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A Perdigão entra no leite: reflexões

MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

EM 07/06/2006

6 MIN DE LEITURA

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Nas últimas duas semanas, o setor recebeu duas notícias importantes, reunidas em um só pacote: a recuperação da Parmalat, agora sob a gestão do fundo Laep, e a aquisição da Batávia pela Perdigão. A primeira é importante, antes de tudo, pelo peso que a Parmalat teve na história recente do setor leiteiro. A aprovação do plano de recuperação e a aquisição por um novo controlador dá cartão verde para que a empresa acione os motores e volte a ser um dos protagonistas relevantes do mercado de lácteos.

A segunda - a aquisição da Batávia pela Perdigão - é importante por vários motivos e, por isso, será o tema de nosso artigo. Primeiro, estamos falando de uma grande empresa, de capital nacional, que entra no setor pelo portão da frente, adquirindo a 11ª maior captadora de leite do país, com faturamento de R$ 640 milhões em 2005 e com uma marca forte do sul do país. No recém-publicado Anuário Exame 2006-2007, a Pedigão aparece na décima posição entre as 400 maiores do agronegócio, curiosamente, na posição seguinte à Nestlé. A Perdigão faturou R$ 5.873 milhões em 2005, tendo lucro líquido de nada menos do que R$ 361 milhões. É, portanto, grande e lucrativa, ainda que este ano esteja sendo um dos mais difíceis para o setor em que atua.

Segundo, trata-se de uma empresa com presença mundial no setor de alimentos, algo que se torna especialmente relevante ao considerarmos o potencial crescimento das exportações de lácteos. A Perdigão pode ser considerada uma multinacional brasileira e, certamente, trará seu know-how e sua presença no comércio exterior de carnes para o setor lácteo. O analista Rafael Weber, da corretora Geração Futura, dá razão para essa hipótese ao mencionar que, "com a aquisição, a Perdigão confirma o plano de se tornar uma empresa global de alimentos". Interessante.

Terceiro, a Perdigão apresenta práticas de gestão tidas como modelo pelo mercado, a ponto de ter sido considerada pela Fundação Getúlio Vargas, no Anuário Exame, a melhor empresa do setor de frigoríficos e couro. Aliás, méritos aqui para a Itambé, considerada a melhor cooperativa do país, mais uma prova do acerto da gestão e da estratégia da empresa no mercado de lácteos.

Quarto, e não menos importante, o fato de experimentarmos a entrada de uma empresa que trabalha muito bem as suas marcas - assim como a Sadia - é algo positivo, em um setor em que, salvo exceções, propaganda e gestão das marcas não são propriamente o ponto forte.

Por tudo isso, por ser a Perdigão uma grande empresa, com marcas fortes, com excelência em gestão e multinacional (sem contar a possibilidade de, com esse movimento, abrir o apetite de seu eterno concorrente, a Sadia, para os lácteos), pode não ser exagero dizer que a entrada da empresa do setor é equivalente, em termos de importância, ao próprio crescimento da Parmalat nos idos de 1990. Em outras palavras, é um fato que pode mexer com o setor. A Perdigão, através da Batávia, não veio para ser coadjuvante, mas sim para estar no pelotão de frente, caso contrário essa aquisição não faria sentido, dado o seu porte.
 

"Pode não ser exagero dizer que a entrada da empresa do setor é equivalente, em termos de importância, ao próprio crescimento da Parmalat nos idos de 1990"


No ano passado, escrevi, nesse espaço (clique aqui para ler), que a entrada da Aurora no setor de laticínios poderia servir de exemplo para incursões de outros pesos pesados da área de embutidos. As sinergias seriam várias: acesso aos milhares de pontos-de-venda (inclusive padarias e outros canais de distribuição, diminuindo a dependência do grande varejo), marcas fortes e cadeia de frio já existente no processo de distribuição. A estas sinergias, juntou-se outra, talvez o catalisador: a diluição de riscos, após o surgimento da gripe aviária, que poderia colocar o negócio principal em risco.

A hipótese naquela época formulada parece hoje correta: não só a Perdigão adquiriu uma grande empresa do setor de laticínios, como agora o mercado já fala em uma possível investida da Sadia, na mesma direção, embora a empresa não comente rumores. Os investidores, por sua vez, reconheceram que o movimento foi oportuno, refletindo em elevações significativas nas cotações da Perdigão: na última semana de maio, os papéis da empresa registraram valorização de 16,30%, a maior dentro da carteira do Ibovespa, as ações que compõem o índice de variação da Bolsa de Valores. De 25 de maio (data da aquisição) até o dia 02, as ações se valorizaram assombrosos 33,46%, embora o mercado admita que estavam mesmo baratos. A figura abaixo traz as cotações em R$/ação e mostram a enorme elevação após a notícia da aquisição.

 


Fonte: Invertia

A elevação das ações significa que a empresa passa a valer mais, aos olhos do mercado. Como o valor reflete a expectativa dos resultados futuros, na prática os investidores entendem que a Pedigão poderá lucrar bem mais do que lucra hoje, atuando somente na área de embutidos. "Foi um negócio excepcional", sintetiza Christian Klotz, da Fama Investimentos. Ou seja, interpretando a colocação do analista, a Batávia saiu barata pelo que pode gerar nas mãos da Perdigão.

