Dizemos, ao nos referir sobre melhoramento e seleção genética, que se bem orientada, a geração subsequente deverá ser superior a que a antecedeu. Ou seja, quando logramos uma boa diretriz na seleção, a filha será mais produtiva que a mãe. Pelo menos é o que se busca, acasalando com touros superiores, selecionado as mais produtivas vacas do plantel, sem perder logicamente o foco no fenótipo, principalmente naquelas características que estão ligadas a reprodução, saúde, longevidade e produção.
Diante do exposto, como as bezerras e novilhas não representam encaixe financeiro imediato, são vistas como se não fizessem parte do sistema produtivo e que este importante setor da fazenda pode ficar longe dos mais intensivos cuidados diários e resignado a investimentos reduzidíssimos.
Grande engano, caro produtor! A falta de atenção a estes tenros seres vivos pode representar o sucesso ou o fracasso de sua empresa rural ou seu empreendimento neste setor.
A pesquisa e a prática vivida pelos técnicos que labutam no setor leiteiro determinam claramente que as instalações adequadas, o tratador e a sanidade são fatores que possuem enorme peso no sucesso da cria de bezerras e novilhas.
Citando um exemplo, vários trabalhos de pesquisa e observações práticas de campo nos mostram que bezerras que não sofreram infecções respiratórias ou pneumonia possuem 2 vezes mais chances emprenhar aos 15/16 meses e chegarem ao parto primeiro parto sem complicações.
Dentre outros fatores, ainda temos outros fatores que são causas de redução importante de produção ao primeiro parto:
- Baixa ingestão de matéria seca ao desmame;
- Animais que são acometidos de muitas doenças na cria e recria;
- Baixo peso ao parto;
Acompanhem-me em algumas considerações sobre:
PRODUTIVIDADE
Comparemos 2 fazendas:
Fazenda 1 – Cria corretamente suas bezerras/novilhas, emprenhando-as aos 15/16 meses de idade e possui genética para produzir 20 litros nesta primeira lactação.
Fazenda 2 – Possui animais de igual genética, mas que NÃO receberam uma criação adequada e que vão emprenhar aos 20 meses (acho que estou sendo generoso, projetando esta média no Brasil, mas prossigamos).
Vejamos a produtividade por animal que diferencia cada fazenda ao longo se sua vida produtiva.
** Valor recebido pelo litro de leite (média Goiás) out/2013 – R$ 1,15
Simples conclusões:
1 - As novilhas da Fazenda 1, emprenhando aos 15 meses, vão parir aos 24 meses e iniciar sua vida produtiva 5 meses antes das suas contemporâneas da Fazenda 2;
2 – Procedendo assim, a Fazenda 1 retira com 5 meses de antecedência as suas novilhas do estoque de recria, passando-as ao estoque em lactação.
3 – Teremos, com as primíparas da Fazenda 1, antecipação de renda em relação a Fazenda 2, conforme o seguinte cálculo : - 5 meses X 20 litros X R$ 1,15 = R$ 3.450,00.
4 - Se mantivermos estes animais por 4 lactações, cada animal da fazenda 1 terá produzido 12.000 litros ou R$ 13.800,00 a mais se comparada com as fêmeas da fazenda 2.
5 - Suponha esta fazenda 1 com 100 novilhas e chegaremos a interessante cifra de R$ 1.380.000,00. Ou seja a fazenda 1 em 4 lactações de suas 100 vacas, haverá obtido de ingressos o valor acima a mais do que a fazenda 2.
Estes são exercícios matemáticos diários e necessários que fazem com que as fazendas, através de seus gestores, técnicos, assessores e colaboradores, tornem-se diferenciadas no cenário da eficiência produtiva e profissional.
MANEJO
Reflitamos um pouco agora sobre as mal tratadas bezerras recém-nascidas até que cheguem à primeira cobertura ou puberdade.
Sabe-se que a manifestação do primeiro cio fértil (com ovulação) em bovinos está intimamente ligado ao peso desta fêmea. Um crescimento adequado tem seus princípios nutricionais baseados em inúmeros trabalhos científicos demonstrativos e na prática vivenciada pelos profissionais que se dedicam ao tema no dia-a-dia das eficientes fazendas produtoras de leite, nos mais diversos rincões do nosso Brasil e no mundo.
Os ganhos diários esperados para que estas fêmeas leiteiras cheguem ao primeiro serviço, gestação e parto, devem acompanhar uma curva crescente e harmônica em todas as fases de crescimento.
