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Controle estratégico de carrapatos em bovinos

POR LIBOVIS - UFRRJ

PRODUÇÃO DE LEITE

EM 05/01/2021

11 MIN DE LEITURA

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O carrapato é um dos maiores problemas que a pecuária enfrenta e seu controle é de extrema importância, já que o pequeno parasita tem potencial para causar grandes prejuízos econômicos à toda cadeia produtiva de bovinos.


Conhecendo o carrapato 

Hoje um dos maiores problemas na pecuária é o controle do Rhipicephalus microplus, conhecido popularmente como “carrapato-do-boi”. O parasita tem ampla distribuição em todo território nacional e para seu controle são necessárias técnicas eficazes de resultados satisfatórios, sem esquecer o custo benefício para o produtor, evitando consequências danosas para o animal, o operador que estiver manuseando e o meio ambiente.

O controle do carrapato-do-boi é de extrema importância, já que o pequeno parasita tem potencial para causar grandes prejuízos econômicos à cadeia produtiva de bovinos, sendo calculado pela Embrapa um prejuízo econômico de bilhões de dólares por ano no Brasil. Nesse valor inclui-se medicamentos aplicados, perda de peso, queda na produção, miíases e infecções secundárias e até as mortes que acontecem, especialmente em função da chamada tristeza parasitária bovina. Esse valor tende a aumentar significativamente em função da resistência que os carrapatos estão demonstrando contra os princípios ativos, por uso dos produtos carrapaticidas de forma errada.

O ciclo biológico do carrapato

O ciclo biológico do R. microplus é considerado monoxeno, ou seja, o ciclo de vida é feito em um único hospedeiro, tanto as fases de reprodução e desenvolvimento ocorrem em somente um animal, sendo o bovino o principal hospedeiro, o que não impede de encontrarmos o R. microplus parasitando outros animais como, equinos, ovinos e até mesmo cervídeos, quando estes compartilham o mesmo ambiente que os bovinos.

O ciclo se divide em duas fases: parasitária e não-parasitária. Na fase parasitária o carrapato obrigatoriamente vai passar parte de sua vida infestando o hospedeiro, o boi, para fazer o seu repasto sanguíneo e em seguida, se dá a fase não-parasitária em que a teleógina (fêmea ingurgitada) se solta do hospedeiro e vai ao solo, onde realiza a postura dos ovos. Cada teleógina tem capacidade de reverter em torno de 50% de seu peso corporal em massa de ovos, chegando a aproximadamente 3.000 ovos (Figura 1). 

Figura 1 - Teleóginas de R. microplus realizando ovipostura. Fonte: Andreotti, Garcia e Koller (2019).

A fêmea morre após a ovipostura e, dos ovos incubados ocorre a eclosão das larvas, que aguardam no chão até que a carapaça endureça. Em seguida elas sobem até o ápice da forrageira (Figura 2) onde permanecem agrupadas até que o hospedeiro passe se alimentando no pasto e acabe sendo parasitado iniciando um novo ciclo. As larvas percebem a aproximação de um animal através do gás carbônico vindo de sua respiração. Dessa forma, elas sobem no boi e se fixam, começando a chamada “fase parasitária” do ciclo de vida do carrapato.

Figura 2 - Larvas de R. microplus na pastagem à espera de um hospedeiro. Fonte: Andreotti, Garcia e Koller (2019).

Assim como todos os parasitas, o R. microplus também apresenta algumas características biológicas favorecidas por determinadas condições climáticas, como temperatura e umidade. Um dos pontos do controle estratégico se baseia no entendimento dessas características de forma que possa ser possível a elaboração de procedimentos que o combatam de maneira eficaz e econômica para o produtor, levando em consideração características climáticas da região em que o programa de controle será implantado.

Outro ponto importante é conhecer o ciclo do parasito para ter um resultado mais eficiente com menor custo, pois o uso de formulações químicas de forma desenfreada causa baixa eficiência e seleciona cepas cada vez mais resistentes às bases químicas utilizadas no controle de carrapatos aumentando os prejuízos econômicos para o produtor.

