As inovações tecnológicas têm sido o caminho seguro para o cumprimento da agenda ESG (de responsabilidade ambiental, social e de governança, na sigla em inglês).
Boa parte dessas inovações, desenvolvidas sobretudo por startups, está mais difundida em questões ambientais, como uso racional de recursos naturais e redução do consumo de energia.
Mas, o leque de opções em outras vertentes da jornada ESG também tem se ampliado e vai do uso de Inteligência Artificial no campo para otimizar a plantação e a colheita e manter prontuário individualizado de cada animal do rebanho, passa por rastrear o caminho das garrafas plásticas para melhorar estratégias de reciclagem ou vai até pela seleção de empresas fornecedoras geridas por mulheres.
“Promover a diversidade deve ir além da empregabilidade. Mapeando parceiros diversos, contribuímos para ampliar o conceito”, afirma Caio Miranda, diretor de sustentabilidade da Ambev, uma das pioneiras no impulsionamento de startups e, por consequência, usuária ativa de novas tecnologias.
Para selecionar fornecedores diversos, a companhia conta com uma plataforma desenvolvida pela Diversidade IO, onde os candidatos diversos se inscrevem. Miranda explica que a inclusão de fornecedores diversos já rendeu a contratação de uma empreiteira mulher e negra que responde pela reforma de um escritório da companhia, em Osasco, na grande São Paulo, e de um fornecedor de toucas para cabelos volumosos, como os de afrodescendentes. De acordo com Miranda só recentemente a Ambev passou a incluir a diversidade como critério de contratação também entre seus fornecedores. Em 2021, o orçamento foi R$ 50 milhões e dobrou, em 2022.
O retorno das embalagens é um dos maiores desafios nas empresas que promovem a logística reversa. O desafio não é menor na indústria de bebida. O Zé Delivery – um aplicativo onde o consumidor se cadastra e tem a comodidade de entregar as embalagens retornáveis sem precisar sair de casa – foi a solução desenvolvida pela Ambev. Miranda não fala em volumes totais de embalagens já retornadas pela plataforma, mas afirma que o nível de adesão dos consumidores ultrapassou em 50% as metas inicialmente traçadas.
Na Coca Cola, a solução para coleta de embalagens tem ido além da reciclagem e está se transformando em um banco de dados com informações que nem estavam previstas inicialmente. A empresa está colocando código de barras, o QR Code, nas embalagens e, com isso, pode medir a distância que cada garrafa percorre, o número de idas e voltas – que definem se está na hora de reciclar a embalagem ou não, por exemplo.
“Uma embalagem retornável de vidro circula 35 vezes antes de ser reciclada e a de PET umas 15 vezes. Com essa tecnologia, podemos também mapear o retorno por região ou por ponto-de-venda, o que nos permite criar estratégias específicas para cada praça”, afirma Rodrigo Brito, head de sustentabilidade Brasil e Cone Sul da Coca-Cola América Latina.
Segundo ele, o investimento previsto é de US$ 250 mil, e começa pelo Chile – que tem uma das melhores taxas de retorno de embalagens da América Latina e do mundo. “No Brasil, 25% das vendas são de embalagens retornáveis. No Chile o índice é de 40%”. O projeto, diz Brito, faz parte do programa global da companhia Compromisso Mundo sem Resíduo segundo o qual, até 2030, 25% das embalagens vendidas pela empresa será de embalagens retornáveis em todo o mundo. Na América Latina, esse índice já está em 34%.
“Usar a tecnologia para alcançar nossas metas de sustentabilidade abre uma série de possibilidades que vão muito além do que você imagina inicialmente. Na Argentina, por exemplo, trabalhamos com uma startup que mapeia a coleta, organiza a rota e volume de coleta e ainda faz a ponte entre quem gera os resíduos e quem quer comprá-los”, comenta Brito, da Coca-Cola.
Mas não é apenas nas fabricantes de bens de consumo que a tecnologia anda de mãos dadas com a sustentabilidade. Fundada em 2015, a Scicrop especializada em análise de dados, tem uma ampla prateleira de soluções tecnológicas para o agronegócio. Com uso de inteligência artificial é possível operar colheitadeiras à distância, apontar a qualidade do solo para cultura e monitoramento de queimadas por nano satélites.
