Renata de Oliveira Souza Dias
O botulismo é uma doença grave e bastante difundida no Brasil. Antigamente era uma doença associada a manejos rústicos com pastagens pobres e com baixa lotação animal/ha. Atualmente, entretanto, esta doença tem um perfil diferente e está também associada a rebanhos com animais precoces, pastagens produtivas e rebanhos confinados.
O Clostridium botulinum (tipos C e D) é o bacilo anaeróbio causador da doença. Pode ser encontrado na forma de esporo no solo, na água e no trato intestinal dos animais. As carcaças em decomposição apresentam condições favoráveis de anaerobiose para o desenvolvimento do Clostridium botulinum e para produção da toxina botulínica, devido à putrefação.
As fontes de contaminação mais comuns são:
-Osteofagia -ingestão de ossos das carcaças
-Feno e silagem estocados juntamente com ossos de pequenos animais (pássaros, gatos, etc.)
-Camas de frango de má qualidade
-Águas contaminadas
-Farinha de osso de má qualidade
-É possível ainda, contrair a doença através da infecção de um corte ou ferida
Nos estágios iniciais, a doença causa fraqueza muscular seguido de paralisia muscular, afetando inicialmente os quartos traseiros, e progredindo para os dianteiros, cabeça e pescoço.Os músculos da língua e do queixo são freqüentemente afetados.
Os movimentos tornam-se duros, o animal apresenta dificuldade em levantar. Não há presença de febre e o animal mantém a consciência e a sensibilidade. A morte ocorre quando há paralisia respiratória.
Para diagnóstico de campo, é necessário uma boa anamenese e a ausência de distúrbios na necropsia (animais com botulismo não apresentam lesões características). Para diagnóstico laboratorial deve-se enviar o conteúdo gastrointestinal (conteúdo rumenal e um pedaço do intestino delgado com conteúdo), fragmento de fígado e soro sangüíneo.
Manejos preventivos incluem a vacinação dos animais, eliminação de carcaças das pastagens, mineralização adequada e atenção para a qualidade dos alimentos fornecidos aos animais.
O Dr. Robert Whitlock, da Universidade da Pennsylvania - USA, falou sobre o botulismo num recente encontro de veterinários. Ele reportou que a incidência da doença tem aumentado paralelamente à prática de preservação de forragens em grandes rolos individuais, selados por filmes plásticos.
Na natureza, os germes que produzem a toxina não se multiplicam, a menos que o oxigênio esteja limitado e o pH esteja acima de 4,5. Estas duas condições ocorrem quando silagens não fermentam corretamente. Silagens de capim, ensiladas em rolos encapados individualmente, tem sido associadas a vários surtos de botulismo em bovinos.
Na maioria dos casos, vários animais são afetados. As vacas podem babar e mastigar o alimento por longos períodos por não conseguirem engolir. Elas ficam deprimidas e também desidratadas por não conseguirem beber água normalmente. Em alguns aspectos, lembram vacas com febre do leite e podem melhorar com cálcio, mas não serão curadas por ele. Os fazendeiros e seus funcionários devem lembrar que estes mesmos sinais ocorrem em casos de raiva. Sempre usem luvas protetoras ao trabalhar perto da cabeça de um animal com estes sintomas.
O curso da doença é drasticamente afetado pela quantidade de toxina consumida. Isto, por sua vez, está relacionado ao nível de toxina presente no alimento e quanto desse alimento o animal consumiu. Infelizmente, nada disso será sabido no momento que os primeiros sinais aparecerem. Se altos níveis de toxina foram ingeridos, as vacas deverão cair em termos de horas, e morrer logo após. Com baixos níveis, pode levar cerca de 4 dias antes que elas caiam, e a morte ocorrerá dentro de alguns dias.
A conecção do botulismo aos fardos de silagem é provavelmente devido ao volume relativamente pequeno de material em cada fardo encapado. Se a umidade não for correta, a fermentação não fará com que o pH caia abaixo de 4,5. Neste caso, há chances de crescimento e produção de altos níveis da toxina mortal do botulismo.
Quando grandes volumes de material são ensilados, a compactação e as condições para fermentação normalmente são melhores. Rasgos no plástico também podem produzir condições favoráveis para a produção da toxina.
O botulismo também tem sido associado a carcaças de animais mortos contaminando os alimentos. Muitos se recordam de um surto num rebanho na Califórnia que causou a morte de 420 vacas adultas após a ração completa ter sido contaminada com um gato morto. Este caso não é regra. Na maioria dos casos, forragens mal fermentadas são causa muito mais freqüente deste tipo de morte.
Embora não se saiba com certeza, admite-se que o leite e a carne de animais sofrendo de botulismo seriam contaminados também e, portanto, não devem ser usados para consumo humano.
Para evitar que o alimento conservado em rolos possa vir a ser uma fonte de contaminação de botulismo faça a silagem no ponto ideal de umidade, "empacote" bem compactada e cubra cuidadosamente. A maior incidência da doença tem sido associada com silagens de gramíneas armazenadas em fardos individuais. Monitore o nível do pH para prevenir a doença; pH acima de 4,5 são o limite para evitar a possibilidade de formação da toxina. Como dica final, se você observar os sinais clínicos mencionados acima, chame o veterinário imediatamente. Isto é particularmente importante se mais de um animal for afetado.
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fonte: MilkPoint