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Adaptação do CNCPS às condições tropicais

PRODUÇÃO DE LEITE

EM 27/12/2004

9 MIN DE LEITURA

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Por Sergio Raposo de Medeiros1

Entre os últimos dias 13 e 16 de dezembro, foi realizado em Juiz de Fora, pela Embrapa Gado de Leite e co-realizadoras, o II Workshop sobre adaptação do modelo "Cornell Net Carbohydrate and Protein Systems", conhecido como modelo de Cornell ou CNCPS. O CNCPS é um modelo matemático, transformado em programa de computador, que estima exigências para bovinos, simula o desempenho e permite uma avaliação detalhada das dietas formuladas. Ele tem sido usado como base para os recentes manuais de nutrição para gado de corte e leite editados pelo National Research Council dos EUA, que são bastante utilizados por nutricionistas brasileiros, conhecidos como o NRC Gado de Corte (2000) e NRC Gado de Leite (2001), e, portanto, teve, a exemplo do I Workshop, grande procura por nutricionistas. Nos dois primeiros dias do encontro foi mostrada a base do sistema e feito um treinamento de uso do programa. Nos outros dois dias, foram apresentadas palestras com temas que foram escolhidos como prioritários na mesa redonda feita ao final do I Workshop, em 2003. Destacamos aqui as 3 palestras sobre nutrição animal. A primeira palestra foi do Dr. Luis Orlindo Tedeschi, brasileiro radicado nos EUA, um dos principais desenvolvedores do CNCPS. Em sua palestra, o Dr. Tedeschi apresentou aspectos relacionados ao fracionamento da fração carboidrato. Um aspecto aparentemente banal foi bastante frisado: a questão da definição precisa de abreviaturas. Um dos problemas comuns é o uso de CHOs não fibrosos (CNF) como sinônimo de CHOs não estruturais (CNE). A proposta do CNCPS é considerar o CNF como um valor obtido por diferença, conforme a equação 1, abaixo.

CNF = 100 - (PB + FDN + EE + MM)

Onde: PB = Proteína Bruta; FDN = Fibra detergente Neutro; EE=extrato etéreo; MM=Matéria Mineral

Já o CNE seria o valor de açúcares medidos através de análises poderia ser representada como abaixo:

CNE = incluiria açúcares + ácidos orgânicos + amido + pectina.

A inclusão da pectina causa certa estranheza, uma vez que ela, apesar de ter características de CNE, de fato, é um carboidrato estrutural. A justificativa para sua inclusão seria que, além das suas características, seria uma fração passível de análise que a individualizaria. Com relação aos açúcares, ele antecipou que a próxima versão fará subdivisões para acomodar os diferentes pools que podem ser usados pelos microrganismos do rúmen para seu crescimento. A situação atual (versão 5.0) e da próxima (6.0) quanto a isto pode ser conferida no Quadro 1, abaixo.



A principal diferença está na fração A, que será subdividida em quatro. A principal razão desta subdivisão seria separar as frações que contribuem para o crescimento microbiano (A2 e A4), daquelas que não contribuem (A1 e A3). Apesar de ser importante, do ponto de vista científico, esta subdivisão acrescenta ainda mais complexidade ao modelo, uma das críticas para seu uso como ferramenta rotineira na exploração animal. No caso da fração B, ela seria subdividida para separar o amido da pectina, pois eles têm padrões de fermentação diferentes. Na versão 6, o FDN disponível passa a ser Fração B3.

Outra fração de grande importância para ruminantes é a fração fibrosa, especialmente porque há um requerimento mínimo de FDN para o correto funcionamento ruminal, com valores entre 22-27% de FDN. Existe no CNCPS uma outra variável ligada a FDN, que é a FDN efetiva (FDNe) que inclui, além da efetividade física, relacionada à quantidade de minutos por kg de FDN, outros aspectos do alimento, como quantidade de carboidratos e proteínas solúveis, poder tamponante e teor de gordura. A FDN fisicamente efetiva (FDNfe) é determinada apenas pela parte física. Ela seria responsável por 40-70% da FDNe. Por causa disso, e por ser uma determinação mais simples, Tedeschi defende que ela deva ser a fração prioritariamente definida. Entretanto, como o padrão (100% de FDNe = 150 minutos de mastigação/kg de FDN) foi obtido em condições diferentes das nossas, nos debates com os presentes, foi sugerida a criação de um padrão brasileiro a partir de medida em forragem de baixa qualidade típica, baseado no qual valores para outros volumosos brasileiros seriam estabelecidos. O fato da mastigação ser influenciada não só pela quantidade de FDN, mas sua composição e o arranjo estrutural das fibras, bem como o reconhecimento que forrageiras tropicais tem estruturas que lhes dão resistência extra (i.e. Estrutura Girder em Braquiárias), deixam claro que deverá ser difícil não ter que fazer ajustes. Outra discussão a respeito do FDNfe é se ele seria, de fato, independente do animal como advogado por seu criador, o Dr. David Mertens.