“O Brasil é um dos países mais equipados tecnologicamente. O uso desses recursos não é uma novidade. Novo mesmo é a utilização crescente pelo agronegócio”, afirma José Damico, CEO da Scicrop. “Hoje tem satélite que monitora inclusive quanto de metano está sendo emitido por uma chaminé ou por um grupo de vacas no campo”, afirma. A maior vantagem da evolução tecnológica, diz ele, é poder fazer simulações antes de adotar as práticas de sustentabilidade.
Na fabricante de queijos e manteigas UltraCheese, um software desenvolvido dentro de casa é capaz de monitorar cerca de 63 mil vacas, distribuídas pelas 1025 propriedades rurais fornecedoras de leite para a companhia. O detalhamento de informações é tal que é possível saber quanto cada animal come, se tem alguma predisposição a doença e, claro, o volume de produção de leite de cada vaca.
De acordo com Edson Martins, CEO da UltraCheese, todo o projeto consumiu R$ 4 milhões, incluindo uma fazenda modelo, com mais de 400 vacas, construída pela empresa. Ele explica que havia algumas soluções no mercado, mas não com o nível de detalhamento pretendido pela companhia.
Hoje, além do monitoramento dos animais, que ajudam a elevar a produtividade, é possível otimizar a rota de coleta, fazer a rastreabilidade do leite coletado e ajudar os produtores rurais na gestão financeira das propriedades. “Sempre que levamos informações para o campo, ajudamos na gestão do negócio dos nossos fornecedores. O uso da tecnologia não é só para cumprir metas ambientais. A governança também ganha”, resume Martins.
A indústria realmente é o setor que se beneficia diretamente de tecnologia, especialmente para combater desperdícios e ganhar eficiência que, no final do dia, contribui com práticas ambientalmente responsáveis ao mesmo tempo que também significa redução de custos e ganho de eficiência.
A tecnologia é pilar central também na estratégia de sustentabilidade - e financeira - do grupo de restaurantes Madero. Sua aplicação ajuda a ganhar eficiência e reduzir desperdícios, inclusive de combustíveis, segundo o fundador Junior Durski, controlador e presidente do Grupo Madero.
Os motoristas dos caminhões que transportam os insumos e as embalagens para reciclagem - todos veículos próprios - usam três sistemas diferentes que sugerem a rota mais eficiente em consumo de combustível e indicam até qual velocidade os veículos devem estar para operar a baixo custo. As cargas que circulam do centro abastecimento em Ponta Grossa (PR) para todo o país também são planejadas por algoritmos que determinam a maneira mais eficiente.
Por trabalhar com alimentos frescos e que são congelados para não precisar de conservantes, a empresa investiu cerca de R$ 100 milhões em uma câmara fria automatizada robotizada em Ponta Grossa, que evita ao máximo a perda de calor, reduz o gasto de energia elétrica, e faz diagnóstico do consumo de água.
“Os investimentos em tecnologia têm payback (retorno); alguns mais rápidos e outros mais de longo prazo. No caso dos caminhões, gastamos R$ 20 mil nos sistemas, que se pagam em até cinco meses”, comenta Ariel Szwarc, diretor financeiro da rede. Ele diz que a câmara fria deve demorar um pouco mais, mas que acaba ajudando a diminuir a conta de energia e precisa de menos funcionários na cozinha.
Nas mais de 200 lojas do grupo Madero, em todo o país, a tecnologia vai além de totens de autoatendimento para pedidos. As cozinhas dos restaurantes do grupo contam com um sistema que dita as instruções para os funcionários.
“Quando entra um pedido de hambúrguer, o sistema já sinaliza o momento de pôr a carne na chapa, o pão no forno, dita o tempo de fritura da batata frita e até emite um alarme para o responsável trocar o óleo de cozinha”, conta Durski, presidente do Madero. Tudo isso contribui para ter um mínimo de desperdício.
As informações são do Valor Econômico, adaptadas pela Equipe MilkPoint.