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NZ e a trilogia do leite: uma visão de dentro da porteira aos profissionais brasileiros - Parte II

POR GUILHERME RISTOW

LEITE NO MUNDO

EM 13/11/2019

8 MIN DE LEITURA

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O maior desafio da estação de parição no sistema de produção neozelandês são as diferentes categorias de animais que são manejados, sendo quatro no total:

  • as vacas gestantes em transição ou ("springers");
  • as vacas no pós-parto ("colostrum");
  • as vacas lactantes ("milkers") e;
  • os bezerros.

O primeiro conceito na hora de planejar a dieta  é considerar que cada categoria possui diferentes requerimentos de matéria seca (MS) e energia metabolizável, buscando alocar primeiramente o alimento de melhor qualidade para as vacas no pós parto que se encontram em balanço energético negativo, em seguida para a o grupo das lactantes e por último para "springers".

Vale lembrar que a quantidade de animais em cada categoria se altera constantemente, fazendo com que o manejo de quantificar e realocar a alimentação seja dinâmico e diário. Para auxiliar o fazendeiro na hora desse planejamento foi criado o "spring rotation planner", ou plano de rotação de primavera, que nada mais é que uma ferramenta que divide a área total da fazenda em porções menores, criando um rotacionamento de piquetes. Assim, o produtor saberá quanto de área (hectares) fornecer aos animais por dia. Para lançar mão dessa estratégia, o fazendeiro deve primeiramente estimar a quantidade de MS de forragem disponível na fazenda, questionando-se com relação aos seguintes aspectos.

  • Quanto de forragem eu tenho hoje e quanto eu terei semana que vem?
  • Qual o tamanho da sobra ou do déficit de alimento?
  • Qual o resíduo pós pastejo de cada piquete?

Aqui na fazenda utilizamos o "disk meter" ou "prato ascendente" para responder os questionamentos acima, estimando por meio do seu uso a quantidade de MS de pasto disponível por hectare, a taxa de crescimento das folhas e os resíduos pós pastejo.  


Prato ascendente

Essa estratégia usada durante a estação de parição nos auxilia a não usar toda a forragem disponível antes do fim da primeira rotação de piquetes, garantindo desta maneira que tenhamos alimento suficiente para todos os animais até que o sistema entre em equilíbrio, que somente irá ocorrer na metade da primavera, quando o crescimento de MS por hectare é igual a demanda de consumo de MS pelos animais.

Vale ressaltar que esse planejamento é diferente em cada fazenda, dependendo de variáveis como área disponível, qualidade do pasto, uso ou ausência de irrigação (rebrote mais acelerado), nível de produção de sólidos de leite, uso de fertilizantes e o tamanho do rebanho. Outro detalhe é que essa ferramenta não confirma se estamos alimentando a quantidade de energia metabolizável adequada por vaca, ela apenas nos auxilia a criar um rotacionamento de pasto, estipulando em quantos dias cada área poderá ser acessada novamente pelo rebanho.

Para avaliar consumo animal e resultados produtivos, o técnico deverá observar cada piquete individualmente, avaliando a estrutura do pasto disponível antes do acesso, o resíduo pós pastejo e o comportamento animal ao longo do dia, criando dessa maneira uma correlação entre desempenho e ingestão pelo animal, produção de pastagem e sólidos de leite produzidos.

A chave para usar o "spring rotation planner" é garantir que os animais não acessem a mesma área antes de ela estar em condições adequadas para novo pastejo. No sistema de produção kiwi é considerado como ideal a planta se encontrar no estágio 3 do rebrote. Na prática você caminha pelo piquete coletando algumas amostras de planta, fazendo ao mesmo tempo a estimativa de quilogramas de MS por hectare com o uso do disco ascendente, avaliando se as folhas realmente estão no estágio 3 e mirando uma cobertura de pasto na hora do acesso animal de 2,9 toneladas de MS por hectare. Outro manejo de pastagem aconselhado por aqui é evitar inadequados resíduos deixados pelas vacas nos pós pastejo, os quais levam a uma diminuição da qualidade e da velocidade do próximo rebrote, bem como a queda do conteúdo de energia na folha.