Além de causar resistência, o uso de produtos químicos em excesso e de forma errada pode levar a contaminação ambiental, intoxicação do animal e daqueles que manuseiam o produto. Sendo assim, para um controle eficiente é necessário levar em consideração aspectos relacionados ao ciclo de vida do parasita e sua relação com as variações ambientais, sazonalidade, vulnerabilidade da população de carrapato, tipo de manejo e diversos outros fatores.

O controle estratégico do carrapato

O controle estratégico é a organização das ações que devem ser realizadas para combater os carrapatos em uma determinada propriedade. Essas estratégias podem ser divididas em dez passos seguindo uma ordem cronológica:

1 - Escolha do produto adequado

Esse é o primeiro passo a ser considerado. Para tal, deve-se realizar um teste chamado bioensaio ou biocarrapaticidograma. Este  pode esclarecer dúvidas quanto a eficiência de qualquer acaricida de diferentes famílias ou grupos químicos e determinar o mais eficiente para um controle específico, a fim de evitar trocas indiscriminadas de produtos. 

Nesse teste as fêmeas ingurgitadas do carrapato dos bovinos são tratadas com os acaricidas comerciais na dose indicada pelos fabricantes. Após o banho do acaricida, as fêmeas são mantidas sob condições ideais de temperatura e umidade, acompanhando-se o efeito do tratamento na sobrevivência e capacidade de produção de ovos e larvas. Temperatura e umidade devem-se ser levados em conta já que influencia no desenvolvimento do ciclo do carrapato.

Se o produto for eficiente, a maioria dos carrapatos morrerão antes de começar a postura ou realizarão a ovipostura de poucos ovos de cor escura, secos e separados, onde não surgirão larvas. O resultado final fica pronto entre 30 e 40 dias, e é expresso em termos de eficácia percentual. Valores abaixo de 95% indicam processo de resistência e a escolha final do acaricida é baseada no produto que apresenta melhor eficácia nos  resultados do teste. 

É importante que o produtor conte com a orientação de um técnico para interpretar o resultado e indicar, a partir deste, a manutenção ou troca do produto químico que utiliza na propriedade. A preferência deve ser por produtos que agem por “contato” (imersão ou aspersão), pois produtos “sistêmicos” (injetável, pour on ou ministrados por via oral) somente entram em contato com os carrapatos que ingeriram sangue.

Uma questão importante a ser levada em consideração é o procedimento de coleta e envio das amostras que irão para o bioensaio. As etapas de seleção dos animais doadores, coleta das teleóginas nesses animais e o preparo da amostra para transporte até o laboratório que fará o biocarrapaticidograma é de extrema importância para se obter um resultado confiável. Instruções podem ser obtidas aqui!  

2 - Época adequada para aplicação do produto

É de grande importância atentar-se à época adequada para o manuseio do produto nos animais. Comumente, existem carrapatos em diferentes estágios de desenvolvimento sobre o animal e o tratamento deverá ser feito quando as fêmeas ainda não estiverem totalmente ingurgitadas, para evitar que as mesmas caiam no solo e realizem a postura. O “controle estratégico” é quando inicia-se o controle dos carrapatos quando estes estão em sua época desfavorável no campo com pouca quantidade de larvas nas pastagens. Nesse momento, são realizadas as aplicações de acaricidas nos animais para combater as formas larvais que estão iniciando o parasitismo no animal e aquelas que já estão em desenvolvimento no hospedeiro. O ideal é que se faça uma série de cinco tratamentos em intervalos de 21 dias.

Em época das águas, a temperatura e umidade acabam por serem favoráveis ao desenvolvimento do carrapato nas pastagens, sendo um processo rápido da postura até a eclosão de larvas. Em épocas mais secas, as larvas procuram se proteger na parte inferior das folhas, ficando num ambiente mais seco, o que dificulta sua sobrevivência. O final do período seco é a época ideal para o combate dos carrapatos, antes que comece o período das chuvas, que fará o ciclo biológico se acelerar aumentando a população de carrapatos. 

3 - Seguir as recomendações do fabricante

No caso do uso de acaricidas “de contato” é necessário o contato do ectoparasita com uma quantidade mínima já estipulada pelo fabricante. Outro fator importante é que eles devem ser bem misturados e aplicados com pressão que seja suficiente para penetrar o pelo do animal, além de molhá-lo por completo. Então, seguir as ordens de aplicação estipuladas pelo fabricante é um dos fatores que deve ser levado em consideração uma vez que a recomendação indica a concentração mínima necessária para ter um bom controle daquela população de carrapatos. Em caso de utilização de doses inferiores, uso de produtos de validade vencida ou então armazenado de forma incorreta, haverá o surgimento de cepas resistentes àquele tratamento. 

