Diversos estudos têm sido realizados testando a aplicação de várias doses de concentrado para sistemas de produção de leite em pastagens tropicais (podemos citar estudos de Vilela, 1980; Alvim, 1997; Aroeira, 1999 e Teixeira , 1999). Nestes estudos as doses variaram de 1 a 11 kg de concentrado, com produções da ordem de 8,3 a 30,6 kg de leite/vaca/dia.
A utilização correta de concentrado é um instrumento potente para aumentar a produtividade do sistema, devido ao impacto na produção individual da vaca e ao aumento na lotação da pastagem e, consequentemente, aumento na produção de leite por área.
Quanto aos benefícios do uso do concentrado, podemos dizer que há efeitos de longo e de curto prazo. Os efeitos de curto prazo são: aumento no consumo de matéria seca (MS) total, diminuição no consumo de MS de forragens (efeito de substituição), aumento na produção individual de leite e aumento no peso vivo. Já os efeitos de longo prazo são: aumento na taxa de lotação das pastagens, aumento na fertilidade, aumento no consumo de MS por área, aumento no tempo de duração da lactação e aumento na produção de leite por área.
Em síntese, a curto e longo prazo, a suplementação com concentrado promove aumento na produção de leite individual e por área e melhoria nos índices de fertilidade do rebanho.
Em 2003, Santos e colaboradores revisaram diversos trabalhos de pesquisa sobre suplementação com concentrado para vacas mantidas em pastagens tropicais. Os dados desta revisão mostraram produção média de leite de 13,80 kg/vaca/dia com o fornecimento de 3,45 kg de MS de concentrado ao dia, e ainda consumo de 9,83 kg de MS de forragens e consumo total de 13,28 kg de MS/dia. Quando se considerou apenas os trabalhos com produção de leite acima de 20 kg por vaca/dia, a produção média de leite foi de 22,78 kg/vaca/dia com o fornecimento de 6,45 kg de MS de concentrado ao dia. O consumo de MS de pasto foi de 11,70 kg e o consumo total foi de 18,15 kg de MS/dia.
A viabilidade econômica da utilização da suplementação tem sido muito questionada e este questionamento tem sido baseado em trabalhos de curta duração, nos quais as respostas em kg de leite extra por kg de concentrado têm normalmente sido baixas. Respostas de apenas de 0,5 a 1,0 kg de leite por kg de concentrado fornecido foram reportadas por diversos autores (como Valle, 1987; Alvim, 1996 e Vilela, 1996). Entretanto, ao se comparar os dados médios de todos os experimentos revisados por Santos em 2003 com vacas sem e com suplementação, compilados na Tabela 1, pode-se inferir que as respostas ao concentrado foram superiores a 1,3 kg de leite por kg de concentrado fornecido.
Tabela 1. Comparação entre produção e composição de leite de vacas mantidas em pastagens de clima tropical recebendo ou não suplementação com concentrado.
As respostas da suplementação com concentrado em sistemas de produção de leite, no Brasil, têm sido prejudicadas por diversos fatores. Alguns dos mais importantes são:
a) tentativa de compensar via concentrado a falta de forragem tanto quantitativa quanto qualitativamente.
b) o uso de vacas não-especializadas para a produção de leite, com baixo potencial de resposta.
c) diversas falhas no manejo dos animais.
Vale ressaltar que as respostas da suplementação são maiores em pastagens tropicais comparativamente a pastagens de clima temperado, devido principalmente ao menor valor nutritivo e menor efeito de substituição em pastagens tropicais. Portanto, no momento de se decidir em fornecer ou não concentrado, técnicos e produtores deverão considerar não apenas o aumento na produção individual de leite, e sim todos os benefícios de longo prazo já mencionados, principalmente o aumento de produção por área devido a elevação na taxa de lotação causada pelo efeito de substituição.
No próximo artigo iremos definir e tentar quantificar o efeito de substituição nesse tipo de sistema de produção.
Referências:
ALVIM, M. J. et al. Efeitos de dois níveis de concentrado sobre a produção de leite de vacas da raça Holandesa em pastagem de "Coast-Cross". In: REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 33., 1996, Fortaleza. Anais... Fortaleza: [s.n.], 1996. p. 12-173.
AROEIRA, L. J. M. et al. A Pasture availability and dry matter intake of lactating crossbred cows grazing elephantgrass (Pennisetum purpureum Schum). Animal Feed Science and Technology, v. 78, p. 313-324, 1999.
SANTOS, F. A. P.; MARTINEZ, J. C. ; VOLTOLINI, T. V. ; NUSSIO, C. M. B. Utilização da suplementação com concentrado para vacas em lactação mantidas em pastagens tropicais. In:. V SIMPOSIO GOIANO SOBRE MANEJO E NUTRIÇÃO DE BOVINOS DE CORTE E LEITE, 5., 2003, Campinas. Anais... Campinas: Art Point Produções Gráficas, 2003. p. 289-346.
SANTOS, F. A. P ; PENATI, M.A. ; CARARETO, R. ; DANÉS, M. A.C. . Produção de leite com base em pastagens. In: DOS SANTOS GT ; Uhlig, L. ; BRANCO, Antônio Ferrriani ; JOBIM, Cloves Cabreira ; DAMASCENO, Júlio Cesar ; CECATO, Ulysses. (Org.). Bovinocultura de Leite Inovação tecnológica: inovação tecnológica e sustentabilidade. 1 ed. Maringá: EDUEM, 2008, v. 1, p. 153-178.
TEIXEIRA, E. I. et al. Avaliação da produção e utilização de uma pastagem de capim-tobiatã (Panicum maximum cv. Tobiatã) sob pastejo rotacionado. Scientia Agrícola, Piracicaba, v. 56, n. 2, p. 349-355, 1999.
VILELA, D. et al. Efeito da suplementação concentrada sobre o consumo de nutrientes e a produção de leite, por vacas em pastagem de capim-gordura (Melinis minutiflora). Rev. Soc. Bras. Zootec., v .9, n. 2,1980.
VALLE, L. C. S. et al. Níveis de concentrado para vacas em lactação em pastagem de capim-elefante (Pennisetum purp ureum, Schum) no período das águas. In: REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 24., l987, Brasília. Anais... Brasília: Sociedade Brasileira de Zootecnia, 1987. p.56.