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Algumas considerações sobre a velha cana com uréia

PRODUÇÃO DE LEITE

EM 01/06/2004

4 MIN DE LEITURA

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Por Marcos Neves Pereira1 e Edgar Alain Collao-Saenz2

A cana-de-açúcar se caracteriza por ser uma forrageira com elevada capacidade de produção de matéria seca e carboidratos de rápida degradabilidade ruminal por unidade de área. O consumo de cana é normalmente inferior ao de outras gramíneas com o mesmo teor de FDN. A baixa porcentagem de proteína e a baixa digestibilidade da fibra inviabilizam a utilização da cana-de-açúcar como ingrediente dietético único.

A suplementação da cana apenas com uréia tem sido preconizada como tecnologia simples e aplicável a boa parte das fazendas brasileiras. A recomendação da cana com uréia é muitas vezes encarada como pacote tecnológico e, como tal, não sofre discussões nutricionais mais profundas. Entretanto, é interessante compreender os conceitos nutricionais implícitos a uma dieta exclusiva de cana com uréia. Neste tipo de dieta a uréia, uma fonte de nitrogênio não-protéico 100% degradável no rúmen, suplementa uma forragem pobre em nitrogênio, em lípides e em minerais, com teor de FDN em torno de 50%, baixo para forrageiras tropicais mas sendo este de baixa digestibilidade, e com alto teor de carboidratos não-fibrosos de alta digestibilidade no rúmen, o mais predominante sendo a sacarose, um dissacarídeo composto por frutose e glicose.

Uma maneira elegante de avaliar a suplementação da cana com uréia foi desenvolvida pelo CNPGL/EMBRAPA em conjunto com a Universidade de Wageningen na Holanda. Neste caso foi desenvolvido um modelo dinâmico e mecanístico da digestão capaz de prever a absorção de nutrientes em bovinos alimentados com dietas à base de cana-de-açúcar (Journal of Agricultural Science, 1996, v.127, p.231). Modelos matemáticos baseados em princípios bioquímicos têm utilidade como preditores de combinações alimentares com potencial para melhorar o desempenho animal de maneira rápida e barata.

A Tabela 1 mostra o resultado de simulações de dietas à base de cana e uréia conduzidas com o modelo acima citado. Simulamos a resposta de novilhas de 200 kg de peso vivo à inclusão de uréia à dieta em teores dietéticos variando de zero a 1 kg de uréia para cada 100 kg de cana in natura. Baseado nestas simulações nada se ganha em animais de 200 kg de peso vivo quando a suplementação de uréia excede 50 gramas/dia, equivalente a 300 gramas de uréia para cada 100 kg de cana-de-açúcar fresca. Normas nutricionais para gado leiteiro normalmente recomendam teores dietéticos máximos de uréia ao redor de 1% da matéria seca, exatamente o obtido nesta inclusão. A suplementação de uréia no teor de 1% da cana fresca, equivalente a 3,33% de uréia na matéria seca dietética, mostrou ser teoricamente injustificável.

Semelhantemente ao observado com animais de 200 kg, a resposta de animais de 300 kg à suplementação com uréia em quantidade diária superior a 50 gramas também mostrou não ser justificável (Tabela 2). Em suplementações superiores a estas não ocorre ganho no fluxo de nutrientes absorvidos e disponíveis para o organismo animal.