4 - Garantir a segurança do operador

É importante que todos aqueles que manuseiem acaricidas estejam devidamente trajados e instruídos sobre os riscos dessa tarefa para minimizar os riscos de contaminação. Na aplicação do produtor o operador deve se colocar a favor do vento e deve estar utilizando equipamentos de segurança desde o início do preparo do produto. Como medidas de segurança, o operador deve estar utilizando macacão, óculos, botas, luvas e máscaras para evitar contato danoso com o produto. Por serem tóxicos, os acaricidas atuam diretamente no Sistema Nervoso Central podendo levar à quadros de alergias, intoxicações, malformações de órgãos em fetos e aparecimento de neoformações. 

5 - Aplicar corretamente o produto

Os acaricidas aplicados por imersão ou aspersão vão atuar através do contato com o carrapato causando intoxicação do produto que está diluído em água. Quanto maior o carrapato mais facilmente será visualizado na superfície corpórea do animal em regiões onde o animal não consegue lamber, locais de fácil acesso ao animal estarão os carrapatos menores. Após a aplicação o animal deve estar todo “molhado” garantindo que até aqueles carrapatos menores, que são mais difíceis de serem observados entraram em contato com o produto.

É importante respeitar a forma correta de aplicação desses produtos também para evitar seu desperdício. Em dias chuvosos, por exemplo, deve-se adiar a aplicação para o dia seguinte ou deixar os animais tratados sob uma cobertura, impedindo que a chuva retire o produto, sendo necessário respeitar um período ideal para sua ação, que é em média duas horas após a aplicação. Os acaricidas de contato atuam imediatamente após a aplicação, então as larvas presentes no ambiente começarão a subir no animal mas deverão morrer apenas no próximo tratamento.

6 - Redução dos carrapatos livres nos pastos

Animais recém tratados devem entrar em contato com a pastagem infestada, funcionando como “aspiradores” das larvas que lá estão. Depois que a fêmea ingurgitada realiza a postura de seus ovos, que esses ovos originam larvas e que essas larvas  sobem e se fixam no boi, esses carrapatos serão mortos caso entrem em contato com o produto recém aplicado, favorecendo a redução dos carrapatos livres no campo. 

7 - Animais sempre infestados

Após uma série de banhos ou tratamentos feitos de maneira correta e com produtos adequados àquela propriedade, os animais deverão ter poucos carrapatos por muitos meses, não necessitando de novas aplicações. Porém, alguns animais no rebanho carregarão a maioria dos carrapatos, os popularmente conhecidos como “animais de sangue doce”. 

Esses animais deverão ter uma atenção especial. Se num momento de poucos carrapatos no rebanho esses animais apresentarem uma quantidade igual ou superior a 25 teleóginas em um único lado do corpo, deverão ser tratados de forma esporádica. Os outros animais não tratados nesse momento e com poucos carrapatos se não tiverem contato com o acaricida retardará a possibilidade de resistência (tática de refúgio). No ano seguinte, o controle estratégico deve ser novamente estendido a todo rebanho. 

8 - Cuidado ao introduzir animais no rebanho

Quando há aumento da variabilidade genética ocorre o aparecimento e seleção de indivíduos portadores de mecanismos de resistência à ação do carrapaticida. Nestes casos, é necessário reavaliar a eficiência do fármaco utilizado e repensar a estratégia de controle, o que gera custos. A fim de evitar esse problema é fundamental primar pela boa origem e estado sanitário adequado dos animais que são comprados e trazidos para o rebanho, bem como submeter tais animais a um período de quarentena e descarrapatização, evitando a introdução de carrapatos de diferentes genéticas no rebanho. 

