no incremento do custo de criação dos animais com a terapêutica instituída e - em casos de óbito - a progressão genética na propriedade acaba sendo parcialmente interrompida.
Portanto, neste informativo será retratado o cuidado inicial em bezerras, sobretudo como evitar a principal forma de infecção em bezerras recém nascidas, a infecção por via umbilical, exemplificando alguns pontos que fazem diferença na assepsia do umbigo.
Para se reduzir as doenças de recém-nascidos é necessário a colostragem e a desinfecção umbilical adequada (SVENSSON; LIBERG, 2006). O bezerro recém-nascido detém incapacidade de manter sua temperatura corpórea (RENGIFO, et al., 2006), e seu sistema imunológico tem menor competência de proteção (BARRINGTON; PARISH, 2001), tornando o colostro indispensável nessa fase de sua vida.
Os anticorpos maternos são essenciais para formação da imunidade passiva, que vai sobressair nos primeiros meses de vida e atuar no controle de processos infecciosos, pois é inevitável a exposição do recém-nascido a microrganismos ambientais patogênicos. As infecções umbilicais, diarreias e as doenças respiratórias são as enfermidades que mais acometem bezerros durante os primeiros meses de vida, sua casuística está ligada principalmente à fatores ambientais, higiênicos, traumáticos, bacterianos e congênitos (RADOSTITS et al., 2010).
As afecções umbilicais podem evoluir gerando complicações como a patologia articular, meningite, uveíte, abscessos hepáticos e endocardite (RIET-CORREA, 2007). Dessa maneira, a desinfecção umbilical deve ser realizada até o umbigo estar totalmente cicatrizado. Dentre os produtos desinfetantes que podem ser utilizados, iodo e clorexidine são os mais usuais, facilmente encontrados em lojas agropecuárias. A associação de álcool nas soluções iodadas favorece a secagem das estruturas remanescentes do cordão umbilical (BITTAR, 2009).
No entanto, muitos produtores acabam por utilizar apenas produtos spray, popularmente chamados de “Azulão ou Prata”, porém, sua composição limita-se a produtos com ação larvicidas, repelentes e cicatrizantes, sendo assim, não garantem a higienização do umbigo. Outro produto a ser evitado é a solução iodada utilizada na ordenha de vacas, pois sua concentração é inferior à necessária para cicatrização (JUNIOR, 2015).
Além da concentração, a forma como é aplicada a solução também deve a atenção, evitando a pulverização externa, pois a parte interna do umbigo deve ser desinfetada, sendo necessária sua imersão em um recipiente limpo com o antisséptico (GORDEN; PLUMER, 2010). Para realizar a correta desinfecção das estruturas umbilicais recomenda-se utilizar solução de iodo a 7% em álcool ou clorexidine (aplicação por imersão, duas vezes ao dia até total cicatrização). O clorexidine tem amplo espectro de ação antimicrobiana e é eficaz em presença de matéria orgânica (SEINO, 2014).
Outro procedimento a ser executado é o corte do umbigo quando está com tamanho acima de 15 centímetros (cm), o ideal é que o mesmo tenha de 8-10 cm. Utilizando equipamentos limpos e de forma gentil deve-se realizar a secção, evitando também o corte próximo à pele (PEREIRA, 2011). O diagnóstico de afecções umbilicais em neonatos pode ser efetuado por meio da inspeção, observam-se formato, tamanho, coloração, lesões supurativas e presença de miíases (JUNIOR, 2015).
A palpação pode demonstrar a existência de eventual orifício e anel herniário, sensibilidade aumentada de temperatura e consistência flutuante (GARCIA et al., 2014). Portanto, um manejo correto envolve um local adequado para o bezerro ficar alojado, com menos contaminação possível no solo, fornecimento de colostro em tempo e quantidade suficiente e a cura do umbigo com produtos eficientes, garantindo menos problemas umbilicais. Consequentemente o filhote irá se desenvolver normalmente, diminuindo as chances de morte e o produtor não terá prejuízo no tratamento da enfermidade umbilical.
Referências bibliográficas
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