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A cana-de-açúcar mais adequada para bovinos - parte II

POR MARCOS NEVES PEREIRA

PRODUÇÃO DE LEITE

EM 16/12/2005

5 MIN DE LEITURA

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Qual o potencial de seleção para digestibilidade em uma população de cultivares industriais de cana? Neste trabalho (Teixeira, 2004) avaliamos a existência de variabilidade nas características nutricionais em uma população de canas industriais e procuramos definir que características da planta seriam mais correlacionadas ao valor nutritivo. Vinte cultivares de cana foram plantadas em quatro blocos em um campo experimental localizado em Campos, RJ. A digestibilidade e características agronômicas foram avaliadas na quarta safra após o plantio, no ponto de máximo acúmulo de sacarose de cada cultivar.

As características agronômicas avaliadas foram: Produção de matéria seca e matéria natural por hectare, comprimento dos colmos, porcentagem de colmos na planta, diâmetro dos colmos, número de internódios, porcentagem de internódios descobertos, densidade dos colmos, Brix e Pol. Características bromatológicas também foram avaliadas: Porcentagens de matéria seca, de FDN, de fibra em detergente ácido (FDA), de lignina, de proteína bruta, de extrato etéreo e de cinzas. Todos os cultivares também foram incubadas no rúmen de seis vacas com cânula ruminal para determinação da DEG MS e da DEG FDN.

Para definir que características seriam desejáveis em uma cana nutricionalmente superior realizamos o que se chama regressão multivariada do tipo "Stepwise". Neste caso a degradabilidade ruminal da matéria seca (DEG MS) foi utilizada como variável dependente e todas as características agronômicas e bromatológicas como variáveis independentes. Este procedimento seleciona as variáveis independentes mais correlacionadas à variável dependente, definindo sua ordem de importância.

Dentre as características agronômicas e bromatológicas avaliadas a porcentagem de fibra (FDN ou FDA) foi a mais correlacionada à DEG MS (Figura 1). A característica mais importante em uma cana de alto valor nutritivo é ter baixa porcentagem de fibra na matéria seca (Tabela 1).

O segundo item mais importante foi o comprimento dos colmos. Canas de alta digestibilidade tiveram colmos mais curtos, além da baixa porcentagem de FDA. Entretanto, selecionar cana curtas para obter ganho em digestibilidade induziria perda na produção de matéria seca por hectare, o que faz pouco sentido.

A terceira melhor equação foi formada acrescentando a porcentagem de colmos à equação anterior. Canas com maior porcentagem de colmos, ou seja, baixa proporção de palhas e folhas foram mais digestíveis. Este efeito é particularmente interessante, baseado neste dado a despalha genética, manual ou por queima pode elevar a digestibilidade da planta. Este fato aparentemente se explica pelo fato da sacarose de alta digestibilidade estar contida nos colmos, enquanto as palhas e folhas são ricas em fibra de baixa digestibilidade. A cana é talvez a única forrageira onde os colmos têm maior digestibilidade que folhas.


Figura 1: A variável mais correlacionada a degradabilidade ruminal da matéria seca (DEG MS) em uma população de 20 cultivares industriais de cana foi a porcentagem de fibra em detergente ácido (FDA)..

Tabela 1: Equações de regressão descrevendo a variação na degradabilidade ruminal da matéria seca (DEG MS) de cultivares de cana em função de variação nas características químicas e agronômicas da planta


A variação na DEG MS foi de 10 unidades percentuais (Figura 1), existem canas e canas. A característica DEG MS também parece ser altamente herdável (h2=87,9%) e, portanto, plausível de melhoramento genético. Dentre as três características mais correlacionadas ao valor nutritivo, a porcentagem de colmos foi a mais herdável (h2=63,1%), enquanto as características comprimento dos colmos e porcentagem de FDA tiveram um menor componente genético (h2=41,4% e 19,5%, respectivamente).

Fatores ambientais parecem ser mais determinantes da porcentagem de fibra dos cultivares que fatores genéticos aditivos, enquanto a porcentagem de colmos é mais determinada geneticamente. No entanto, a seleção direta para a característica DEG MS parece ser mais indicada que a seleção para características indiretas correlacionadas à digestibilidade.

