Os mercados globais de lácteos permanecem em crise. Os desafios econômicos na Ásia, combinados com o aumento da concorrência da Europa e da Nova Zelândia, continuaram limitando o crescimento das exportações dos EUA em julho. Porém, na maioria dos produtos lácteos, as quedas observadas no segundo trimestre diminuíram ou até mudaram para crescimento.
As exportações de leite em pó desnatado cresceram pelo segundo mês consecutivo, embora só um pouco, em +3% (+1.783 toneladas) com relação ao ano anterior, quase inteiramente graças às compras robustas do México (+14%, +3.529 toneladas).
As exportações de queijo, após um segundo trimestre desafiador, permaneceram praticamente estáveis em comparação com julho de 2022 (-1%, -433 toneladas), graças a uma recuperação nas vendas para o Japão e ao crescimento contínuo para a América Latina. Ainda assim, o crescimento foi limitado, uma vez que as vendas para a Coreia e o Sudeste Asiático ainda enfrentavam desafios decorrentes da demanda e dos concorrentes que vendiam a preços mais baixos.
Da mesma forma, as exportações de concentrado de proteína do soro de leite (WPC80+) e lactose ficaram efetivamente estáveis (-1%, -65 toneladas; e -2%, -884 toneladas respectivamente), embora ainda haja uma grande variação no desempenho entre os mercados.
Em contrapartida, com a maioria dos produtos de exportação se mantendo estáveis em julho, as exportações de soro de leite com baixo teor de proteína (sob o código HS 0404.10) diminuíram acentuadamente (-40%, -22.092 toneladas). Na verdade, quase todo o declínio geral de julho veio de exportações mais fracas de soro de leite com baixo teor de proteína.
Numa base equivalente de sólidos de leite (MSE), o volume de exportação diminuiu 12% (-24.272 toneladas MSE). Surpreendentemente, esse declínio de 12% ainda é uma melhoria modesta em comparação com o declínio de 17% no segundo trimestre. Isto ocorreu apesar dos envios de soro de leite com baixo teor de proteína terem apresentado o menor volume mensal de exportação desde 2019, quando os exportadores de soro de leite dos EUA enfrentaram a peste suína africana e tarifas retaliatórias sobre os envios para a China.
Então, o que motivou a forte mudança nas exportações de soro de leite com baixo teor de proteína?
A China é o principal impulsionador do declínio. As exportações de soro de leite com baixo teor de proteína dos EUA para o país caíram 21% (-32.898 toneladas) no acumulado do ano e esse declínio continuou em julho, com as exportações caindo 46% (-12.125 toneladas) para o nível mensal mais baixo em 18 meses.
A queda nas exportações de soro de leite para a China reflete em grande parte a demanda mais fraca no setor da alimentação animal. Os preços da carne suína chinesa caíram acentuadamente no início do ano, limitando os aumentos na produção de carne suína e, portanto, nas necessidades de soro de leite. Os preços da carne suína são um indicador avançado eficaz para o soro de leite chinês com baixo teor de proteína para a demanda por ração, pois sinaliza incentivos de expansão para os produtores locais de carne suína.
Positivamente, os preços da carne suína aumentaram 15%, de ¥ 23,65/kg no final de julho para ¥ 27,26/kg hoje. O aumento até agora foi impulsionado principalmente pela menor oferta de carne suína, e não pelo aumento da demanda do consumidor. Além disso, há previsão de um aumento sazonal modesto no consumo de carne suína na segunda metade do ano. Essa melhoria da demanda em um contexto de oferta mais restrita de carne suína deverá incentivar a expansão da produção de carne suína na China, o que deverá apoiar a recuperação das exportações de soro de leite com baixo teor de proteína no final de 2023 e em 2024.
Ainda assim, as preocupações em torno da economia da China continuam lançando dúvidas sobre o consumo global no país – tanto de carne de porco como de laticínios. Embora haja a previsão de uma recuperação da demanda ainda este ano, está longe de ser certo que a volatilidade da demanda na China se estabilize.
