IBGE: resultados definitivos do 3º trimestre mostram desaceleração na captação de leite

Os resultados definitivos da Pesquisa Trimestral do Leite do IBGE, publicados hoje (07/12), confirmaram a desaceleração do crescimento da produção de leite, antes divulgada nos resultados prévios da pesquisa, porém, com uma desaceleração mais lenta do que anunciado anteriormente.

Com um total de 6,23 bilhões de litros de leite captados no 3º trimestre deste ano, a variação em relação ao 3º trimestre de 2022 chegou a 1,3%, acima dos 0,8% anunciados anteriormente, como é possível observar no gráfico 1.

Tabela 1. Captação mensal de leite no Brasil

Fonte: elaborado pelo MilkPoint Mercado com base em dados do IBGE, 2023.

Gráfico 1. Captação formal: variação em relação ao mesmo trimestre do ano anterior

Fonte: elaborado pelo MilkPoint Mercado com base em dados do IBGE, 2023.

Sobre os resultados estaduais para o 3º trimestre deste ano, após a queda anual sofrida no 2º trimestre para o maior estado produtor de leite do Brasil, Minas Gerais, o resultado do 3º trimestre voltou a apresentar avanço na produção de leite mineira. Com mais de 1,46 bilhão de litros produzidos no último trimestre, Minas Gerais atingiu uma variação anual de 1,9%, representando cerca de 24% de todo o leite produzido no país no período.

Porém, a variação percentual obtida em Minas Gerais está longe de estar entre os principais crescimentos do Brasil no último trimestre. Alagoas apresentou o maior crescimento percentual na captação de leite do último trimestre, com uma variação anual de 52%, seguido por Espírito Santo, com um crescimento de 44% e Amazonas, com 33%. Entretanto, vale ressaltar que apesar do importante crescimento, esses estados ainda possuem uma baixa representatividade dentro da produção total de leite, tendo estes 3 estados juntos produzido 92,4 milhões de litros de leite, bem abaixo da produção mineira, por exemplo.

Entre os demais estados que compõem os principais produtores do Brasil, São Paulo apresentou a maior queda, de 7,9%, com 563,9 milhões de litros produzidos no 3º trimestre deste ano, enquanto o Rio Grande do Sul e Goiás, que haviam apresentado variações positivas no 2º trimestre, também apresentaram queda na somatória dos meses de julho, agosto e setembro, ficando com uma variação anual negativa de 4,3% e 2,0%, respectivamente, como pode ser observado no gráfico 2.

Santa Catarina continuou liderando o maior crescimento na produção entre os principais estados produtores, com um aumento de 5,7% no último trimestre em relação ao mesmo período de 2022.

Gráfico 2. Variação na captação formal dos principais estados produtores entre o terceiro trimestre de 2023 e o mesmo período de 2022

Fonte: elaborado pelo MilkPoint Mercado com base em dados do IBGE, 2023.

Dentre as regiões brasileiras, o Nordeste seguiu liderando o maior crescimento percentual, com um avanço de 10,1% no 3º trimestre deste ano em relação ao mesmo período de 2022, entretanto, apesar do importante e contínuo crescimento, o volume total produzido na região segue representando uma parcela pequena dentro da produção total do país.

A maior região produtora de leite do Brasil, o Sul, que havia apresentado um crescimento de 6,3% no 2º trimestre deste ano, continuou crescendo no 3º trimestre, porém, de forma mais lenta, gerando uma variação anual de apenas 0,9% no último trimestre. Enquanto o Sudeste, que havia apresentado um recuo no 2º trimestre, voltou a apresentar também um sutil crescimento no 3º trimestre, de apenas 0,2%, como mostra o gráfico 3.

Gráfico 3. Variação na captação formal de leite das regiões brasileiras entre o terceiro trimestre de 2023 e o mesmo período de 2022

Fonte: elaborado pelo MilkPoint Mercado com base em dados do IBGE, 2023.

O que influenciou no aumento da captação?

O sutil aumento da captação observado no 3º trimestre deste ano ainda é um resultado da melhor rentabilidade do produtor no 2º semestre de 2022 e início de 2023.

Entretanto, o ciclo recente de quedas do preço ao produtor desde maio, como mostra o gráfico 4, também reflete na desaceleração do crescimento da captação no 3º trimestre, se comparado ao trimestre anterior, que cresceu 4,0%. Dessa forma, os recuos recentes dos preços também devem refletir na captação do 4º trimestre.

Gráfico 4. Preço do leite pago ao produtor

Fonte: CEPEA; elaborado por MilkPoint Mercado.

Expectativas para o restante de 2023 e início de 2024

Quando olhamos para o início do 2º semestre deste ano, o cenário se tornou diferente para o produtor de leite brasileiro em termos de rentabilidade, que tem enfrentado seguidas quedas no preço recebido pelo leite produzido, como mostra o próprio gráfico 4. Entretanto, ainda assim é esperada uma variação anual positiva no 4º trimestre de 2023, mas não por conta de um aumento expressivo na produção do último trimestre deste ano, mas porque o 4º trimestre de 2022 apresentou uma forte queda na captação, tendo assim uma base comparativa menor para este último trimestre.

Além disso, os desafios climáticos vivenciados atualmente neste 4º trimestre, com escassez de chuva no Nordeste (região que vem apresentando maior crescimento percentual nos últimos trimestre) e excesso de chuvas na região Sul (maior região produtora de leite atualmente) trazem um viés de diminuição da produção para esta reta final do ano.

Para início de 2024, o cenário também deve iniciar com produção mais enxuta, em reflexo deste cenário mais negativo para alguns produtores, e adicionalmente como consequência da tendência de aumento nos preços dos insumos alimentares para as vacas, como já demonstra o mercado futuro do milho, por exemplo, em decorrência das alterações climáticas geradas pelo El Niño.