Um relacionamento de interesse prático seria a correlação entre valor nutritivo e produção de matéria seca por hectare. Caso a seleção para alto valor nutritivo implicasse na necessidade de queda na produção de matéria seca por hectare, a utilização da DEG MS como critério de seleção de canas para alimentação animal poderia ser mais questionada. Entretanto, um relacionamento forte entre estas duas variáveis parece não existir (Figura 2). A seleção para alta qualidade não significa que a produção por área deva ser penalizada. Existem canas que conciliam a alta produtividade com o alto valor nutritivo.


Figura 2: A correlação entre a produção de matéria seca por hectare e a degradabilidade ruminal da matéria seca (DEG MS) foi baixa na cana-de-açúcar, indicando que a seleção de cultivares de alto valor nutritivo não deve estar necessariamente vinculada à queda na produtividade.

A DEG FDN foi em média 19,8%, similar ao valor mensurado em outros experimentos. A degradabilidade da fibra no rúmen variou de 16,7 a 26,0%. Apesar da variação de 10 unidades percentuais na DEG FDN ser um valor aparentemente significativo, seu efeito sobre a DEG MS pode não ser tão marcado.

Para estimar o ganho potencial em DEG MS por atuação sobre a DEG FDN foi gerada uma regressão avaliando o efeito do aumento na DEG FDN, dentro da amplitude de valores observados experimentalmente, após ajuste para o teor de FDN da cana média (49,2% de FDN na matéria seca) (Figura 3). A interpretação desta regressão é a seguinte. Caso houvesse disponibilidade de uma cana com 49,2% de FDN, quanto se ganharia em DEG MS caso a digestibilidade desta fibra no rúmen fosse aumentada de 16 para 26%.

O ganho estimado foi de 4 unidades percentuais. No entanto, o efeito de uma cana com alta digestibilidade da fibra sobre o consumo de matéria seca e o desempenho de vacas em lactação requer avaliação, já que o maior consumo de alimentos pode resultar em resposta produtiva comparativamente maior que a observável apenas com o ganho na disponibilidade de energia por unidade de matéria seca ingerida.

Como atuar sobre a qualidade da fibra? Parece que o caminho genético é pouco promissor, já que a herdabilidade desta característica foi próxima de zero. Baseado nestes dados parece que o caminho mais curto para a obtenção de canas de alto valor nutritivo é concentrar esforços na obtenção de plantas com baixa porcentagem de fibra na matéria seca e pouca palha.


Figura 3: Ganho estimado em degradação ruminal da matéria seca (DEG MS) em uma cana hipotética com 49,2% de FDN e onde a degradabilidade ruminal da FDN (DEG FDN) foi aumentada de 16 para 26%.

Conclusões

Existe variabilidade na digestibilidade entre cultivares de cana-de-açúcar. A digestibilidade é uma característica de alta herdabilidade e, portanto, plausível de melhoramento genético. Programas de melhoramento genético de canas específicas para uso animal poderiam ser preconizados. Além das características agronômicas relacionadas à sanidade de plantas e outras características morfológicas desejáveis, como ausência de tombamento e pouco joçal, por exemplo, características que poderiam ser enfatizadas para se obter canas de alta digestibilidade, sem penalizar a capacidade de produção de matéria seca por hectare, seriam o baixo teor de fibra e a alta relação entre colmo e folha na planta.

Referências bibliográficas:

Teixeira, C.B. Determinantes de degradabilidade entre clones de cana-de-açúcar no rúmen de bovinos. Universidade Federal de Lavras. Tese de Mestrado em Zootecnia. 2004. 70 p.

MARCOS NEVES PEREIRA

Professor Titular da UFLA (Lavras, MG)

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PAULO MAURÍCIO MIGUEL

VALENÇA - RIO DE JANEIRO - INDÚSTRIA DE LATICÍNIOS

EM 29/03/2007

Parabéns ao professor Marcos Neves pela matéria puplicada. Acredito que o futuro da cana-de-açúcar na alimentação animal passará por grandes transformações, para aproveitarmos de forma ainda melhor todo o potencial desta extraordinária forrageira.

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