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Cana-de-açúcar para alto desempenho de animais em crescimento - parte 1

POR JOSÉ ROBERTO PERES

PRODUÇÃO DE LEITE

EM 18/05/2001

5 MIN DE LEITURA

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Atualizado em 20/10/2022

José Roberto Peres

Muito se fala sobre a utilização da cana-de-açúcar na nutrição de gado leiteiro. A "propaganda" normalmente feita é que a cana é um alimento barato, por permitir alta produção por unidade de área, sem a necessidade de processos de conservação caros como a ensilagem, já que está disponível exatamente na época do ano em que há falta de volumoso.

Ocorre, no entanto, que a cana tem uma grande limitação: seu baixíssimo teor protéico, que exige grande suplementação, especialmente quando se fala em animais leiteiros especializados. Em função disso, na prática, os resultados observados na criação de animais jovens em dietas a base de cana nem sempre apresentam o resultado esperado. Animais em desenvolvimento têm grande exigência protéica e isto nem sempre é corrigido nestas dietas. Por estes resultados, alguns criadores e técnicos simplesmente desprezam ou "abominam" a cana como volumoso.

Partindo destes fatos, alguns pesquisadores da Universidade Federal de Lavras se perguntaram: a cana-de-açúcar é um alimento viável para a recria de animais especializados em produção de leite?

Segundo o Prof. Dr. Marcos Neves Pereira, da UFLA, a literatura existente sobre a cana enfoca basicamente dietas para baixo desempenho animal (simplesmente cana com uréia), onde esta forrageira certamente tem seu lugar em grande parte dos rebanhos nacionais. Para tentar responder a pergunta anterior, ele desenvolveu uma linha de pesquisa, da qual serão apresentados alguns resultados bastante interessantes.

Neste sentido, Andrade e Pereira, 1999, realizaram um experimento comparando a cana com silagem de milho (SM), como forragem para novilhas holandesas. Foram utilizados 14 animais por tratamento (cana ou SM) na forma de um fatorial com dois níveis de proteína na dieta (alto - cerca de 17% e baixo - cerca de 13%). As novilhas foram alimentadas individualmente por 8 semanas com ração completa, cuja composição encontra-se na tabela 1.

Tabela 1: Composição das dietas (valores em % da matéria seca)

Tabela 1


Como pode ser observado na tabela, as dietas foram formuladas para conter a mesma porcentagem de fibra (FDN) oriunda de forragem (cana ou SM). Sendo assim, houve substituição total de fibra (FDN) e carboidratos não fibrosos (amido) de milho por fibra e carboidratos não fibrosos (sacarose) de cana. As fontes protéicas foram apenas o milho (glutenose) e o farelo de soja e foi mantida a mesma relação metionina/lisina nas dietas para não haver interação entre o efeito da forragem e da proteína.

Como o efeito da proteína não foi significativo e não houve interação forragem x proteína, apenas a comparação Cana x SM será discutida. A silagem de milho foi utilizada como par��metro ou "controle". Os resultados de desempenho, ajustados para a covariável medida antes do início dos tratamentos podem ser observados na tabela 2.

Tabela 2: Resultados de desempenho e mastigação

Tabela 2


O desempenho foi melhor com a silagem de milho; no entanto, o desempenho com a cana foi perfeitamente viável para o parto aos 24 meses de idade e mais de 550 kg de peso vivo. O maior ganho se refletiu tanto em peso como em perímetro torácico e o ganho em altura não foi alterado. Houve tendência de menor consumo de cana.

A mastigação reflete a qualidade da fibra. O tamanho das partículas medidas foi menor na cana que na SM, o que demonstra a facilidade de se processar a cana. Mesmo assim foi observada mais mastigação nas dietas com cana, provavelmente devido à baixa qualidade de sua fibra. Disso pode ser concluído que é de grande importância que a cana seja finamente moída pois como a fibra é de má qualidade, é bom que saia do trato digestivo o mais rápido possível, permitindo maior consumo. Em compensação, a sacarose da cana (medida como matéria orgânica não FDN, que na realidade engloba a proteína, os carboidratos não fibrosos e o extrato etéreo) é muito mais digerível que o amido do nosso milho duro, compensando a baixa digestibilidade da FDN. No final das contas, a digestibilidade da matéria orgânica da cana se igualou à do milho (tabela 3).

O consumo de matéria seca orgânica digerível (uma medida do consumo de energia) não foi estatisticamente diferente (5,3 kg/dia para a cana x 5,6 kg/dia para a SM). Apesar de não se detectar diferença estatística estes 300 gramas podem explicar o menor desempenho, por isso é importante maximizar consumo na cana (variedades e ponto de colheita no máximo de sacarose, moagem fina, etc..).

Tabela 3: Digestibilidade aparente das dietas (%)

Tabela 3


Baseados nestes dados, os autores concluíram que a cana é alternativa viável para a recria de animais holandeses. Eles chamam atenção para o fato de que o concentrado para balancear a cana precisa ter alto teor de proteína, além do fósforo, outra deficiência da cana, o que é caro. Para que se tenha uma idéia, os concentrados que proporcionaram estes resultados com a cana tinham 35,7% de proteína bruta (a um custo atual estimado em R$ 0,34/kg), na dieta com 13% de proteína e 46,2% de proteína bruta (custo estimado em R$ 0,42/kg), na dieta com 17% de proteína. Eles foram fornecidos em quantidades de até 3 kg/novilha/dia.

Estes valores mostram que a decisão sobre o uso da cana é muito mais agronômica do que financeira. Sendo assim, a cana seria indicada em situações em que a produção de silagem de milho é ineficiente (por qualquer motivo, impossível de ser corrigido); em áreas de difícil mecanização para a ensilagem; quando a área é limitante e a maximização do fator terra se torna primordial; em rebanhos em expansão (pode ser comprada de vizinhos); ou então para usos estratégicos em animais com menor exigência protéica como algumas fases da recria, vacas secas e vacas de menor produção.

Comentário do autor: é importante que se tenha consciência das deficiências da cana como volumoso. Ela pode ser um recurso viável, desde que corretamente corrigida. A questão do custo da correção, sempre deixada em segundo plano quando se discute esta forrageira, também deve ser avaliada. Seria interessante que se tivesse pesquisas deste gênero a mais longo prazo, pois os níveis de ganho observados são na realidade até elevados demais, podendo supercondicionar os animais, o que não é desejável nesta fase.

fonte: Andrade, M. A. F.; M. N. Pereira, 1999. Performance of Holstein Heifers on fresh sugarcane as the only dietary forage. J. D. Sci. 82 (Suppl. 1):91. Tese de Mestrado de Murilo A F de Andrade.

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