Há vários fatores que podem influenciar o comportamento de bovinos, dentre eles destacam-se o clima, a alimentação e o sistema de produção adotado. Para vacas leiteiras em particular, a produção, o horário e o número de ordenhas são determinantes em seus padrões comportamentais.
Ao estudar comportamento animal, as principais variáveis que são analisadas estão relacionadas à alimentação, à ruminação e ao ócio. O tempo destinado à alimentação varia de 4 a 10 horas. Este tempo contabiliza as atividades de procura, seleção, apreensão do alimento e deglutição do bolo alimentar. Vacas leiteiras mantidas em regime de pastagem apresentam picos de alimentação durante o dia, e estes são mais intensos após as ordenhas. Geralmente há seis picos de alimentação, sendo quatro picos entre a ordenha da manhã e da tarde e dois picos após a ordenha da tarde.
O hábito alimentar de bovinos mantidos em pastagens pode ser influenciado pela capacidade seletiva dos animais, que pastejam prioritariamente folhas mais novas, seguidas pelas folhas mais velhas e caule. Outro fator é a diferença que existe entre as espécies forrageiras. Espécies tropicais comparadas a temperadas tornam-se fibrosas mais rapidamente, perdendo com isso qualidade e muitas vezes causando redução de consumo.
Em sistemas alternativos de produção de leite, como os sistemas orgânicos e agroecológicos, que têm como prioridades a perenização, a diversificação das espécies forrageiras e a liberdade de escolha dos animais, o estudo do comportamento pode contribuir na avaliação das pastagens e no manejo a ser adotado. Sabe-se que os animais podem alterar o seu comportamento ingestivo, modificando um ou mais de seus componentes para superar condições limitantes ao consumo e obter a quantidade de nutrientes necessária. Estudos são escassos nessa área. Questiona-se, no entanto, o comportamento do capim elefante, especialmente se consorciado com espécies de ciclos diferentes. Pesquisas sobre o comportamento dos animais poderão apontar hábitos de pastejo e seleção dos materiais existentes, contribuindo para o estudo desses sistemas forrageiros.
Olívio e colaboradores realizaram um estudo no Rio Grande do Sul onde vacas leiteiras foram mantidas em três diferentes áreas de pastagens manejadas sob princípios agroecológicos: área que continha somente capim elefante, capim elefante mais aveia ou capim elefante junto com aveia e azevém. Foram avaliados os tempos de pastejo, ruminação e ócio e, concomitantemente foram realizados estudos associativos entre parâmetros comportamentais e os componentes das pastagens e das variáveis ambientais. O estudo foi conduzido em três ciclos de pastejo distintos, durante os meses de junho a setembro de 2004. Os pastejos iniciaram quando a aveia e o azevém apresentavam em torno de 20 centímetros de altura e finalizavam com 10 cm de altura. As touceiras de capim elefante (C E) apresentavam altura média de 1 metro e o ciclo de pastejo variou de 43 a 48 dias, com período de ocupação de um dia por piquete. Como animais experimentais, utilizaram-se seis vacas holandesas (entre o 2o e o 5o mês de lactação), com peso inicial de 517 ± 23,25 kg e produção de leite de 15,18 ± 0,71 kg/dia. Cada animal recebeu diariamente como complementação alimentar 7,1 kg de MS (3,5 kg de concentrado com 20% de PB e 3,6 kg de MS de silagem de milho). Os animais tiveram livre acesso à pastagem e à água durante as observações e, entre os períodos de avaliação, foram mantidos sob mesmo manejo alimentar (complementação alimentar e pastagem da época). Os dados foram registrados por dois observadores, com revezamento a cada 4 horas. As observações foram feitas a cada 10 minutos, das 18 às 6h (período noturno) e das 8 às 16 h (período diurno), totalizando 20 horas/dia. Nas quatro horas restantes, os animais foram retirados da pastagem para a ordenha da manhã e da tarde e receberem a suplementação alimentar. Neste período, não foram feitas observações comportamentais. Os dados de comportamento diário foram agrupados (de duas em duas horas) para a constituição do etograma, conforme apresentado a baixo.

Tempo médio gasto por vacas em lactação (percentual do tempo em 20 horas) em três diferentes períodos da estação hibernal. Dados agrupados em intervalos de duas horas, com os animais em pastagem de capim-elefante (Pennisetum purpureum), aveia preta (Avena strigosa) e azevém (Lolium multiflorum).
Analisando os dados acima, observamos dois pastejos típicos, um após a ordenha da manhã e outro após a da tarde. Depois desses ápices de pastejo, sucederam-se picos de menor intensidade. Em todos os ciclos de pastejo, as vacas disponibilizaram mais tempo durante o dia, mesmo no segundo, no qual a temperatura registrada foi bem superior à média mensal. Os animais disponibilizaram mais tempo para o pastejo de CE durante o dia (66,88%) que à noite (33,12%), provavelmente em virtude da maior facilidade para selecionar as folhas em meio às touceiras de CE (apresentavam elevada quantidade de material morto), favorecida pela luz do dia. Os dados agrupados demonstram que os animais pastejaram durante todo o dia, alternando períodos de maior e menor tempo de pastejo com as demais atividades. À noite, esse comportamento se repetiu, mas com menor intensidade, havendo um horário em que os animais praticamente não pastejaram, de meia-noite às 2h na primeira e das 4 às 6h para a segunda e a terceira avaliação, respectivamente.
Enfim, os dados de comportamento ingestivo obtidos durante este experimento nos mostram que o capim elefante pode ser utilizado em consorciação à aveia e o azevém durante o período de inverno e que a presença de espécies forrageiras de ciclos diferentes pode oferecer aos animais condições uma dieta equilibrada em termos de fibra e digestibilidade da matéria seca, podendo com isto melhorar o desempenho animal e a lucratividade do sistema.
ALBRIGHT, J.L. Nutrition and feeding calves: feeding behavior of dairy cattle. Journal of Dairy Science, v.76, n.2, p.485- 498, 1993.
OLIVIO, J.C., CHARÃO, P. S, ZIECH, M.F., ROSSAROLLA, G., MORAES, R.S. Comportamento de vacas em lactação em pastagem manejada sob princípios agroecológicos. Revista Brasileira de Zootecnia, v. 35, n. 6, p. 2443 - 2450, 2006.