9 - Infecções mistas

Outro ponto chave do controle estratégico é evitar o compartilhamento de pastos tanto quanto possível de tal modo que se evite o contato entre diferentes espécies de animais domésticos. Do contrário, os parasitas naturais de uma determinada espécie poderão causar infestações em outros animais (parasitismo acidental). O tratamento das infestações mistas é sempre mais complexo, acarretando  mais custos e trabalho ao produtor. Nesse sentido, a melhor ferramenta é a profilaxia,  impedindo a chegada de novas populações de carrapatos à fazenda de diferentes espécies animais.

10 - Avaliação anual dos produtos

Anualmente ou sempre que houver suspeita de falha do tratamento acaricida recomenda-se a realização do biocarrapaticidograma. Caso se verifique pouca eficácia do produto utilizado naquele momento, é necessário mudar a base farmacológica utilizada. Neste momento deve-se atentar para um detalhe: uma mesma base farmacológica pode estar no mercado sob múltiplos nomes comerciais, muitas vezes causando confusões. 

Conclui-se que para o controle estratégico ter sucesso, evitando grandes infestações e seus prejuízos associados, deve ser aplicada uma variedade de conhecimentos e práticas de manejo que visam manter uma baixa população de parasitos. A adequada observação do ciclo biológico dos carrapatos  o uso adequado dos acaricidas, a atenção especial aos animais mais suscetíveis, o controle de entrada, o não compartilhamento de pastagens e a avaliação anual da eficácia do acaricida constituem princípios técnicos que podem aumentar de maneira simples a produtividade na pecuária.

 

Autores: 

Keity Kelly Vianna Benetti¹;
Thaíne Lopes Bueno¹; Caio Nunes Christoffe Simões¹;
Ana Paula Lopes Marques²

1Discente;
Orientadora do Grupo de Estudos - Liga de Bovinos, LiBovis, UFRRJ

Referências:

ANDREOTTI, R.; GARCIA, M.V.; KOLLER, W. W. Carrapatos na cadeia produtiva de bovinos. Brasília, DF : Embrapa, 2019. Cap 1 e 9. Disponível em: <https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/194263/1/Carrapatos-na-cadeia-produtiva-de-bovinos.pdf> Acesso em: 20 out, 2020.

FURLONG, J.; MARTINS, J. R. de S.; PRATA, M. C. A. Carrapato dos bovinos: controle estratégico nas diferentes regiões brasileiras. Embrapa Gado de Leite - Comunicado Técnico (INFOTECA-E), 2003. Disponível em: <https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/bitstream/doc/594909/1/COT36Carrapatodosbovinos.pdf> Acessado em 24 out, 2020.

GOMES, C. C. G. Instruções para coleta e envio de material para teste de sensibilidade aos carrapaticidas ou biocarrapaticidograma. Comunicado Técnico, v. 76, 2010. Disponível em: <https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/31728/1/CO-76-online.pdf> Acesso em 20 out, 2020.

LIBOVIS - UFRRJ

A Liga de Bovinos, LiBovis, é um grupo de estudos constituído por alunos de graduação em Medicina Veterinária e áreas afins da UFRRJ. Tem como objetivos estudar, compreender e defender os interesses da bovinocultura contribuindo para sua valorização.

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EDEMAR DE ASSIS DA SILVA

FLORIANÓPOLIS - SANTA CATARINA - REVENDA DE PRODUTOS AGROPECUÁRIOS

EM 07/01/2021

Parabéns pelo artigo.
ANA PAULA L M

SEROPEDICA - RIO DE JANEIRO - PESQUISA/ENSINO

EM 19/01/2021

Agradeço em nome da LiBovis-UFRRJ.
EM RESPOSTA A ANA PAULA L M
ROBSON CRUZ

GOIÂNIA - GOIÁS - REVENDA DE PRODUTOS AGROPECUÁRIOS

EM 17/04/2023

Olá Ana Paula L M e a todos do fórum !

Tenho uma pergunta:
A homeopatia veterinária (que está bem na moda hoje em dia) cientificamente falando, sem empirismo, mas com base na ciência, a Homeopatia veterinária contribuí realmente de alguma forma para o controle real das moléstias que acometem os animais de produção ?
Pois trabalho com consultoria ao produtor rural e vejo e acompanho muitos resultados alcançados por estes produtos que me deixam em dúvida quanto ao seu real efeito.
Vcs poderiam lançar uma luz científica com relação a esta situação do uso dos homeopáticos e seus "efeitos" nos animais de produção?

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