A receptividade ultra-favorável da entrada da Perdigão no setor de laticínios pode ser verificada de outra forma. Detectou-se, no mercado financeiro, uma migração intra-setorial, ou seja, diversos investidores, com o intuito de manter posição no setor de alimentos, mas insatisfeitos com o desempenho dos papéis da Sadia, passaram a apostar na Perdigão, uma clara demonstração do otimismo embutido (com o perdão do trocadilho) na aquisição da Batávia, além de representar uma pressão para que a Sadia se movimente. De novo, Rafael Weber: "o potencial de crescimento em lácteos é muito grande". Mais uma vez, interessante.

Pausa para reflexão. São conhecidas por todos nós as dificuldades do setor lácteo. São comuns queixas como a enorme dependência do grande varejo como canal de distribuição, espremendo as margens; a multiplicidade das marcas, dificultando a fidelização dos clientes e comprometendo o poder de negociação das empresas; a carga tributária, as fraudes e a informalidade existentes no setor; o baixo consumo interno, sempre dependente da renda, que teima em não crescer de forma contínua; as importações com dumping, e por aí vai. De repente, chega uma empresa estruturada, lucrativa, com marca forte, exportadora e com gestão modelar, adquire uma empresa de lácteos e o mercado comemora, afirmando tratar-se de uma jogada de mestre, em um setor com enorme potencial de crescimento! Como pode?

É para pensar. Se sua empresa considera o mercado de lácteos um osso duro de roer, cheio de dificuldades e com baixa rentabilidade, acredito ser prudente analisar com mais profundidade essa movimentação. Afinal, embora erros estratégicos existam mesmo entre empresas excelentes, podendo a Perdigão ter se equivocado em sua análise, talvez seja um ótimo momento para fazer uma radiografia de sua empresa, re-avaliando a estratégia competitiva, a gestão de processos e a execução.

Tudo somado, a entrada da empresa deve ser positiva para o segmento de lácteos. Diz-se que todo setor, para ser atrativo, precisa de bons líderes, ou seja, empresas cujos movimentos preservem o mercado e contribuam para que o valor seja mantido e ampliado. Líderes que não sabem fazê-lo tem o poder de trazer todo o mercado para baixo, dissipando o valor agregado existente. Considerando que a Perdigão veio para ter um papel de destaque, sob esse ângulo, o setor parece ganhar mais um potencial líder digno da posição.

Será interessante, sem dúvida, acompanhar os movimentos da empresa nesse novo mercado, como dizem os analistas, de enorme potencial de crescimento.

MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

Engenheiro Agrônomo (ESALQ/USP), Mestre em Ciência Animal (ESALQ/USP), MBA Executivo Internacional (FIA/USP), diretor executivo da AgriPoint e coordenador do MilkPoint.

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MÁRCIO BARBOSA LIMA DE OLIVEIRA MACÊDO

ITABUNA - BAHIA - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 09/08/2006

Sem sombra de dúvidas, a entrada da Perdigão no mercado lácteo só trará benefícios para a cadeia produtiva. Uma empresa desse porte vai acabar "puxando" outras empresa para o setor, e conseqüentemente aumentará as exportações. É isso que nós, produtores, esperamos.

Por ser uma empresa nacional, ficamos na esperança de que o tratamento dado aos produtores seja diferente ao tratamento que as multinacionais dão a todos nós.

Fico na esperança de que surja alguma empresa interessada em se instalar no sul da Bahia, pois, só assim, sairemos da miséria que nos é imposta pela Nestlé.

MÁRIO SÉRGIO FERREIRA ZONI

PONTA GROSSA - PARANÁ - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 21/06/2006

A compra de parte do controle acionário pela Perdigão, tem muitas outras nuances do que as demonstradas. A primeira delas é ressaltada acima, foi adquirido parte do controle acionário da Batávia e não toda a empresa. Este controle acionário é motivo de discussões jurídicas, sobre qual é ou era a real parte pertencente a Parmalat.



A segunda questão é que a Batávia, na verdade, é uma junção das Cooperativas Batavo, Capal, Castrolanda e Agromilk com uma empresa privada, no caso, a Parmalat. As primeiras entrariam com o fornecimento da produção, e a segunda com suas habilidades e canais de processamento, distribuição e comercialização.



A situação deverá ser a mesma, e aí entra o "nó" da questão. Quem compra quer comprar pelo menor preço possível, e quem vende quer o maior preço possível, e uma relação de ganha-ganha quase nunca acontece na prática.



A definição de como uma empresa sem nenhum <i>background</i> no setor de aquisição de leite gera muitas indefinições na região de como a empresa se portará. A mesma atuará como parceira de suas sócias que são cooperativas de produção, ou atuará como a Parmalat? Estas parcerias, se acontecerem, serão pontuais ou com planejamentos a longo prazo? Como se resolverá a questão dos produtores hoje não associados às cooperativas, os chamados terceiros? Caberá à existência do <i>pool</i> de comercialização, ou o mesmo desaparecerá?



Como se vê, essas são apenas algumas das questões que passam pela cabeça dos produtores e técnicos envolvidos com o sistema. Esperamos que as mesmas tenham o melhor desfecho possível para ambas as partes, e que esta aquisição venha a somar para a região, e não criar os imensos problemas que ocorreram na entrada da Parmalat.
PAULO FERNANDO ANDRADE CORREA DA SILVA

VALENÇA - RIO DE JANEIRO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 10/06/2006

O artigo sobre a aquisição da Batávia pela Perdigão nos motiva a continuar trabalhando na produção de leite. Estamos mesmo precisando da visão estratégica de lideres, como o Marcelo, que, comentando e incentivando os grandes investimentos no setor, motivam toda a cadeia de lácteos. Obrigado por seu trabalho.



Paulo Fernando

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