Mamadeira, balde com bico, ou apenas balde: qual melhor método para aleitamento?

Qual é o melhor método para aleitamento? Mamadeira e balde com bico, ou apenas o balde? Essa é a pergunta do milhão para quem está envolvido diariamente nas atividades do bezerreiro. 

Se fosse possível uma terneira nos responder essa dúvida, ela provavelmente escolheria um dos métodos que envolve o uso do bico, já que se assemelham mais a mamada natural na vaca. Porém, essa escolha seria baseada unicamente no seu comportamento inato de mamar. 

Qual melhor método de aleitamento?  

A escolha do melhor método de aleitamento deve ser baseada na análise de outros pontos extremamente importantes para o sucesso do aleitamento, além do comportamento natural do animal.  

A higienização é de longe um dos fatores que precisam de maior atenção para a escolha do método, pois sem ela todas as formas de fornecimento do leite são prejudicadas, trazendo grandes riscos de contaminação às terneiras.  

Outros pontos como tempo de ingestão do leite, diâmetro de abertura dos bicos, mão de obra durante o fornecimento do leite, além da facilidade em realizar o manejo, fazem parte da escolha do melhor método. 

Mamadeira com bico para as bezerras leiteiras 

Considerado o método mais semelhante ao natural, a mamadeira com bico possui ótimas vantagens, mas é claro que quando mal conduzido, o método apresenta falhas. 

Para isso vamos desbravar os pontos mais importantes no aleitamento com mamadeira.  

Imagem 1. Aleitamento por mamadeira.

Higienização: a higienização da mamadeira é um pouco mais trabalhosa, visto que não é possível fazer a limpeza interna diretamente com a mão, sendo necessário o auxílio de uma escova ou esponja apropriada.

E aqui vai a receita para a limpeza da mamadeira após o aleitamento (a receita vale para os baldes também):  

1. Lavar com água morna (32°C); 

2 - Mergulhar em água quente a 60°C, com 1% de detergente alcalino clorado; 

3 - Esfregar com escova em água quente (60°C); 

4 - Enxaguar em solução de água fria; 

5 - Pulverizar com solução de dióxido de cloro (1 a 3 mL/L); 

6 - Deixar o equipamento secar completamente; 

7 - Antes de usar, pulverizar novamente com solução de dióxido de cloro (1 a 3 mL/L). 

(AZEVEDO et.al., 2022)

Os três próximos pontos estão diretamente ligados:  

Diâmetro de abertura do bico: o furo dos bicos deve ser pequeno de modo que quando virar a mamadeira com o bico voltado para o chão, não saia leite pelo orifício. Recomenda-se que a abertura seja realizada em formato de cruz, ou apenas um ponto com o auxílio de uma agulha. 

O furo de pequeno diâmetro no bico reduz drasticamente as chances de ocorrer falsa via (leite direcionado para o pulmão ao invés do abomaso), além de permitir que a terneira consuma o leite lentamente, sentindo-se mais saciada. Vale salientar que, para que a terneira sinta-se satisfeita ao finalizar a ingestão, se atentar apenas ao tamanho do furo do bico não é suficiente, a quantidade de leite fornecida também importa.  

Tempo de ingestão do leite: totalmente ligado ao item anterior, quando o tamanho do furo do bico é o ideal, a bezerra vai consumir o leite por um tempo muito maior. Um tempo prologando de ingestão é uma vantagem quando pensamos no bem-estar da terneira, já que naturalmente ao pé da vaca a bezerra levaria em torno de 7 a 10 minutos para ingestão por mamada. 

Ainda, devemos lembrar de que nas fazendas leiteiras as bezerras recebem leite de 2 a 3 vezes ao dia, com intervalos entre mamadas relativamente longos, enquanto que na natureza os bezerros mamam numa frequência de 5 a 10 vezes em um único dia.  

Ou seja, comumente nas fazendas leiteiras, as bezerras recebem o leite em uma frequência menor e consomem mais rápido o volume fornecido, mas o fornecimento por meio da mamadeira permite que ela leve mais tempo para consumir o leite quando comparado com o balde (sem bico). 

Mão de obra: o uso de mamadeiras pode ser desvantajoso quando analisamos esse fator. Ligado diretamente ao tempo de ingestão e consequentemente ao tamanho do furo do bico, o uso de mamadeiras torna o manejo mais demorado. 

O que acontece muito vezes é a tentativa para acelerar esse processo, fazendo uma abertura maior do que a recomendada no bico da mamadeira, correndo o risco de acontecer a falsa via, além do fechamento insuficiente da goteira esofágica.  

Uma alternativa e já muito utilizada nas fazendas leiteiras, são pequenas estruturas metálicas (ou até mesmo de madeira) que servem como suporte para a mamadeira, dessa forma o tratador pode fornecer leite para várias bezerras ao mesmo tempo.  

