Gráfico 1. Evolução do efetivo ovino mundial, em bilhões de cabeças.
Após uma rápida queda de 2,1% entre 2007 e 2009, o rebanho mundial manteve-se estável no curto prazo, em função, principalmente, do crescimento dos efetivos nas economias emergentes e em desenvolvimento (Gráfico 2), as quais, não fazem parte da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OECD)1.
Gráfico 2. Evolução do efetivo ovino mundial, em milhões de cabeças.
Ao longo das últimas duas décadas, o rebanho nos países não-OECD teve um crescimento de 7,7%, sendo que no período de 2000-2010 o incremento foi de 15,9 pontos percentuais, o que tem sustentando os números do efetivo mundial. Por outro lado, nos países membros da OECD, que inclui as economias mais desenvolvidas da América do Norte, Europa, Oceânia e Ásia Oriental, a população ovina decresceu significantes 44,1% desde 1990, com queda de 28,1% nos últimos 10 anos, sustentando uma condição retrativa.
Ambas as tendências tornam-se mais evidentes quando visualizamos a taxa de crescimento de alguns dos principais rebanhos mundiais entre 2000 e 2010, conforme a Tabela 1.
Tabela 1. Taxa de crescimento dos 15 maiores efetivos mundiais.
Dos quinze maiores efetivos mundiais, onze (cerca de 73%) se encontram espalhados pelos continentes asiático e africano, sob situações diversas, desde queda, a exemplo da África do Sul e Turquia, a até elevado crescimento, como a Etiópia, passando por cenários de relativa estabilidade, como os da China e Irã.
Por outro lado, é clara a forte condição decrescente dos efetivos nos países da OECD, como Austrália, Turquia, Itália, Reino Unido, Alemanha, Nova Zelândia, Espanha, França e Irlanda. Tal condição faz com que, no contexto atual, apenas 21,5% do rebanho ovino mundial se encontre em território da OECD, aumentando a participação percentual dos países emergentes e em desenvolvimento, conforme Gráfico 3.
Gráfico 3. Participação no efetivo ovino mundial, 2010.
O efetivo ovino chinês, que já atingiu 152,3 milhões de cabeças em 2004, retraiu significativamente em 2010 para cerca de 134,0 milhões, em função das limitações associadas à disponibilidade de terras e água, ao avanço da agricultura, ao processo continuo de degradação das áreas de pastagens e ao aumento dos custos de produção, o que deixa uma perspectiva negativa quanto à evolução do rebanho ovino na China.
Na zona do euro, uma combinação sucessiva e desenfreada de eventos sanitários e reforma política tem conduzido a população ovina a números cada vez menores e com projeções ainda mais retrativas. Essa trajetória decrescente tem se tornado evidente desde o início da década de 1990, com surtos de Encefalopatia Espongiforme Bovina durante as décadas de 1980 e 1990, Febre Aftosa ao longo das décadas de 1990 e 2000, Língua Azul a partir de 2004 e atualmente a difusão do vírus Schmallenberg. Enquanto tais eventos foram e são responsáveis pelo aumento dos abates sanitários, a reforma da Política Agrícola Comum (PAC) em 2003 - desvinculando a necessidade de produção aos subsídios - estimulou o crescimento do abate comercial, resultando, por fim e de uma forma conjunta, na continua redução do rebanho ovino na UE-27.
Na Oceania, após anos de queda nos números do rebanho ovino, finalmente, a Austrália começa a dar os primeiros sinais de reconstrução do efetivo devido à melhora das condições climáticas associada às boas perspectivas de preços para os produtos ovinos (tanto carne quanto lã), o que tem estimulado a maior retenção de matrizes e capões, e um movimento mais forte de reposição, resultando no crescimento do rebanho em 2011 para 74,2 milhões de cabeças com a expectativa de 77,3 milhões para 2012. Porém, mesmo com condições climáticas e comerciais favoráveis, o avanço da agricultura e da indústria madeireira tende a impor limites sobre a ovinocultura australiana.
Por sua vez, na Nova Zelândia, as condições climáticas pouco favoráveis e a forte migração para a produção de leite, tem ocasionado, mais uma vez, a contração do rebanho que, em 2011, deve alcançar 31,1 milhões de cabeças - o menor efetivo desde a década de 1950, havendo ainda expectativas de retração a médio prazo.
Ao longo dos últimos vinte anos, a produção mundial de carne ovina sofreu um incremento de 21%, sendo que no período de 2000-2010 houve um crescimento de 11,2 pontos percentuais, com perspectivas para uma expansão de 32,5% até 2020, conforme o Gráfico 4.
Gráfico 4. Produção mundial de carne ovina, em milhões de toneladas.