Animais criados corretamente apresentam-se mais produtivos desde o primeiro parto. Esta tarefa, ou o setor de cria e recria da fazenda, necessita que seja incorporada verdadeiramente dentro do sistema produtivo, afim de obtermos novilhas que apresentem um desejável desenvolvimento a cada fase de sua vida.
Não é objetivo deste artigo discorrer sobre as mais diversas formas de como alimentar corretamente as suas bezerras e novilhas, mas sim de despertar a atenção do produtor no sentido de orientá-lo a dedicar muito esforço a estas fases, promovendo uma correta alimentação, possuindo instalações higiênicas e confortáveis, adotando um manejo sanitário rígido, e buscando funcionários bem treinados e dedicados ao bem criar destas jovens fêmeas.
O custo de criação em modelos corretos e adequados nos é dito como limitante ou que o mesmo incide sobremaneira no custo total da fazenda. Entretanto, ao observarmos a tabela já comentada acima, vemos que este custo (que na realidade é um investimento) é significativamente inferior ao potencial produtivo que estará sendo incrementado através do encurtamento do período de recria e pelo aumento do percentual de animais em lactação na fazenda, com novilhas entrando em produção vários meses antes do que aquelas que foram criadas deficientemente.
Aproveitando a “deixa” sobre estoque de animais, aquela fazenda que mantém baixas taxas de reprodução e baixa performance de ganhos diários na cria e recria, terá invariavelmente um alto percentual de animais improdutivos, inviabilizando ou onerando em demasia o custo total. Não esqueçam: - Quem paga a conta na fazenda são as vacas que estão em lactação. Portanto estas devem ser o maior lote possível na fazenda. Se algo estiver diferente na sua, acenda a luz amarela.
Se sua recria for deficiente, se a mortalidade de suas bezerras for alta, se emprenharem acima de 15/16 meses de idade, se a idade ao primeiro parto estiver acima de 24/25 meses, se as vacas estiverem com DEL alto e vazias, retenções placentárias importantes e hipocalcemias frequentes, você está na iminência de ter luz vermelha na fazenda. Pense nisso!
Há que considerar que os vários sistemas de criação, também possuem suas nuances financeiras e que as formas e regras de criação não são fixas ou imutáveis. Muitas vezes devemos acompanhar o bom senso e adaptarmo-nos a cada situação. Mas, por outro lado, o que nunca deve ser deixado no esquecimento é que o tempo de criação (idade ao primeiro serviço ou primeira prenhez) apresenta um enorme impacto no custos e produtividade individual e da fazenda.
Medir, pesar, avaliar, corrigir falhas. Como o seu assessor técnico gostaria de ter estes verbos sendo conjugados diariamente na sua e nas outras fazendas por ele assistidas... Acredite!
Como orientação para o acompanhamento do correto desenvolvimento ponderal de fêmeas leiteiras, valemo-nos de estudos e da vivência profissional para estabelecer alguns parâmetros médios que devem ser alcançados ou nortear os objetivos da cria e recria.
Traduzindo em números e para facilitar o cálculo dos pesos-meta para cobertura das novilhas, proceda assim:
1- Determine o peso médio das suas vacas adultas;
2- Calcule 50% deste peso médio, como objetivo de peso para as novilhas estarem aptas ao primeiro serviço aos 450 dias (15 meses);
3- Deste peso obtido, diminua o peso ao nascer da novilha;
4- O resultado obtido deve ser dividido por 450.
5- A resposta será os gramas médios diários que suas bezerras e novilhas deverão aumentar desde o nascimento até o dia de sua primeira inseminação ou cobertura;
Enquanto vamos preenchendo singelas planilhas nas propriedades mais vocacionadas, permitam-me deixar constante uma regra básica para aqueles que desejam evoluir em qualquer ramo de atividade: - Tudo o que você não mede, nunca terá como avaliar resultados e compará-los, tornando-se impossível corrigir rumos e erros. Mantenha este pensamento vivo na sua fazenda, sendo ela grande ou pequena, como um auxílio eficiente para o crescimento econômico da mesma e de seus colaboradores.
Por fim, ainda devemos considerar um item de extrema importância: - O simples fato de estarmos no topo da cadeia alimentar, de possuirmos inteligência e discernimento sobre nossas boas e más ações, estas mesmas vantagens nos impelem a um comprometimento máximo com os seres que nos servem e produzem alimentos para nossa sobrevivência. Assim, sobretudo, esquecendo a face monetária da atividade, devemos encarar o mistério de criar animais como um ato responsável, pois recebemos a vida de um ser sob nossos cuidados e, somente por este simples fato, devemos nos dedicar ao máximo para permitir a estes animais cativos que tenham uma vida digna e saudável.
Até uma próxima!