O presidente da principal cooperativa de lácteos do Uruguai, Conaprole, Gabriel Fernández, disse em declarações durante a reunião anual da Sociedade de Produtores de Leite da Flórida que a cooperativa "tem como objetivo crescer em mercados no norte da África, além da Argélia", e os números dos volumes de leite em pó integral colocados no mercado internacional nas últimas semanas confirmam isso.
Em outubro, segundo dados sobre pedidos de exportação, o Uruguai colocou 6.540 toneladas do produto em países africanos, 47% do total embarcado no período. A soma dos países daquele continente supera os embarques para o Brasil. E o mesmo já tinha acontecido nos dois meses anteriores, com África sendo o destino de 58% dos embarques em agosto e 54% em setembro.
Os problemas que têm sido enfrentados nas últimas semanas para entrar no mercado brasileiro com o produto – os obstáculos típicos do parceiro comercial nas primaveras de anos em que o fluxo comercial é fluido – e a fraqueza da demanda da China os obrigam a buscar outras opções e a indústria de lácteos uruguaia as encontra no continente africano.
A Argélia domina como o principal destino dentro do continente africano e é o segundo principal destino global para o leite em pó integral uruguaio. Os outros dois países do norte da África em que o produto foi colocado são Egito e Líbia, este último com volume crescente. Das 700 toneladas enviadas para a Líbia até agora este ano, 575 toneladas saíram em outubro. Certamente é nesses destinos, além de outros em que ainda não foi possível se aventurar, como Tunísia ou Marrocos, que o presidente da Conaprole se refere.
As projeções para o próximo ano indicam que as importações argelinas de leite em pó aumentarão em 2024, de forma que o país deve continuar sendo um destino transcendente para os produtos lácteos uruguaios, especialmente dada a expectativa de uma demanda mais moderada do Brasil.
De acordo com o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), em 2023 a Argélia aumentará as importações do produto em 5%, para 440 mil toneladas, e as manterá nesses níveis no próximo ano. Os importadores e processadores do setor privado da Argélia são os principais compradores do produto. Os processadores privados importam leite em pó integral para produzir leite reconstituído em embalagens longa vida a preço de mercado, bem como vários produtos lácteos, como iogurte e cremes de queijo. A Argélia consome cerca de 4,5 milhões de toneladas de produtos lácteos por ano, dos quais 55% provêm da produção nacional. O déficit é coberto com leite em pó importado.
O segundo principal destino do leite em pó integral no continente africano é a Nigéria, com mais de 4 mil toneladas. Este país é o mais populoso de África e é o alvo quando se projeta o início da recuperação econômica do continente africano.
A África tem atualmente 54 países. Até agora, em 2023, o Uruguai colocou leite em pó integral em 19 deles, e só no mês de outubro são 13 países. No acumulado do ano até a terceira semana de outubro, o Uruguai exportou 41.942 toneladas de leite em pó integral para o continente africano, 32% do volume total.
Entre outros produtos lácteos, poucos ainda são exportados para a África. O destaque é Marrocos como destino da manteiga, onde foram embarcadas 524 toneladas (quarto principal destino do produto) e alguns embarques de queijo para Angola.
A África é deficiente em produtos lácteos e precisa importar uma parcela significativa de seu consumo. Na medida em que o poder de compra do continente começar a crescer (diz-se, estão reunidas as condições para que ele gradualmente tome o rumo que o Sudeste Asiático iniciou há algumas décadas), sua demanda se tornará mais importante. O Uruguai deve estar bem posicionado para quando esse momento chegar.
O artigo é do engenheiro agrônomo, Rafael Tardáguila, para o El País Digital. Traduzido e adaptado pela equipe MilkPoint.