De tempos em tempos a gente é surpreendido com a criatividade brasileira, para o bem ou para o não tão legal assim. Um exemplo dessa criatividade meio esquisita é o de criarmos definições com palavras da língua estrangeira que na verdade não querem dizer absolutamente nada em seus países de origem.
Fora o exemplo gritante do título acima, no nosso mundo do Leite temos algumas pérolas, sendo que atualmente uma delas está muito na berlinda. Tente procurar o termo LOOSING HOUSE em qualquer dicionário da língua inglesa ou em qualquer Manual de Construção Rural ou de técnica de Manejo no idioma nativo e simplesmente a definição não existe, até porque fica um pouco difícil de conceituar o que na verdade convencionou-se chamar de Loosing House aqui no Brasil.
Foto 1: Exemplo de Cama Coletiva para confinamento de vacas leiteiras
Já vi definições as mais diversas sobre o que seria este tipo de alojamento de vacas leiteiras variando do simples semi-confinamento com pátio calçado ou não, até os quase free stalls com camas coletivas. Os sistemas de confinamento parcial, ou como costumo chamar de confinado mal alojado, são simplesmente sistemas onde se disponibiliza o cocho de arraçoamento coberto ou não, calçado ou não e que os animais dispõem de um pátio descoberto para deitar. São extremamente comuns onde existe o sistema misto de alimentação com pastoreio em parte do ano e confinado em outra parte e, a meu ver, até funcionam de forma satisfatória onde se espera medianas produções e as estações do ano são bem definidas, e o confinamento ocorre somente no período da seca, o que infelizmente para muitos acaba por não ocorrer e, por isso, mantêm os animais neste sistema mesmo após o início das chuvas.
Foto 2: Exemplo de Free Stall para confinamento de vacas leiteiras
Já os sistemas de alojamento cobertos podem ser basicamente de três tipos:
Tie Stall – Vacas contidas individualmente na sua própria cama, onde tem acesso direto a água e alimentação e preferencialmente ordenhadas no mesmo lugar
Free Stall – Os animais são alojados em uma estrutura composta de baias para descanso, corredores para trânsito dos animais e pista de alimentação. As baias ou stalls são delimitados e a cama de descanso pode ser de diversos materiais, como areia, serragem ou colchões dos mais diversos materiais.
Beeded Pack – Os animais são alojados em uma estrutura com cama coletiva e com acesso à pista de alimentação. Esta estrutura pode ser disposta das mais diferentes formas, com construção contínua, com área de alimentação separada da cama por um solário calçado, com área de alimentação em somente uma parte da área de descanso com ou sem pista de acesso à área de alimentação. Os revestimentos deste tipo de instalação podem ser os mais variados possíveis, sendo utilizados desde areia, serragem, fibra seca do esterco, bagacinho de cana, palha de café ou milho, e qualquer material que permita a uma vaca caminhar e deitar sem lesões.
As três estruturas estão há muitos e muitos anos presentes nas propriedades do Brasil, sendo que ultimamente tem crescido enormemente a demanda por Free Stalls e pela Cama Coletiva com material orgânico e, a partir daí, iniciou-se a polêmica sobre qual é o melhor sistema,etc, etc.
Um dos “novos” conceitos seria o da cama coletiva com revolvimento diário do material orgânico, como é feito em Israel e outras partes de clima árido do mundo. O que acontece é que não só o conceito não é universal, já que a princípio se beneficia de uma situação climática muito bem definida, como os seus custos de implantação não são tão mais econômicos do que um Free Stall convencional construído de forma planejada e sem excessos e preciosismos.
Sendo assim, vou tentar passar um pouco da minha experiência com o sistema chamado de Loosing House, que na verdade é um Bedded Pen e que pode ser dentre outros, um Compost Bedded Barn.
Foto 3: Segundo exemplo de Cama Coletiva
CUSTO DE IMPLANTAÇÃO
Apesar de todos falarem da “grande” diferença de custos entre os sistemas, a mesma só existe no momento da construção física sem o preenchimento da cama coletiva. O primeiro diferencial é uma necessidade de espaço que é 10 a 20% maior que no sistema de Free Stall
FREE STALL: 12m/animal
BEDDED PEN: 14m/animal
Esta diferença acaba acarretando um custo final de construção que é apenas 25% mais barato do que o free stall, já que o telhado tem que ser maior e a pista de alimentação é basicamente a mesma. O segundo ponto é a colocação do material que servirá como cama que deve ser de no mínimo 20 cm, o que acaba tendo um custo adicional no sistema.
MANUTENÇÃO
A grande diferença entre os sistemas está envolvida na forma de manutenção, sendo que ambos os sistemas acabam tendo basicamente os mesmos custos
FREE STALL: Limpeza do piso com lâmina de borracha acoplada a trator ou a bobcat, ou com plaina manual a cada saída dos animais para ordenha. Reposição da serragem na cama e desinfecção da mesma.
BEDDED PEN: Revolvimento da cama coletiva com enxada rotativa ligada a trator ou motocultivador e reposição de serragem a cada saída dos animais. Remoção completa da cama a cada ciclo de 4 a 6 meses.
UTILIZAÇÃO
Como temos utlizado os sistemas:
Em propriedades com sistemas de acesso a pastagens rotativas e suplementação o sistema seria o seguinte:
- Ordenha pela manhã
- Acesso imediato ao Pasto rotacionado
- Fechamento dos animais por volta das 9:30 – 10:00 H no Loosing House ( Bedded Pen )
- Suplementação dos animais por volta das 12:00
- Ordenha no período da Tarde
- Retorno ao Loosing House
- Nova suplementação por volta das 17:00 – 18:00 H
- Retirada dos animais para o piquete de pousio as 19:00 H
Acredito ser um manejo bastante razoavel e que diminuiria em muito o uso de mão de obra e asseguraria ganhos de produção e saúde por retirar os animais do sol no pior período do dia. Acredito na viabilidade do sistema para rebanhos com até 60 animais, já que grupos maiores demandariam muita mão de obra contratada.
Em propriedades com rebanho confinado, temos utilizado os dois sistemas conjuntamente da seguinte forma:
Os animais em produção, são alojados em Free Stall onde a possibilidade de resfriamento por aspersão e ventilação permitem maior produção. Os animais com dificuldades de locomoção, sejam por problemas de locomoção, sejam por inabilidade de permanecer em piso de concreto, seja por estarem no pós parto imediato são alojados em Bedded Pen. Há a possibilidade de alojar animais em fim de lactação ou com baixa expectativa de produção também em camas coletivas.
Os animais no período de transição, vacas secas, pré parto de vacas e pré parto de novilhas são alojados em Bedded Pen.
Trabalhando desta forma temos assegurado altas produtividades, grande lucratividade e conforto térmico para quem mais necessita.
*INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES
Mário Sérgio Zoni será palestrante no Interleite Sul, que será acontecerá nos dias 7 e 8 de Agosto, em Passo Fundo-RS, com o tema "Como produzir leite de forma competitiva no Sul do país?"
O tema Compost Barn também será discutido no Interleite Sul, com o palestrante Leonardo Dantas da Silva, e no Interleite Brasil, nos dias 11 e 12 de Setembro, em Uberlândia-MG com o palestrante Adriano Seddon. Ambos são da Alcance Rural.