ESQUECI MINHA SENHA CONTINUAR COM O FACEBOOK SOU UM NOVO USUÁRIO
FAÇA SEU LOGIN E ACESSE CONTEÚDOS EXCLUSIVOS

Acesso a matérias, novidades por newsletter, interação com as notícias e muito mais.

ENTRAR SOU UM NOVO USUÁRIO
Buscar

Conhecendo a New Zealand Farming Systems Uruguay

MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

EM 28/09/2011

9 MIN DE LEITURA

3
0

Quando foi anunciado, em 2006, o projeto denominado New Zealand Farming Systems Uruguay ganhou as manchetes de periódicos e sites especializados no setor lácteo mundial.

Tratava-se de um projeto de produção de leite em larga escala, com o objetivo de, em um espaço de 5 anos (ou seja, em 2011), produzir cerca de 20% do leite uruguaio, em 50 fazendas de 280 a 320 hectares cada, com 1.000 vacas por fazenda, empregando os princípios de produção neozelandeses: baixo custo de produção, tendo como base o pastejo intensivo de forrageiras temperadas.

O projeto ganhou publicidade por se tratar de um investimento capitaneado pelo ex-CEO da Fonterra, além de sinalizar o primeiro passo em larga escala no sentido de procurar estender para novas regiões e países um modelo de produção bem sucedido no principal exportador de leite do mundo. Era a confirmação de que a capacidade de expansão da produção na Nova Zelândia era limitada, ou ainda que haveria lugares do mundo (como o Uruguai) em que a rentabilidade do capital investido poderia ser muito superior, dados os preços da terra e do trabalho muito inferiores.

De fato, os estudos iniciais visando a abertura de capital da NZFSU indicavam retorno sobre o capital até 5 vezes mais alto no Uruguai em comparação a Nova Zelândia.

No início, pode-se dizer que a empresa atirou no que viu e acertou no que não viu, como aliás ocorreu com todos naquele início de 2007. Com a repentina elevação dos preços dos lácteos, rompendo patamares nunca antes atingidos, o projeto que já parecia atrativo tornou-se uma potencial mina de ouro. Esse fato, aliado ao esperado aumento do valor da terra, fez com que o ritmo de aquisição de áreas para produção pela NZFSU aumentasse: era necessário adquirir o máximo de áreas o quanto antes, pois a valorização dos alimentos, entre eles o leite, elevando o valor da terra, afetaria o retorno sobre o capital do projeto.

Assim, nos dois anos que se seguiram, a NZFSU adquiriu cerca de 32.000 ha destinados a produção de leite no Uruguai, tomando a decisão que parecia correta naquele momento, marcado também pela ampla disponibilidade de capital no mercado.

A partir de agosto de 2008, com a crise financeira e com o enxugamento do capital disponível, o jogo mudou rapidamente de lado: já com a terra garantida, mas sem dinheiro para abrir novas fazendas e fazer o capital trabalhar (fora a terra, o custo para colocar um hectare em produção, com as vacas, gira entre US$ 10 e 12.000), a empresa amargou prejuízos, ampliados pela brusca redução na cotação do leite em pó no mercado externo, baixando para US$ 2.000 a tonelada, depois de passar dos US$ 5.000. O projeto foi sendo aperfeiçoado na medida do possível, até que, no ano passado, o fundo de investimentos Olam, de Cingapura, adquiriu o seu controle, com a missão de continuar sua expansão. Pode-se dizer que, de New Zealand, restou o nome.

Além das dificuldades externas, é evidente que um projeto desse porte poderia esbarrar em dificuldades, como a velocidade e a intensidade das mudanças propostas ao sistema de produção uruguaio, entre outros aspectos. Novas variedades de forrageiras, módulos de produção muito maiores do que a média, regiões com pouca ou nenhuma infra-estrutura, particularidades climáticas e de solo, além de uma cultura totalmente diferente foram e são aspectos que adicionam um grau extra de desafio.
 


(Foto 1) Manejo intensivo de pastagens temperadas

Conversando com alguns dos profissionais que estão desde o início, foi possível imaginar a tarefa considerável que o projeto se impôs: em várias propriedades, foi necessário construir represas, estradas, trazer a energia elétrica. Havia ainda, é claro, a dificuldade de aquisição dos animais na quantidade e na qualidade desejada pelos investidores - agora, o projeto está trabalhando cada vez mais com a genética neozelandesa, fazendo inclusive o kiwi-cross (jersey x holandês).

