Na ultima década, com o crescente uso da inseminação artificial a tricomonose tornou-se uma doença cada vez menos enfatizada na pecuária de leite. Entretanto, não se pode esquecer que muitos rebanhos, que utilizam a inseminação artificial, possuem ainda um touro para repasse das fêmeas repetidoras de cio, e que também existem rebanhos que compram tourinhos de fazendas produtoras de genética e os utilizam como reprodutores do rebanho. Rebanhos tais como os citados anteriormente, não podem negligenciar o controle desta importante doença que compromete sobremaneira os índices reprodutivos e a lucratividade do rebanho.
A tricomonose bovina está presente em muitas propriedades com problemas de infertilidade. É uma doença venérea causada pelo protozoário Tritrichomonas foetus (figura 1). As perdas causadas pela doença envolvem morte embrionária, infertilidade temporária e aumento do intervalo entre partos. Além disso, podem também ocorrer perdas decorrentes de aborto e piometra, causando um profundo impacto na lucratividade. A tricomonose é uma doença que afeta rebanhos em todo o mundo. A execução de um programa para o controle e prevenção da tricomonose requer o conhecimento da patogenia, dos sinais clínicos e dos métodos de diagnóstico da doença.
A tricomonose pode ser transmitida do touro infectado para a vaca susceptível ou da vaca infectada para o touro susceptível durante a cobertura. Nos machos a T. Faetus é encontrada no pênis e na membrana prepucial, na maioria das vezes o touro infectado não apresenta sintomas. Touros mais velhos infectados tornam-se portadores permanentes. Trabalhos de pesquisa já comprovaram que é possível encontrar touros novos, que realizaram poucas coberturas, já com cultura positiva para o T. Faetus.
Na fêmea o T. Faetus coloniza a vagina, o útero e o oviduto, mas o protozoário não impede a concepção. Cerca de 2 a 5% das vacas infectadas apresentam piometra ou uma infecção crônica no útero. A resposta inflamatória do útero ao organismo invasor ocorre dentro de 6 a 8 semanas e muitas vezes é responsável pela morte embrionária. As vacas infectadas mantêm o parasita durante muitos ciclos após a infecção ou após a perda da gestação. Em média, as vacas permanecem infectadas durante 6 meses. Todavia, esta é uma doença autolimitante, sendo o T. Faetus eliminado do trato reprodutivo após alguns meses devido a uma resposta imune específica induzida pela infecção. No entanto, esta imunidade não é permanente, estando a vaca susceptível a uma nova infecção na próxima lactação. Existem ainda vacas portadoras permanentes, nas quais ocorre aparentemente uma falha no mecanismo imune; estes animais continuam infectados durante toda a gestação e no período após o parto, mantendo assim a doença no rebanho.
Estratégias de manejo que procuram manter as vacas infectadas em repouso sexual não são suficientes para controlar a doença. As vacas portadoras permanentes representam um entrave no controle da doença, e explicam, em parte, o fato da permanência da doença no rebanho quando todas as medidas de controle são concentradas na eliminação dos touros portadores. Vacas infectadas podem apresentar vaginite e endometrite com descarga mucopurulenta; todavia, o sinal mais comum decorrente da tricomonose é a perda embrionária.
Como nenhum sinal clínico consistente e determinante pode ser observado nos touros e nas vacas infectadas, os veterinários devem sempre recorrer aos exames laboratoriais. Nas vacas infectadas a secreção uterina contém o T. Faetus; amostras do muco cervical devem ser enviadas para cultura. Nos touros o parasita localiza-se no fluido prepucial.(veja na figura 2 como deve ser retirada uma amostra do fluido). A confiabilidade dos exames irá depender da adequada coleta e envio do material.
Para evitar um resultado falso-negativo, os touros devem permanecer em repouso sexual durante uma semana antes da coleta da amostra. Além disso, é necessário a realização de três testes negativos para confirmar que o touro não está infectado com o T. Faetus.
Medidas práticas de controle:
- Substitua touros velhos por touros novos e mantenha a média de idade dos touros a menor possível;
- Faça exames laboratoriais de todos os touros que iniciem a cobertura, independente da idade;
- Se possível, utilize apenas inseminação artificial;
- Controle as demais doenças associadas à reprodução, tais como a Leptospirose, BVD, IBR e Campilobacter.