Um dado interessante é que há a indicação que, para manter constante a gordura do leite, a FDNfe deve ser de, no mínimo, 30 minutos de mastigação/kg FDN. A capacidade de manter a gordura do leite constante é definida como a "efetividade" da fibra.

No presente modelo, o valor de FDNfe determina o valor de pH ruminal, mas, na versão 6.0, está se preparando um modelo de produção de ácidos graxos voláteis que permitirá a estimativa de pH a cada minuto, possibilitando o cálculo do tempo em que o pH tenha ficado inferior a 6,2, quando a degradação da fibra é prejudicada. Na verdade, o principal aspecto deste modelo de estimativa de produção de ácidos graxos voláteis é que ele será contabilizado para energia de produção, pretendendo-se, finalmente, substituir o sistema de energia líquida.

A palestra sobre determinação e fracionamento de proteína ficou a cargo do Dr. Charles Schwab, da Universidade de New Hampshire. O Dr. Schwab foi um dos membros do comitê que fez o último NRC para gado de leite. Ele lamentou que, após tantos avanços no fracionamento da proteína, ainda hoje sejam formuladas dietas baseadas apenas em proteína bruta e acrescentou que isso só é possível pois as dietas teriam todas as proteínas em excesso. Assim, tem-se quantidades de todas as frações sobrando, o que garante o desempenho esperado ou tolerado. O que existe, portanto, é uma grande oportunidade para reduzir a quantidade de proteína e usá-la de modo mais eficiente, especialmente porque proteína em excesso pode prejudicar a produção de carne e leite, por conta do custo energético para o animal se livrar dela, conhecido como "custo uréia´. Ele justificou o fato do NRC Gado de Leite ter usado dados obtidos pela técnica de degradação in situ com o uso de sacolas de nylon suspensas no rúmen para determinação da proteína degradável no rúmen (PDR) e a proteína não degradável no rúmen (PNDR), em função do grande volume de dados disponíveis com esta técnica.

Explica, também, o fracionamento da proteína neste manual não ser igual ao do CNCPS, pois considera apenas 3 frações que o método in situ é capaz de fracionar. Ainda assim, foram usados apenas 16% dos dados disponíveis para que apenas o explicitamente corrigido para contaminação bacteriana ou aqueles com que se pudesse inferir isso fossem utilizados: a fração A, que escapa do saquinho, a fração B, potencialmente degradável e a fração C, indegradável (48h de incubação para concentrados, 72h para forragens). A PDR é calculada como toda a fração A, mais o que for degradado da fração B, em função de uma competição entre a taxa de degradação versus a taxa de passagem. A PNDR, também conhecida como proteína "by pass", por sua vez, seria o total de proteína menos a PDR.

Os dados de taxa de degradação usado pelo CNCPS foram obtidos por métodos de incubação in vitro. Em ambos os casos o Dr. Schwab comentou que, para aumentar o poder preditivo dos modelos, as taxas de degradação da fração e a quantidade das frações dos alimentos devem ser reavaliadas. Sugere, ainda, que valores reais determinados, quando disponíveis, devem ser preferidos aos valores padrão das tabelas. Esses valores são importantes para a determinação da fração da proteína expressa como Nitrogênio não amoniacal e não microbiano (NNANM), que vem a ser a soma da proteína "by pass" e da proteína endógena (proteína não alimentar, por exemplo, proveniente da descamação de epitélio). Uma investigação com dados de um grande número de trabalhos foi feita e mostrou que o modelo tem uma boa predição de NMANM para a média do conjunto de trabalhos, mas ainda com variabilidade muito alta quando se consideram os estudos individualmente. Neste estudo indentificou-se que o CNCPS estaria subestimando a NNANM em resposta a ingestão de matéria seca (IMS), com desvio mais pronunciado com valores de IMS maiores que 3-3,5% PV. Isto estaria ocorrendo por valores de taxa de passagem subestimados e porque o CNCPS não considera a proteína endógena.