Imagem 2. Aleitamento por mamadeira com suporte. 

Balde com bico para bezerras leiteiras 

O balde com bico não difere muito do método com mamadeira. Na realidade, o balde com bico é o mesmo mecanismo e os pontos considerados anteriormente valem também para esse método.  

Higienização: a higienização interna do balde pode ser realizada mais facilmente quando comparamos com a mamadeira. No entanto, a retirada do bico deve ser realizada para garantir a completa remoção dos resíduos de leite que restaram no orifício do balde.  

Diâmetro de abertura do bico e tempo de ingestão: quanto ao diâmetro de abertura do bico e tempo de ingestão, as recomendações são as mesmas do método com mamadeira.

Mão de obra: a maioria dos baldes com bico disponíveis hoje no mercado já contam com a estrutura de suporte, sendo possível alimentar várias terneiras ao mesmo tempo.  

Um aspecto importante para se atentar durante a instalação dos baldes com bico é altura. A recomendação é em torno de 45 a 60 cm do chão (semelhante a altura que o teto de uma vaca fica do chão). 

Para o método de aleitamento por meio dos baldes com bico, ainda existe o aleitador coletivo com a vantagem de permitir que várias bezerras consumam o leite por meio do mesmo recipiente.   

Para esse tipo de aleitador deve-se priorizar agrupar bezerras com idades e pesos semelhantes, para que não exista muita diferença de consumo de leite entre elas.  

Vídeo 1. Aleitamento por balde com bico.

Fonte: Fernanda Antunes.

Balde para bezerras leiteiras 

O método de aleitamento por baldes também é muito utilizado nas fazendas leiteiras. Bastante vantajoso para algumas fazendas, o método merece destaque para alguns pontos. 

Imagem 3. Aleitamento por balde.

Higienização: como não há bico e nem os orifícios no balde, a limpeza é facilitada em relação aos outros métodos. A recomendação é a mesma da limpeza de mamadeiras já citada anteriormente. Lembrando que a limpeza deve ser realizada tanto na parte interna como externa do balde. 

Tempo de ingestão do leite: o aleitamento por meio de balde normalmente é escolhido por esse fator, já que as bezerras consomem o leite muito mais rápido nesse método, o que consequentemente diminui a mão de obra.

Por esse motivo, as chances de acontecer a conhecida mamada cruzada e a mamada não nutritiva são mais altas no aleitamento com balde. Com o consumo mais rápido do leite, as bezerras podem não se sentirem saciadas e após o consumo continuam com o reflexo de mamar em outras bezerras (se tiverem o contato direto), objetos ou paredes do bezerreiro.  

Vale ressaltar, no entanto, que a mamada cruzada ou não nutritiva pode acontecer em qualquer método e em muitos casos está atrelada à fome.  

Mão de obra: por conta da ingestão mais rápida do leite, nesse método também há menor tempo investido durante o aleitamento, além de que a maioria das fazendas que adotam esse sistema possuem uma estrutura metálica para dar suporte aos baldes, o que possibilita aleitar uma grande quantidade de bezerras ao mesmo tempo. 

Afinal, qual método de aleitamento escolher?  

É importante destacar que alguns estudos já demonstraram que independentemente do método não há diferenças no ganho de peso das bezerras.

É fato que a higienização é um dos principais pontos quando falamos em aleitamento e dentro disso, a facilidade de limpeza e praticidade no dia a dia desse manejo. Independentemente do método, a boa higienização deve ser preconizada.  

Quando pensamos no bem-estar das bezerras, a mamadeira e o balde com bico são os preferidos, por se tratar de métodos que se assemelham mais ao comportamento inato. Normalmente, pelo maior tempo de ingestão de leite nesses dois métodos, as chances de ocorrer a mamada cruzada ou não nutritiva é menor, mas lembrando que o volume de leite também importa para evitar que isso ocorra.  

O método com balde pode ser uma alternativa interessante principalmente quando pensado na praticidade do manejo (tanto no processo de higienização, quanto no menor tempo investido para aleitar). Para propriedades com escassez de mão de obra, pode ser um caminho viável.  

Todos os métodos funcionam quando bem manejados e a escolha deve ser baseada no que melhor se adapta a realidade da fazenda leiteira 

Mas não se esqueça que para a escolha certeira, os pontos higienização, praticidade e bem-estar das bezerras devem ser levados em consideração.  

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Fonte consultada: Manual de Boas Práticas na Criação de Bezerras Leiteiras - Maternidade, parto,
cuidados iniciais e colostragem, 2022. Autores: Rafael Alves de Azevedo, Paula Marques Tiveron, Sandra Gesteira Coelho e Carla Maris Machado Bittar. 1ª Edição. 50 p.

Imagem da capa: Fernanda Antunes.