Em tempos de reduzidas margens de lucro na pecuária, a criação de bezerros torna-se cada vez mais uma questão econômica de grande relevância. Temos o compromisso de criar bem os bezerros e bezerras nascidos e reduzir, ao máximo, a mortalidade, já que aquele produto representa a reposição do rebanho.
Mais de 50% das causas de mortalidade em bezerros estão associadas a doenças gastrointestinais, sendo que a diarréia afeta cerca de 28% dos bezerros em aleitamento.
Você sabe identificar qual a causa da diarréia que acomete os bezerros de seu rebanho? Considerar a faixa etária do animal acometido é um dado prático que ajuda a identificar o agente causador, mas não soluciona um diagnóstico. Ao observar o aspecto das fezes, pode-se também obter outras informações que aproximam um pouco mais do diagnóstico do problema. Você já observou estrias de sangue nas fezes de um bezerro com diarréia? Você confunde Cryptosporidiose com Coccidiose? E a Eimeriose, está também relacionada a estas doenças? Em uma primeira instância, esses nomes parecem causar uma pequena confusão. De maneira geral, a coccidiose em bovinos é um problema que causa muitas dúvidas, podendo receber variados nomes de acordo com o agente causador. Por isso, este artigo tem o intuito de abordá-la de maneira simples e objetiva.
A coccidiose é uma doença causada por protozoários do grupo Coccidia. A Eimeria nada mais é que um gênero dentro deste grupo de protozoários. Entretanto, muitas vezes a doença causada pelas espécies de Eimeria (Eimeriose) é também chamada de Coccidiose.
O Cryptosporideo é também um gênero de protozoários do grupo Coccidia. E a doença causada por ele é chamada de Cryptosporidiose. Os sinais clínicos incluem diarréia, cólicas, anorexia, perda de peso, depressão e desidratação. A diarréia é abundante, aquosa e de cor amarela. A morbidade é alta, a mortalidade é pequena. Esta seção publicou, no ano passado, um artigo sobre este tema.
Eimeriose
A diarréia causada por este protozoário ocorre geralmente após 4 semanas de vida. Os bezerros podem ser infectados logo na primeira semana de vida, mas, devido ao período de incubação deste coccídeo, que é de aproximadamente 3 semanas, os sintomas da doença só poderão ser observados após 1 mês de vida.
Em bovinos, as duas principais espécies de Eimeria causadoras de diarréia são a Eimeria bovis e Eimeria zuernii., as infecções, no entanto, são mistas.
Assim, como na maioria das doenças causadoras de diarréia, a eimeriose é transmitida por via fecal-oral. O bezerro ingere os oocistos (ovos) da eimeria juntamente com alimento contaminado com fezes ou ao ingerir a palhada da cama. Uma vez ingerido, o oocisto se multiplica dentro das células do intestino causando lesões na parede intestinal. Tais lesões reduzem a capacidade de absorção de nutrientes, acentuando a redução de peso do animal. Os animais infectados eliminam oocistos pelas fezes, mantendo o ciclo da doença no rebanho.
A gravidade da doença é determinada pela quantidade ingerida de oocistos esporulados (incubados). Nos casos de diarréias mais brandas, os bezerros apresentam pouco ao até mesmo nenhum sangue nas fezes; no entanto, apresentam anorexia e apatia por vários dias.
Existem casos crônicos onde os bezerros apresentam pêlos arrepiados e opacos, orelhas caídas e olhos fundos. A recuperação é lenta, sendo que o crescimento dos bezerros é prejudicado.
Nas infecções agudas e casos mais graves, inicialmente ocorre diarréia com estrias de sangue, passando à diarréia líquida com sangue, muco, filamentos da mucosa intestinal e coágulos (chamado curso de sangue). O animal apresenta apatia, fraqueza e desidratação. Muitas vezes pode ocorrer uma infecção bacteriana secundária agravando o quadro e até mesmo podendo ocasionar problemas pulmonares.
Há ainda a possibilidade de ocorrer a coccidiose nervosa, na qual o animal acometido apresenta diarréia aguda, tremores, convulsões, cegueira e morte.
O diagnóstico é realizado através do histórico do rebanho em relação à qualidade do manejo e higiene das instalações, associado à observação dos sintomas do animal acometido, tais como o aspecto da diarréia e desidratação. Além disso, é possível pesquisar o número de oocistos nas fezes, sendo que o animal contaminado apresenta cerca de 200 a 300.000/ g de fezes. Nos casos de perda do animal acometido, o profissional que conheça o quadro clínico da enterite hemorrágica pode fazer uma necropsia para confirmar a suspeita. Um raspado da mucosa observado em microscópio irá apresentar as formas de evolução da eimeria (merontes, merozoítas, gametas e oocisto).
A recuperação do animal inicia 7 a 10 dias após o início dos sintomas. Após a remissão da infecção, a cor e a consistência das fezes melhoram rapidamente. Entretanto, pode demorar semanas até que o intestino retorne à sua atividade normal. A perda de peso, mesmo após o tratamento, pode ser evidente. Foi observado por pesquisadores que são necessárias 6 a 13 semanas para que o consumo de água e alimentos se normalize. E, geralmente, os sobreviventes não alcançam o crescimento dos animais sãos.
A desidratação e a falta de minerais causada pela perda de líquidos corporais é a principal razão que leva os bezerros à morte. Por isso, a hidratação e a reposição dos eletrólitos é sempre o principal meio de tratamento. A hidratação oral pode ser utilizada em animais com uma pequena desidratação; nos casos mais severos, é necessária a hidratação endovenosa. Um dos fatores de grande diferencial na hora do tratamento é a precocidade. Trate os animais o mais rápido possível! Quanto mais tempo for perdido, mais difícil e oneroso será o processo de recuperação. Mantenha a dieta do animal doente.
O tratamento da coccidiose é difícil, uma vez que as drogas utilizadas não conseguem acabar com o organismo causador e, ainda, porque os animais que permanecem no mesmo ambiente são continuamente reinfectados. Todavia, as sulfas têm sido tradicionalmente utilizadas. O amprólio é também utilizado para o controle e tratamento da doença em qualquer idade, devendo-se entretanto, atentar para o uso prolongado do mesmo, pois ele altera o metabolismo da tiamina.
Muitos aditivos nutricionais são efetivos para o controle da eimeriose. Dente eles os mais utilizados são a monensina, lasalocida e o decoquinato. É importante ressaltar que a lesão na parede intestinal ocorre anteriormente à ocorrência de diarréia. Logo, é importante oferecer aditivos para o controle da doença, isto é, antes que os sinais clínicos sejam evidentes.
Para controlar a eimeriose, evite a super população nas instalações; ela provoca estresse e maior exposição às fezes contaminadas. Limpeza é a palavra chave na prevenção da coccidiose. As instalações devem ser mantidas limpas e as camas devem ser trocadas com freqüência; reduzindo a exposição às fezes contaminadas.
Fonte:
BOWMAN, D..D. Georgis’ parasitology for Veterinarians. 7ed. Saunders: W.B. Company, 1999. 414p.
Onde saber mais:
Hoard’s Dairyman. v.140, n.16, p.611, 1995.
Bovine Practioner, 32:1, 39-42, 1998.
Veterinary Record, v.143, n.13, 366-367, 1998.