Por fim, segundo o Dr. Schwab, a obtenção de melhores dados de digestibilidade intestinal da PDR seriam tão importantes quanto melhores dados de PNDR.

A última palestra foi do Dr. Glen Broderick, sobre determinação de proteína microbiana. Ele mostrou resultados de vários trabalhos, sempre com vacas de leite de alta produção, e alguns dos principais comentários sobre eles são transcritos a seguir. No primeiro deles, em um experimento com níveis decrescentes de PDR, as medidas pelo método de purinas totais deram a resposta errada e o método que usa NH315 (N radioativo) deu a resposta certa, pois apenas com este segundo método obteve-se aumento de PNDR com a redução do teor de PDR na dieta. Neste trabalho, mesmo para o nível mais alto de PDR (12% da MS), detectou-se aumento no aporte de proteína chegando ao intestino, mostrando que a máxima produção microbiana não havia sido alcançada. O máximo teor de proteína no leite, entretanto, ocorreu quando a PDR representava 11,4% da MS. Em outro trabalho em que substituiu-se alfafa por quantidades crescentes de silagem de milho, houve redução na IMS e na produção de leite juntamente com a redução na concentração de amônia ruminal e da produção de proteína microbiana (cuja eficiência de produção permaneceu constante). A PNDR permaneceu constante. Valores inferiores a 5 mg NH3/dl, como na dieta com a máxima substituição da alfafa por silagem, indica, não apenas pouca disponibilidade de N para as bactérias se desenvolverem, mas que outros fatores de crescimento, como peptídeos e aminoácidos, podem ter feito falta para o crescimento microbiano. Comparando dietas suplementadas com diferentes fontes de proteína, mostrou que o controle, que só tinha uréia e sem nenhum suplemento, resultou em menor IMS, menor produção de leite e que o farelo de algodão, apesar de ter menor PDR que o farelo de soja e o farelo de canola, tinha quantidades adequadas de PDR para crescimento microbiano, provavelmente levando a desempenho inferior por causa de deficiência específica de um aminoácido, a lisina. O Dr. Broderick frisou ao final alguns pontos:

1) A técnica de amostragem omasal é efetiva para medir a quantidade de proteína deixando o rúmen.
2) O NRC (2001) subestima a proteína microbiana e prediz valores ainda muito variáveis de PNDR.
3) O método de purinas totais é pior do que o método do N15.
4) A quantidade da PDR depende da quantidade de CNE da dieta.
5) O aumento de PDR, aumenta a eficiência de produção de proteína microbiana, mas pode reduzir a eficiência do uso de nitrogênio como um todo.

Além dessas palestras, houve uma outra sobre "Ciclos de Nutriente em Fazendas Leiteiras", apresentada pelo Dr. Mark Powell, do Departamento de Agricultura americano, na qual abordou, particularmente, estudos com manejo de esterco e o ciclo do nitrogênio (N). Em um dos seus slides, mostrou a proporção do N reciclado através do seu uso como fertilizante orgânico de culturas agrícolas, conforme o Quadro 2, abaixo:



Por fim, foi o Dr. Schwab apresentou o Consórcio de Análises de Alimentos para Ruminantes, cujo sítio na Internet é www.ruminantfeeds.org, uma parceria muito interessante entre a iniciativa privada e as instituições de pesquisa americanas que visa padronizar as análises e criar um banco de dados com valores nutricionais de alimentos. Essa apresentação foi ainda mais importante, no contexto de que foi proposta a criação da Rede Brasileira de Laboratórios, com o mesmo objetivo. Esse é um assunto que vale a pena um texto exclusivo que, espero, em compartilhemos com os leitores do BeefPoint e do MilkPoint.


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1Sérgio Raposo de Medeiros é pesquisador da Embrapa Gado de Corte

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