Soma-se a isso a suscetibilidade climática. A maior parte das fazendas está nas regiões central e este (ao todo 28.000 ha), onde os solos são rasos e há risco de prejuízo ao crescimento das forragens em função de secas cada vez mais freqüentes. Estas áreas têm terras mais baratas (US$ 4.000/ha) do que no oeste do país (US$ 10.000/ha), onde a empresa possui pouco mais de 3.000 hectares, a maior parte com fazendas já formadas.

Em função disso, o aumento da irrigação é fundamental. Segundo me foi informado, atualmente 20-25% da área aberta é irrigada, sendo o objetivo alcançar 50%. Para irrigar cerca de 10.000 ha adicionais e para instalar 17 a 18 novas fazendas, atingindo finalmente as 50.000 vacas ordenhadas (cerca de 600.000 litros diários) a empresa pretende levantar US$ 120 milhões.

 


(Foto 2) Afloramentos rochosos e solo raso são desafios.

 


(Foto 3) .contornados com irrigação e manejo intensivo

Não há dúvida que, ao entrar em uma das fazendas em produção, a diferença visual é impressionante. Ao invés dos prados amarelados, com pastagens nativas de baixa produtividade, nota-se gramíneas e leguminosas verdejantes, irrigadas e com boa lotação, parecendo, em um primeiro momento, uma típica fazenda neozelandesa.

Porém, ao se debruçar sobre o sistema, percebe-se que há diferenças importantes entre a produção da NZ e a desenvolvida pela NZFSU, cujo sistema, nas palavras do atual CEO do projeto, o consultor australiano David Beca, é muito mais parecido com o sistema australiano e sul africano do que com o neozelandês propriamente dito.

A começar, a produção não é estacional, como na Nova Zelândia. Além disso, o nível de suplementação é bastante superior, assim como a produção das vacas, que em média atinge 5.000 kg/ano, recebendo 2000 kg de ração por vaca/ano (entre 4,5 e 7,0 kg de ração/dia dependendo da produção), depositados no chão, ao longo das cercas que dividem os piquetes e a estrada.

Ainda que o pasto seja a base do sistema, que permite lotações entre 2,7 e 3,2/vacas/ha, há que se ter cuidado ao classificá-lo como um sistema a pasto, visto que este responde por cerca de 50% da ingestão de MS, complementada pela ração e pela silagem. Percebeu-se que um dos objetivos do projeto é aumentar a participação do pasto na dieta até 60%, resultando em custos mais baixos, já que o kg de MS do pasto custa US$ 0,04-0,07, contra US$ 0,12-0,20 do kg de MS da silagem.

O manejo de pastagens baseia-se em períodos definidos de 3 horas de pastejo por piquete, em um total de 12 horas/dia, com lotação fixa. A quantidade de forragem disponível é monitorada e a diferença que falta é suprida pelo volumoso conservado.

Com a lotação média de, digamos, 2,8 vacas/ha e 5.000 kg/vaca/ano, a produção total por área chega a 14.000 kg, sendo inferior (cerca de 11.500 kg) nas áreas de sequeiro e superior (até 18.000 kg) nas áreas irrigadas. O objetivo do sistema é produzir 1 kg de leite para cada kg de MS de pasto produzido. Assim, se a produção por área for de 18.000 kg de leite/ha/ano, cerca de 10.000 kg virão do pasto e o restante da ração e do silo.

A seca de 6 meses no centro do Uruguai, somadas à elevação dos preços dos insumos e da estratégia de aumentar a suplementação, fizeram com que os resultados do projeto tenham mais uma vez vindo negativos, de acordo com notícia divulgada pelo grupo em 05/09. No ano fiscal encerrado em 30 de junho, o prejuízo saltou de US$ 7,9 para US$ 8,7 milhões, apesar do preço do leite significativamente mais alto(passou de US$ 0,28 para 0,381/litro) e que fez com que a produção uruguaia aumentasse cerca de 15% nesse ano.

Segundo a matéria, os custos operacionais elevaram-se de US$ 20,9 para 47 milhões no último ano, anulando os ganhos de 91% na receita do projeto. Esses US$ 47 milhões de custo operacional aplicados sobre a produção de 105,3 milhões de litros resultam em custo de US$ 0,45/litro - um valor elevado considerando a realidade local, em que se busca, hoje, valores na faixa de US$ 0,28 a 0,34/litro. Por isso, a necessidade estratégica de elevar a irrigação e aperfeiçoar o uso de pastagens com o intuito de reduzir a dependência da suplementação que, de certa forma, mina o diferencial do sistema.

