Autoras do artigo:
Mônica Marcia da Silva e Sarita Bonagurio Gallo. Zootecnistas da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos, Universidade de São Paulo, Campus de Pirassununga.
A gestação de uma ovelha está em torno dos 147 dias que são divididos em três terços, cada qual com a sua importância, porém o terço final se trata de um período onde ocorre maior desenvolvimento fetal e inicio da lactação, no qual, a exigência nutricional é considerada maior tanto por parte da ovelha como também do feto (BOMFIM; ALBUQUERQUE; SOUSA, 2014; NRC, 2007).
Um dos maiores problemas dentro da produção de ovinos é a alta taxa de mortalidade de cordeiros no período entre o nascimento e a desmama, sendo que a fêmea tem influência sobre esse aspecto por na maioria das vezes não apresentar um bom cuidado maternal com a sua cria, que possibilita uma baixa ingestão de colostro por parte do filhote que acaba não ingerindo imunoglobulinas suficientes para fortalecer o seu sistema imunológico (MORAES, 2011).
Os ovinos são denominados animais gregários, ou seja, são animais que vivem em grupos, porém as ovelhas momentos antes do parto apresentam comportamentos incomuns como, por exemplo: ficam inquietas, com baixa ingestão de alimento e isolam-se do rebanho, que por um lado é um comportamento vantajoso para a relação pós-parto que está preste a ser criada entre ovelha e filhote, pois dessa forma, ocorrerá pouca ou quase nenhuma interferência das demais ovelhas (RECH et al., 2011).
A relação entre mãe e filhote se torna mais forte após o parto, porém todo esse vínculo tem início a partir da atração forte que a ovelha sente pelo liquido derramado com o rompimento da bolsa, denominado liquido amniótico. Toda essa atração pelo liquido é devido às ações hormonais que influenciam os primeiros indícios para a relação materno filial (RECH et al., 2011).
Um dos maiores problemas dentro da produção de ovinos é a alta taxa de mortalidade de cordeiros no período entre o nascimento e a desmama
A atração intensa pelo líquido antes, durante e depois do parto é o que induz a ovelha a limpar o seu cordeiro, ocorrendo assim, o primeiro vínculo entre ambos, já o segundo vínculo se caracteriza pela troca de balido de baixa intensidade entre filhote e mãe (LÉVY et al. 1983). Uma das ações notáveis na limpeza dos cordeiros é que a ovelha não a faz de forma aleatória e sim de uma forma a eliminar as membranas amnióticas das vias aéreas que podem provocar asfixia no cordeiro, essa limpeza normalmente é direcionada da cabeça às patas traseiras (NOWAK, et al., 2000).
Além da função de eliminar as membranas das vias aéreas, a limpeza corporal tem uma segunda função que nada mais é que encorajar o cordeiro a se levantar e buscar instintivamente o teto, sendo função da ovelha a partir desse momento facilitar a mamada e estimular o cordeiro a ingerir o colostro, as primeiras tentativas de sucção nem sempre serão bem sucedidas, sendo aprimoradas em questão de horas (BROOM; FRASER, 2010).
Em produções é comum encontrar abandonos dos cordeiros por parte das ovelhas e este abandono pode ter como histórico, um manejo incorreto com varias situações de estresse, como alta carga animal em pasto de parição, pasto com forragens de altura elevadas, presença de predadores, problemas sanitários, ocorrência de partos distócicos, baixo escore de condição corporal e/ou por serem ovelhas primíparas (primeiro parto) e não apresentarem - até então - nenhuma experiência maternal.
É comum nos abandonos as ovelhas tratarem seus filhotes com agressividade, não permitindo de forma alguma que eles mamem, da mesma forma com que outras ovelhas não permitem que outros cordeiros se alimentem no seu teto (MAFF, 2000).
Para obter sucesso em um sistema reprodutivo é necessário que o produtor faça a seleção de suas matrizes também com foco no comportamento materno filial, pois os cordeiros são animais que necessitam da capacidade de sua mãe em lhe oferecer todas as condições necessárias pra sobreviver nesse período critico entre o nascimento e a desmama.
É importante ressaltar que para ser uma boa reprodutora não é levado em conta o número de filhotes que ela é capaz de parir e sim a experiência materna e a competência em criar os seus filhotes para que cheguem a desmama com os padrões desejáveis pelo produtor, com o mínimo de intervenção humana (RAINERI, 2008).
Referências bibliográficas
BOMFIM, M. A. D., ALBUQUERQUE F. R., SOUSA, R. T. Papel da nutrição sobre a reprodução ovina. Acta Veterinaria Brasilica, v. 8, n. 2, p. 372-379, 2014.
BROOM, D. M.; FRASER, A. F. Comportamento materno e do neonato. In:______. Comportamento e bem-estar de animais domésticos, 4. ed. Barueri: Manole, p.173-187, 2010.
LÉVY, F.; POINDRON, P.; LE NEINDRE, P. Alltraction and repulsion by amniotic fluids and their olfactory control in the ewe around parturition. Physiology & Behavior, v. 31, p. 687-692, 1983.
MINISTRY OF AGRICULTURE FICHERIES NA FOOD – MAFF. Codes of recommendations for the welfare of livestock press, p. 200, 1986.
MORAES, A. B. Habilidade materna de ovelhas Corriedale e sua relação com a sobrevivência e desenvolvimento de cordeiros. 2011. 99f. Dissertação (Mestrado em Zootecnia) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2011.
NATIONAL RESEARCH COUNCIL - NRC. Nutrient requirements of small ruminants. 2007
NOWAK, R. et al. Role of mother-young interactions in the survival of offspring in domestic mammals. Reviews of Reproduction, v. 5, n. 3, p. 153-163, 2000.
RAINERI, C. Perfil do comportamento materno-filial de ovinos da raça Santa Inês e sua influência no desempenho dos cordeiros ao demame. 2008. 72f. Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos – Universidade de São Paulo, Pirassununga, 2008.
RECH, C. L. S. et al. Temperamento e comportamento materno ovino. Revista Brasileira de Reprodução Animal, v. 35, n. 3, p. 327-340, 2011.