Outras simulações utilizando o mesmo modelo mostraram a necessidade de suplementar prioritariamente a mistura cana e uréia com fontes de proteína verdadeira, já que o nutriente mais limitante nessas dietas são os aminoácidos. Baseado neste modelo matemático, uma dieta constituída exclusivamente por cana e 1% de uréia na matéria natural forneceria nutrientes suficientes para a síntese de no máximo 4 kg de leite/dia em uma vaca de 470 kg de peso vivo e consumindo 10 kg de matéria seca. Entretanto, níveis muito superiores de produção podem ser obtidos em dietas à base de cana-de-açúcar, já que respostas produtivas ao redor de 30 kg de leite/vaca/dia foram observados experimentalmente em vacas Holandesas alimentadas com dietas à base de cana-de-açúcar e concentrados (Scientia Agricola, 2003, v.60, p.621). A suplementação da cana-de-açúcar com alimentos concentrados tem sido prática rotineira em nosso país, já que normalmente o ganho em desempenho animal à suplementação normalmente tem uma boa relação entre o benefício e o custo. Nestes casos a inclusão dietética de uréia passa a ser definida pelo seu custo de nitrogênio degradável no rúmen proporcionalmente ao custo deste nutriente em outros alimentos protéicos.

Nutricionalmente poderia ser argumentado que como a sacarose tem alta velocidade de degradação no rúmen, uma fonte de nitrogênio de rápida degradabilidade ruminal, como a uréia, poderia ser vantajosa para manter maior sincronismo entre a digestão de carboidratos e proteína no rúmen. No entanto esta hipótese nunca foi testada. Na verdade, em dietas isoprotéicas onde o nitrogênio oriundo de uréia foi totalmente substituído por nitrogênio proveniente de farelo de soja ocorreu aumento no consumo de matéria seca e redução no déficit energético de vacas não gestantes e não lactantes quando a soja foi incluída (Sucupira, 1998, Tese de mestrado, USP/ESALQ). Por simulação matemática da fermentação ruminal também parece não ser necessária a inclusão de uréia em dietas à base de cana suplementadas com farelo de soja. Em dietas à base de cana e para alto desempenho de vacas em lactação a utilização de uréia deve ser baseada em custo. O limite máximo de inclusão estaria em torno de 1% da matéria seca, aproximadamente 200 a 250 gramas/vaca/dia. O principal limitante de inclusões mais altas seria a baixa palatabilidade deste alimento.

Tabela 1. Estimativa de fluxo duodenal e nutrientes absorvidos no intestino com diferentes suplementações de uréia em novilhas de 200 kg de peso vivo. Assume um consumo diário de matéria seca de 5 kg e uma cana contendo 30% de MS.


Tabela 2. Estimativa de fluxo duodenal e nutrientes absorvidos no intestino com diferentes suplementações de uréia em novilhas de 300 kg de peso vivo. Assume um consumo diário de matéria seca de 7 kg e uma cana contendo 30% de MS.



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1 Prof. da Universidade Federal de Lavras (UFLA)
2 Doutor em Nutrição Animal pela Universidade Federal de Lavras

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EDUARDO CÔRTES

CARATINGA - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 04/12/2004

Muito interessante o artigo;. Se entendi bem, não haveria benefício em amis de 200-250 g de uréia/vaca/dia?
Outra coisa: na prática, a uréia deveria ser adicionada diretamente na cana, ou poderia ser adicionada somente no concentrado, e este misturado à cana? E se possível adicionar somente no concentrado, seria para atingir as 200-250g/dia?

<b>Resposta do autor:</b>

O limite máximo de uréia é em torno de 1% da matéria seca da dieta, por questões de palatabilidade.

Coincidentemente, este limite é próximo ao máximo para utilização eficiente da amônia no rúmen, algo em torno de 200 gramas/dia em vacas com 20 kg de consumo de MS. Não faz diferença se mistura a uréia à cana ou se a mistura a um concentrado que depois será misturado à cana. Se o concentrado com uréia for fornecido puro na sala de ordenha, por exemplo, não passaria a uréia de 2,5% do concentrado, também por motivos de palatabilidade. Poderia chegar a 3% do concentrado fornecido separadamente à forragem, em vacas já adaptadas ao péssimo paladar da uréia. Avalie, com ingredientes de boa palatabilidade e animais com o paladar previamente adaptado a inclusão permitida poderia ser mais alta. Formule a avalie o consumo.

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