Outros dados relevantes dos dados comerciais de julho
A melhoria da competitividade de preços ajudou a apoiar as exportações de queijo dos EUA em julho. Os embarques de queijo dos EUA para o Japão tiveram o mês mais forte do ano, subindo 29% (+935 toneladas). Da mesma forma, as exportações para o Chile, China e Austrália melhoraram. Mesmo a Coreia, onde as exportações de queijo ainda ficaram 23% abaixo dos volumes de 2022 no mês de julho (-1.234 toneladas), o volume ainda foi notavelmente mais forte do que no primeiro semestre do ano (-47% até junho).
Olhando para o futuro, esta melhoria nas exportações deverá continuar nos dados de agosto, mas as exportações de queijo do quarto trimestre ainda enfrentam ventos contrários com preços mais baixos na Europa e na Oceania.
A única categoria de queijo que apresenta crescimento continua sendo o queijo ralado/em pó. Os embarques de queijo ralado/em pó (que é principalmente mussarela) aumentaram 38% no acumulado do ano (+21.103 toneladas), com exportações no mês ainda melhores (+52%, +4.259 toneladas). Embora Colby e queijo azul tenham subido, o aumento foi insignificante (+29 toneladas e +10 toneladas, respectivamente).
As exportações de queijo ralado subiram para muitos mercados, mas o México tem sido claramente o motor do crescimento (+138%, +21.103 toneladas no acumulado do ano). A produção mais restrita de leite nos EUA, mantendo os preços internos elevados acima dos níveis globais e a produção mais lenta de mussarela, podem desacelerar este rápido crescimento de variedades de queijo ralado à medida que avançamos no final do ano.
As exportações do WPC80+ melhoraram em mercados emergentes críticos, mesmo com a desaceleração da demanda no Japão. As exportações de soro de leite rico em proteínas dos EUA continuaram se destacando no Brasil, à medida que o uso de nutrição esportiva decolou (+67%, +236 toneladas em julho; +108%, +2.312 toneladas no acumulado do ano). A China também apresentou novamente um crescimento considerável em julho (+17%, +194 toneladas no mês; +38%, +2.187 toneladas).
Infelizmente, o comércio com o Japão desacelerou (-26%, -278 toneladas), mesmo com os envios acumulados no ano permanecendo positivos (+6%, +451 toneladas). Olhando para o futuro, embora os preços do WPC80 e do WPI tenham aumentado recentemente, permanecem dentro de um intervalo historicamente normal, o que deverá manter o crescimento da demanda internacional e a inovação na produção de proteínas lácteas até ao final do ano.
Pelo segundo mês consecutivo, as exportações de leite em pó desnatado dos EUA para o Sudeste Asiático (SEA) permaneceram quase sem mudanças. O leite em pó desnatado dos EUA caiu apenas 45 toneladas para a região. Esta é uma melhoria acentuada em relação ao início deste ano, com o Vietnã, em particular, mostrando um crescimento significativo no mês (+206%, +2.333 toneladas).
Ainda assim, grande parte desta estabilização deve-se a comparações anuais mais fracas, uma vez que em junho de 2022 foi quando as remessas de leite em pó desnatado para a região diminuíram acentuadamente pela primeira vez. De forma otimista, a recuperação econômica e comparações mais favoráveis deverão apoiar a melhoria das exportações para o sudeste da Ásia no final do ano, mas a concorrência continua feroz.
As exportações de manteiga caíram acentuadamente, em grande parte devido ao fato de as vendas para o Bahrein terem efetivamente chegado a zero. As exportações de manteiga dos EUA para o Bahrein caíram 99,7%, caindo de 2.083 toneladas em julho de 2022 para apenas 7 toneladas em julho de 2023.
Em comparação, as exportações agregadas de manteiga diminuíram 61% (-3.730 toneladas) à medida que os preços dos EUA divergiram dos preços globais. Os preços da manteiga nos EUA permanecem acima dos níveis mundiais devido às fortes vendas internas e à produção mais lenta de leite, o que provavelmente limitará o avanço das exportações de manteiga.
As informações são do Conselho de Exportações de Lácteos dos EUA (USDEC), traduzidas e adaptadas pela equipe MilkPoint.