No entanto, em função de uma queda, tanto na produção interna quanto nas importações, o consumo de carne ovina no Brasil em 2010 - considerando apenas a cadeia sob inspeção federal - sofreu um recuo de quase 12% em relação a 2009, fechando o ano com valor ao redor de 11,4 mil toneladas, como sinalizado no Gráfico 1, abaixo.
Gráfico 1 - Produção doméstica, importações e consumo interno, em mil toneladas.
A produção doméstica em 2010 caiu cerca de 7,29% devido a uma quebra de 24,8 mil cabeças no volume de abates, no entanto, a escala anual permaneceu acima do patamar das 300 mil unidades, conforme o Gráfico 2.
Gráfico 2 - Volume anual de abates inspecionados, em mil unidades.
Com relação à participação estadual na produção (Gráfico 3), com exceção do Rio Grande do Sul, Bahia e Sergipe, todos os outros Estados aumentaram a sua escala de abate, com destaque para São Paulo, Mato Grosso do Sul e Goiás, o que, infelizmente, foi insuficiente para tamponar a retração de 15,3 pontos percentuais nos abates gaúchos, em função da elevada escala de produção do Rio Grande, que permanece absoluto em sua posição de maior produtor e fornecedor de carne ovina do país.
Gráfico 3 - Participação estadual na produção doméstica, 2010.
Abaixo, o Gráfico 4 apresenta o volume mensal de abates inspecionados ("SIFados") ao longo do ano de 2010 e nos primeiros seis meses de 2011, sendo possível observar que, com exceção do mês de março, todos os outros meses tiveram variações positivas em suas respectivas escalas, possibilitando o fechamento do primeiro semestre do presente ano em alta de 7,65% em relação ao mesmo período de 2010, o que é um indicativo positivo para a produção doméstica em 2011. No entanto, como, geralmente, os abates se concentram mais no segundo semestre do ano, particularmente no último trimestre, é ainda precoce vislumbrar uma superação dos números praticados no ano passado.
Gráfico 4 - Volume mensal de abates inspecionados, em mil unidades.
Pelo segundo ano consecutivo, o volume das importações sofreu retração, apresentando em 2010 uma queda ao redor de 15% em relação a 2009, conforme o Gráfico 5. O fato se deve ao continuo decréscimo do rebanho de cria do Uruguai - o principal fornecedor de carne ovina do mercado brasileiro - que atingiu 4,14 milhões de cabeças em 2010, o menor valor de todos os tempos, com a situação se agravando em função de uma redução de 41,2 pontos percentuais no volume de abates no mesmo ano.
Gráfico 5 - Volume importado de produtos cárneos ovinos, em mil toneladas.
Pelo Gráfico 6, os resultados desse primeiro semestre mostram uma redução em torno de 5,1% no volume importado e, ao mesmo tempo, uma alta de 47% no valor das importações, ressaltando a fase de supervalorização da carne ovina no mercado internacional.
Gráfico 6 - Índice semestral das importações (2010 = 100).
Para 2011, a retração nas importações tende a se manter, uma vez que, entre janeiro e maio do presente ano, os abates recuaram 27,5% em relação ao mesmo período de 2010, sinalizando mais uma vez a ocorrência de uma quebra na produção uruguaia. Por outro lado, é possível que esteja se iniciando um processo de reconstituição do rebanho por meio da maior retenção de borregas, no entanto, ainda é cedo para afirmações.
Com relação aos outros fornecedores do Mercosul, como Argentina e Chile, ambos contribuiram apenas com 6,5% do volume total importado em 2010, uma vez que os embarques desses países são direcionados para a União Européia, ao contrário do Uruguai, que tem no Brasil seu principal cliente. Além disso, tanto Argentina quanto Chile, tem passado por problemas climáticos nos últimos anos, o que reduziu ou limitou a expansão dos rebanhos, sublinhando a limitada capacidade de nossos vizinhos em colaborar para sustentar o abastecimento do mercado interno brasileiro.
Com isso, 2011 parece ser um ano em que a produção doméstica se manterá nos patamares atuais e as importações apresentarão mais um recuo, comprometendo o consumo interno e sustentando os preços em altos níveis.
Esperemos para ver!
Fontes consultadas
INAC. Instituto Nacional de Carnes de Uruguay.
MAGP. Ministerio de Agricultura, Ganadería y Pesca de Argentina.
MAPA. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Brasil.
MDIC. Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior do Brasil.
MGAP. Ministerio de Ganadería, Agricultura y Pesca de Uruguay.
ODEPA. Oficina de Estudios y Políticas Agrarias - Ministerio de Agricultura de Chile.