Não são apenas a produção agropecuária de grande porte e as operações de agroindústrias que vivem um intenso processo de digitalização de suas atividades no país. O movimento também chegou às redes de fornecimento de insumos, que têm investido em novas ferramentas e soluções para encurtar distâncias e fidelizar os clientes, tendo em vista a acirrada concorrência na ponta.
Segundo dados da Associação Nacional dos Distribuidores de Insumos Agrícolas e Veterinários (Andav), há mais de 5,8 mil revendas no Brasil. Elas são responsáveis por cerca de 40% das vendas de agrotóxicos, que em 2020 deverão somar US$ 12 bilhões, de acordo com o Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal (Sindiveg), e por uma parcela menor do comércio de fertilizantes, que no total deverá girar outros US$ 12 bilhões.
Para Luis Otávio Fonseca, sócio e coordenador da área de Agronegócio da consultoria Deloitte, a digitalização é uma forma de as redes se aproximarem sobretudo de pequenos e médios produtores, que tentam avançar, com mais dificuldades, na adoção de tecnologias.
Junto com a oferta de insumos, essas revendas têm aberto um portfólio de serviços e continuam a cumprir sua função de prestar assistência técnica dentro da porteira. Nessa nova onda, “o produtor está de olho em quem o ajuda a produzir mais e melhor”, diz Fonseca, e “em quem compartilha o risco da atividade com ele e confere inteligência às ações”.
Um dos players que crescem com força neste mercado é a holding AgroGalaxy, que deverá faturar R$ 4,2 bilhões em 2020 para tentar se firmar como líder no varejo nacional de insumos. Controlada pelo fundo de private equity Aqua Capital, ela tem 16,5 mil clientes e conta com 99 lojas físicas, em nove Estados: das marcas Rural Brasil no Cerrado; Grão de Ouro no Centro-Oeste; e Agro 100, Agro Ferrari e Sementes Campeã no Sul.
Constituída há três meses como holding, a AgroGalaxy já tem delineada sua estratégia digital, embora Tomás Romero, sócio do Aqua, lembre que os trabalhos começaram ainda em 2017.
“Começamos com vendedores registrando os pedidos no celular, consultando estoques. E assumimos a Feira Superagro, da Agro 100 [que desde 2015 apresenta inovações de diferentes empresas do setor] em 2017”, diz.
Em outubro último, foi a vez de lançar a assistente dos seus 378 consultores técnicos de vendas, com 20 a 40 clientes cada. Trata-se da GI (Galaxy Infinity), cujo avatar no WhatsApp é uma jovem produtora usando camisa xadrez. Romero diz que a estratégia digital da holding não é feita de ideias mirabolantes, mas de iniciativas para simplificar processos e agilizar o dia a dia do produtor.
- Infraestrutura é o principal gargalo para inovação no agronegócio, aponta Abag
- Digitalização acelera avanço de cooperativas de crédito no campo
- Com tecnologia e inovação, produção agropecuária dobrou no Brasil em 22 anos
Por enquanto, a principal missão da GI é economizar tempo do produtor e do time de vendas na emissão de notas fiscais. “Produto faturado é produto liberado para ser retirado ou entregue. E agimos primeiro aí porque a consultoria McKinsey nos apontou que uma das maiores dores do produtor é com as entregas. No agro, ele recebe o produto e vai da mão para a boca.
O insumo precisa estar lá na hora certa para ele plantar”, diz. Já a escolha pelo WhatsApp se deu porque 85% dos produtores brasileiros estão no app de mensagens, ainda segundo a McKinsey.
As informações são do Valor Econômico.