Como é possível observar no Gráfico 5, a ascensão da produção mundial foi, é e será impulsionada pelas economias emergentes e em desenvolvimento, considerando as taxas de crescimento de 49,5% e 41,8%, para o período entre 1990 e 2010, e para a projeção até 2020, respectivamente. Por sua vez, a produção nos países desenvolvidos (membros da OECD) caiu 20% nas últimas duas décadas, tendendo à estabilização em valores médios ao redor das 2,4 milhões de toneladas para os próximos 8 anos.
Gráfico 5. Produção mundial de carne ovina, em milhões de toneladas.
Seguindo o comportamento nos principais efetivos, onze das quinze maiores produções mundiais estão localizadas na Ásia e África (Tabela 2), também sob condições variadas, ou seja, retração, como na Turquia, estabilização, a exemplo do Paquistão, e alto crescimento, como o Sudão. Apesar dos diferentes ritmos de crescimento, todos os países não-OECD apresentam variações positivas, enquanto que nas economias desenvolvidas a situação é completamente oposta, particularmente em países como a Espanha, Irlanda, Reino Unido, Itália, Túrquia, Austrália e Nova Zelândia, onde as altas taxas negativas caracterizam a produção doméstica.
Tabela 2. Taxa de crescimento das 15 maiores produções mundiais.
Diante desse cenário, atualmente, apenas 27% da produção mundial de carne ovina é oriunda de membros da OECD, valor esse que vem sendo reduzido sistematicamente em favor da crescente participação percentual dos países emergentes e em desenvolvimento, conforme Gráfico 6.
Gráfico 6. Participação na produção mundial de carne ovina, 2010.
Em consequência do maior rebanho a China é o maior produtor mundial, em função não apenas dos números do efetivo, mas, especialmente, da alta prolificidade de suas raças nativas, permitindo taxas de abate superiores a 98%. No entanto, o aumento futuro da produção é limitante, devido à baixa disponibilidade de recursos naturais.
A produção de carne ovina na UE-27 caiu mais uma vez em 2010, já perdendo o efeito compensatório do maior nível de abates ocasionado pela reforma da PAC. Além disso, mudanças estruturais acompanhadas pelo abandono da produção na Espanha e França, pela alta mortalidade e baixa produtividade dos rebanhos após os surtos de Língua Azul e pela recente emergência do vírus Schmallenberg, impõe condições muito restritivas para a recuperação da produção européia, embora haja expectativas positivas no Reino Unido e Irlanda.
Devido ao aumento na reposição em 2011, a produção australiana se contraiu para 513 mil toneladas, no entanto, as projeções são positivas e indicam um incremento de 5,6% para 2012, como resultado da maior disponibilidade de cordeiros, o que dependerá de boas condições climáticas.
A produção neozelandesa sofreu uma leve queda em 2011 para 463,6 mil toneladas devido às condições climáticas adversas aumentando a taxa de mortalidade neonatal, no entanto, em função do clima, o rebanho de cria pode sofrer um leve incremento, o que poderá aumentar a oferta de carne ovina no curto prazo.
Nos países emergentes e em desenvolvimento localizados na Ásia e África, a produção continuará a se expandir, em função do crescimento econômico dos continentes, da cultura Islâmica em grande parte dos países e pelo fato de que a pecuária ovina é uma das principais fornecedoras de carne em muitas destas regiões.
Dessa forma, torna-se cada vez mais evidente a perda de espaço das nações desenvolvidas ao longo dos anos, as quais foram responsáveis por 40,9%, 37% e 27% da produção mundial, em 1990, 2000 e 2010, respectivamente, e para 2020, as projeções apontam para uma participação ainda mais reduzida, de aproximadamente 21,9%.
Essa tendência tende a se fortalecer ainda mais na medida em que a ovinocultura de corte, nas economias emergentes e em desenvolvimento, consiga absorver um maior aporte tecnológico, tanto a nível de insumos, quanto de processos e de produto, resultando, por fim, em aumento da produtividade e na diluição da discrepância existente, em alguns países, entre o tamanho do efetivo e o volume da produção.
Fontes consultadas
ABARES. Australian Bureau of Agricultural and Resource Economics and Sciences.
BLNZ. Beef and Lamb New Zealand.
EBLEX. English Beef and Lamb Executive - Agriculture and Horticulture Development Board.
EUROSTAT - European Comission - Agriculture and Rural Development.
FAO. Food and Agriculture Organization of the United Nations.
MAF. Ministry of Agriculture and Forestry of the New Zealand.
MLA. Meat and Livestock Australia.
NBSC. National Bureau of Statistics of China.
OECD. Organization for Economic Co-operation and Development.
1 A OECD é composta por 34 países, entre os quais: Alemanha, Austrália, Áustria, Bélgica, Canadá, Chile, República Checa, Coréia do Sul, Dinamarca, Espanha, Eslovénia, Eslováquia, Estados Unidos, Estónia, Finlândia, França, Grécia, Holanda, Hungria, Irlanda, Islândia, Israel, Itália, Japão, Luxemburgo, México, Nova Zelândia, Noruega, Polônia, Portugal, Reino Unido, Suécia, Suíça e Túrquia.