Vale colocar também que a elevação da suplementação tende a ser interessante à medida que os preços do leite se mantém em patamares historicamente altos - acima dos US$ 0,40/litro. Mesmo na Nova Zelândia, meca da produção a pasto, há hoje diversos estudos a respeito de novos parâmetros de suplementação, bem como produtores utilizando mais silagem e concentrado (veja aqui artigo sobre esse tema).

Em comunicado oficial, a empresa pondera que, sob condições normais de clima e dada a evolução do rebanho, a receita deverá crescer mais do que as despesas, sendo previsto um resultado positivo já em 2012, com melhoria ainda superior a partir de 2013. (veja aqui o report oficial, em inglês)

A expectativa é também melhorar os resultados zootécnicos. No exercício iniciado em 1/7, pretende-se chegar a 3 vacas por hectare, 5.500 kg/vaca/ano e 16.500 kg/hectare, o que auxiliaria na obtenção dos resultados.

A NZFSU chegará lá? Difícil saber, mas a julgar pela motivação da equipe- totalmente formada por uruguaios - captada no dia de campo realizado em 6/9, é bem possível que sim. Há claramente uma ênfase grande na capacitação de recursos humanos, e uma política de promoção de pessoas que se destacam, independentemente da área. O gerente de uma das fazendas, por exemplo, era um cozinheiro que mostrou interesse e capacidade de liderança. No evento, lá estava ele explicando em detalhes o manejo das pastagens. A empresa ainda tem a política de ter 25% do quadro formado por mulheres, algo pouco usual na área rural.

 


(Foto 4) Sistema conta com instalações simples, bem no modelo neozelandês

De fato, os recursos humanos são o gargalo principal de qualquer atividade que envolva intensificação e uma mudança de filosofia de trabalho. Um dos gerentes de unidade de negócios (composta de 5 fazendas), ao ser questionado sobre o principal desafio, foi direto: "fazer as pessoas compreenderem o sistema de produção".

Sistema esse que, na opinião do gerente de operações Rafael Secco, ainda está sendo desenvolvido. "Em uma escala de zero a dez, nos damos hoje nota 6 a 7, mas em breve chegaremos a 8,5-9,0", sentencia. É certamente essa a expectativa que os acionistas do projeto têm, visando obter o resultado do investimento, que continua promissor.

(Viajei ao Uruguai a convite da empresa PPG Wrightson, que possui as forrageiras utilizadas no projeto. Veja outra matéria sobre o tema aqui.)

MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

Engenheiro Agrônomo (ESALQ/USP), Mestre em Ciência Animal (ESALQ/USP), MBA Executivo Internacional (FIA/USP), diretor executivo da AgriPoint e coordenador do MilkPoint.

3

DEIXE SUA OPINIÃO SOBRE ESSE ARTIGO! SEGUIR COMENTÁRIOS

5000 caracteres restantes
ANEXAR IMAGEM
ANEXAR IMAGEM

Selecione a imagem

INSERIR VÍDEO
INSERIR VÍDEO

Copie o endereço (URL) do vídeo, direto da barra de endereços de seu navegador, e cole-a abaixo:

Todos os comentários são moderados pela equipe MilkPoint, e as opiniões aqui expressas são de responsabilidade exclusiva dos leitores. Contamos com sua colaboração. Obrigado.

SEU COMENTÁRIO FOI ENVIADO COM SUCESSO!

Você pode fazer mais comentários se desejar. Eles serão publicados após a analise da nossa equipe.

ALTAIR CARLOS GUZI

VIDEIRA - SANTA CATARINA - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 09/01/2012

Visitei a Nova Zelândia em novembro e fiquei impressionado com o manejo das pastagens inclusive na Ilha Sul onde a irrigação é inevitável pela baixa pluviometria da região. Tenho certeza que a minha região tem um bom potencial para produzir leite a pasto  

com auxilio de uma boa silagem e um pouco de ração.
JAMES SINCLAIR

SÃO PAULO - SÃO PAULO - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 03/10/2011

Olam e uma trading, que ja era accionista, nao um fundo.
ANTÔNIO ELIAS SILVA

CAMPO ALEGRE DE GOIÁS - GOIÁS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 28/09/2011

Os resultados do projeto demonstram que a irrigação é o caminho, pois o pasto é a fonte mais barata de MS.





A Elias

Assine nossa newsletter

E fique por dentro de todas as novidades do MilkPoint diretamente no seu e-mail

Obrigado! agora só falta confirmar seu e-mail.
Você receberá uma mensagem no e-mail indicado, com as instruções a serem seguidas.

Você já está logado com o e-mail informado.
Caso deseje alterar as opções de recebimento das newsletter, acesse o seu painel de controle.

MilkPoint Logo MilkPoint Ventures