No mês de agosto, importantes movimentações foram observadas no cenário de grãos no Brasil e no mundo.
Dentro do Brasil, o milho continuou mais firme em sua trajetória de quedas nos preços, tendo registrado até o momento, segundo o CEPEA, uma queda de 3,0% no mercado físico brasileiro no mês de agosto em relação ao mês anterior. Enquanto seus contratos futuros negociados na B3 também seguiram mostrando patamares de preços ainda bem abaixo dos observados no mesmo período em 2022, como mostra o gráfico a seguir.
Gráfico 1. Preços do milho no mercado físico em Campinas/SP e no mercado futuro
Fonte: Cepea; B3; elaborado por MilkPoint Mercado.
Já para a soja, a movimentação deste mês foi um pouco diferente, tendo ocorrido uma freada neste ímpeto de queda que a soja em grão vinha enfrentando junto com o milho até então. Faltando um dia para o encerramento do mês, a soja enfrenta uma alta mensal de 1,1% nos preços praticados no mercado físico, refletindo também nos contratos futuros da soja, que apesar de ainda permanecerem em um patamar abaixo do observado em 2022, passaram por recuperação neste último mês, como mostra o gráfico 2.
Gráfico 2. Preços da soja no mercado físico e no mercado futuro em Paranaguá/PR
Fonte: Cepea; CBOT; B3; elaborado por MilkPoint Mercado.
Pode-se dizer que essa mudança de rota nos preços da soja no mercado físico do Brasil está relacionada principalmente com fatores externos, já que internamente a oferta continua alta no mercado e, sem interferência externa, teria mantido a pressão de baixa sobre os preços.
Desta forma, um dos principais fatores relacionados com essa alta, mesmo que sutil, da soja tem sido a situação do clima e das condições das lavouras nos Estados Unidos. Com a chegada de um tempo mais quente e seco, muito se especulou sobre a produtividade das lavouras estado-unidenses, trazendo movimentações de altas nos contratos futuros negociados na Bolsa de Chicago (CBOT) desde então, o que refletiu também dentro do mercado no Brasil. Apesar da tensão criada em torno do clima e produtividade da safra estado-unidense, o acompanhamento mais recente das condições da lavouras da soja do país mostram um resultado muito semelhante com o observado no último ano, mostrando que até então o prejuízo especulado não chegou de forma intensa nas lavouras.
E o milho, apesar de se manter em viés de queda em seus preços, não escapou totalmente da influência internacional, porém, vindo de outros fatores. A continuidade da guerra no Leste Europeu segue assolando o mercado mundial de milho, isso porque além do fim do acordo do Mar Negro, acordo que permitia a exportação de grãos ucranianos desde julho 2022, que ocorreu no último mês, ataques russos a importantes infraestruturas de exportações ucranianas colocou novamente em cheque a chegada de grãos da Ucrânia no mercado global, repercutindo nos preços futuros do trigo e do milho negociados na CBOT, principalmente.
É fato que esses fatores externos estão trazendo maior volatilidade aos preços do milho e da soja praticados no Brasil, colocando maior atenção no ponto de custo de alimentação para os produtores de leite.
Mas, no que tange a produção interna, o último levantamento da CONAB (Companhia Nacional de Abastecimento) trouxe mais um reajuste positivo para a produção estimada de milho e manteve praticamente em estabilidade a produção estimada de soja, que ainda devem ser recordes na safra 2022/23. Os gráficos a seguir mostram as últimas estimativas na CONAB em relação a produção de milho e soja.
Gráfico 3. Produção total de milho no Brasil (milhões de toneladas)
Fonte: Conab; elaborado por MilkPoint Mercado.
Gráfico 4. Produção total de soja no Brasil (milhões de toneladas)
Fonte: Conab; elaborado por MilkPoint Mercado.
Ainda sobre o mercado externo, nos próximos meses um ponto que vale a ressalva é em relação ao canal do Panamá. Por conta da seca na região e níveis mais baixos de água, esse importante caminho de navegação internacional tem passado por restrições em relação aos pesos dos navios e tráfego diário. Para as comercializações do Brasil de grãos, provavelmente não será gerado reflexo, visto que o Brasil geralmente utiliza outras rotas para o tráfego de navios, porém, existe uma expectativa de que os Estados Unidos possam enfrentar problemas no transporte de grãos para outros países, fazendo com que os grãos brasileiros possam ser mais demandados. Caso isso ocorra, com certeza será um importante impulso para altas nos preços, vale o acompanhamento e a atenção.