O recomendado durante a primavera é retirar os animais quando eles alcançarem um resíduo de 1,6 toneladas de MS por hectare.  Se o produtor seguir essas regras, principalmente no início da estação de parição, haverá grandes chances de se alcançar o dia do equilíbrio de produção com sucesso, quando o crescimento de MS por hectare de pastagem equivale a demanda animal de ingestão de energia diária, entrando assim em um modo automático de produção até o final da temporada.

Aqui na fazenda no início da primavera e início da estação de parição rotacionávamos os 300 hectares de área em uma velocidade de 120 dias, ou seja, podíamos fornecer por dia uma área de 2,5 hectares para as diferentes categorias animais (vacas secas em transição, animais no pós-parto e lactantes). Assim que a primavera se estabelece, as temperaturas se elevam, o sol brilha mais intensamente e o número de vacas produzindo aumenta, o rotacionamento de piquetes se acelera para apenas 20 dias, nos permitindo assim fornecer diariamente 15 hectares de pasto fresco e de boa qualidade para os 800 animais em lactação. 


Grama pós pastejo e pré pastejo

O último aspecto que envolve a estação de parição ou "calving season", é o manejo, criação e destino dos bezerros nascidos, e dependerá principalmente da área disponível e do interesse econômico de cada produtor. Aqui na Nova Zelândia em cada nova temporada 1,5 milhões de bezerros são criados, sendo classificados em três diferentes categorias; bezerras de reposição, as quais são o futuro da sua fazenda e demandam atenção redobrada; os bezerros criados para corte e os "bobbys calves", que são animais sem valor zootécnico vendidos ao frigorífico nos primeiros dias de vida para a produção de vitelo e utilização do couro.

Quando se fala em criação de terneiros, para obter sucesso nessa atividade é essencial encontrar pessoas certas para tal tarefa, ou seja, alguém que tenha empatia com animais jovens, goste do trabalho e tenha facilidade em identificar problemas. Outro fator importante são os barracões utilizados para criar os animais nos primeiros dias de vida, os quais devem estar limpos, secos, bem ventilados e possuir piquetes com pasto anexados, onde os bezerros serão criados até o desmame.

Aqui na fazenda possuímos área de pastagem suficiente para criar praticamente todos os animais que nascem, desta forma selecionamos 700 bezerros para serem criados, ou seja, 250 terneiras com fenótipo leiteiro para reposição do plantel (Kiwi-cross , Jersey e Holandês) e 450  animais com aptidão para corte (Hereford, “White faces” e Abeerden angus). O manejo de criação dos bezerros inicia com a separação do recém-nascido do pé da mãe nas primeiras horas de vida, fornecendo quatro litros de colostro através de sondagem esofágica, desinfecção do cordão umbilical com iodo a 10%, colocação do brinco com número e do chip de radiofrequência NAIT (National Animal Identification and Tracing) ou em português, Sistema Nacional de Identificação e Rastreamento.

Na primeira semana de vida os animais são alojados dentro do barracão e alimentados individualmente com três litros de leite duas vezes ao dia, possuindo acesso a feno, ração e água fresca. Em torno de uma semana de vida os animais são transferidos para os piquetes com pastagem, geralmente formando rebanhos de 50 animais, permitindo assim que façamos o uso do "alimentador móvel" ou "mobile milk feeder". O investimento inicial para adquirir esse equipamento é um pouco oneroso, porém ele é extremamente prático, pode ser rebocado, possui motor próprio que faz a homogeneização e ejeção do leite e posterior auto-limpeza, permitindo assim economizar com mão de obra, tornando-se vantajoso.

Nesse sistema os bezerros ingerem 6 litros de leite uma vez ao dia, restringindo  o lácteo e incentivando o animal a procurar outras fontes de energia, como feno, ração e pastagem, estimulando as papilas ruminais a se desenvolverem, fazendo com que essa transição nos permita substituir o alimento mais caro da dieta (o leite) pela pastagem.

O desmame dos animais é feito de acordo com a característica fenotípica. Novilhas Jersey são desmamadas aos 70 kg, Kiwi-cross aos 80 kg e Holandesas aos 90 kg. A descorna dos animais acontece antes das 6 semanas de idade, sendo realizada a sedação, aplicada a anestesia local e os cornos removidos por cauterização. Outra novidade que considero relevante compartilhar com o leitor do ramo leiteiro é a estratégia usada durante a estação de monta que afeta diretamente o "calving", que é fazer o uso de sêmen de touro Hereford na inseminação das vacas com fenótipo Holandês.

O bezerro que nasce dessa cruza é chamado de “White face” e ele é um animal que eu considero espetacular, possui o corpo todo preto e a cara branca, sendo usado como vacas de cria para corte ou bois para engorda, pois possuem facilidade de parto e boa característica de carcaça. O próprio terneiro em si possui bastante valor de mercado, podendo ser vendido nos primeiros dias de vida ou ainda desmamados, trazendo uma renda alternativa para os produtores que não possuem estrutura e área para criá-los nos pós desmame.

Uma última vantagem para os produtores de leite que decidirem utilizar essa estratégia é que algumas genéticas de sêmen Hereford possuem um período de gestação mais curto em relação a touros Holandeses e Jersey, o que literalmente significa parir e entrar em lactação mais cedo, permitindo assim entregar mais quilogramas de sólidos de leite por temporada. 


Mobile feeder


Novilhas de reposição


Animais White faces


Barracão de recém nascidos

O último bezerro da estação de parição aqui da fazenda nasceu no dia 25 de outubro de 2019, encerrando oficialmente o “calving season, iniciando assim uma nova etapa do ciclo de produção da Nova Zelândia, o mating, ou estação de monta. Nessa fase nos deparamos com novos desafios, todos os animais encontram-se vazios, em puerpério e com inadequado escore corporal. Mudamos assim as estratégias empregadas, no intuito de garantir que todos as vacas estejam ciclando até novembro e fiquem prenhes até o início de dezembro, no entanto comentarei com mais detalhes sobre esse assunto no próximo artigo da trilogia. 

De momento, estamos ordenhando 800 animais duas vezes ao dia. Produzimos praticamente só a pasto e já entregamos no acumulado da temporada 908.0000 litros de leite, 44.000 kg de gordura e 34.000 kg de proteína. De uma maneira geral, tem sido gratificando acompanhar de perto a produção animal na Nova Zelândia, podendo compartilhar com o leitor brasileiro como aqui eles elevaram a produção leiteira neste patamar, transformando pasto em sólidos de leite com alta eficiência, atrelado ao alto nível de bem-estar animal, baixo custo com alimentação, evolução genética do rebanho, tecnologia de ponta, conhecimento, excelente manejo de pastagem e respeito ao meio ambiente, que combinados, tornam a atividade leiteira apaixonante e muito atrativa.

Confira a parte I deste artigo clicando aqui. 

GUILHERME RISTOW

veterinario formado no CAV-UDESC LAGES,atualmente trabalha em uma fazenda de gado leiteiro no estado de Canterbury-Nova Zelândia.

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SÉRGIO ELY VALADÃO GIGANTE DE ANDRADE COSTA

CACHOEIRA PAULISTA - SÃO PAULO - INDÚSTRIA DE LATICÍNIOS

EM 26/02/2020

Muito bom Guilherme. Terias email para contato ? Pode me enviar um email no sergio@agromeq.com.br tenho muito interesse e visitar este projeto e trocar ideias contigo.Atenciosamente,
Sérgio Costa Empresa: Fazenda São Bento- www.agromeq.com.br
MATEUS HENRIQUE SILVA LOBO

PRODUÇÃO DE LEITE

EM 14/11/2019

Belo artigo, estou trabalhando na Nova Zelandia ha pouco tempo, em uma fazenda que faz Winter milk com barn. O artigo retrata muito bem o sistema, parabens

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