Marcelo Pereira de Carvalho

Em épocas de preço baixo, os produtores tendem a cortar o que podem em seus custos de produção. É nestas horas que repensamos o uso de determinados alimentos ou ingredientes, ou que pensamos em voltar para 2 ordenhas (para quem já ordenha 3 vezes). No entanto, ao reduzir custos, é importante que se tome cuidado para não reduzir a receita, levando a uma situação pior do que a inicial.

Esta análise ocorre no dia-a-dia de todos. Imagine a seguinte situação: você está frente a um caso de deslocamento de abomaso e não sabe se vale a pena fazer a cirurgia ou descartar a vaca. Ou, ainda, você tem um bezerro bastante doente e não sabe se vale a pena medicá-lo. Os exemplos são inúmeros e estão presentes no dia-a-dia de todos os produtores e técnicos que atuam diretamente no setor.

As decisões acima devem ser tomadas a partir de análises simples, baseadas em conceitos econômicos. Em primeiro lugar, é preciso saber a diferença entre o "custo médio de produção" e o "custo marginal de produção". Ao se deparar com um item de custo, é preciso questionar de qual deles estamos falando. O custo médio de produção envolve tanto os custos fixos (depreciação, juros, etc) quanto os custos variáveis (alimentos, mão-de-obra, etc). Já para o cálculo do custo marginal deve-se excluir os custos fixos, devendo ser considerados apenas os custos variáveis: é o que realmente se gasta para produzir determinado item. A lógica é que as demais despesas já estão sendo pagas independentemente deste item analisado.

Por exemplo, no caso de uma vaca de leite, o custo marginal para produção é basicamente a soma dos custos dos alimentos diários que esta consome, aliado aos demais custos variáveis diretamente envolvidos com este animal, como os custos de ordenha e medicamentos. Conseqüentemente, as instalações não entram, a não ser que estejam lotadas e uma vaca a mais possa fazer a diferença, reduzindo a média de produção geral.

Podemos utilizar um exemplo com porcos para ilustrar o conceito de custo marginal. Isto evita de utilizarmos conceitos pré-estabelecidos que possamos ter com as vacas... Suponha que seu custo médio de produção seja $ 40 por porco, incluindo neste valor todos os custos fixos e variáveis, e que o preço de venda seja $ 35 por porco. Desta forma, você perde $ 5 por porco produzido.

Um dos porcos recém-chegados tem uma hérnia que, para ser operada, vai custar $ 15, com 100% de garantia de cura. Você deve escolher entre fazer a cirurgia ou matar o porco. Frente a esta decisão, 9 entre 10 técnicos ou produtores recomendariam matar o porco e não perder os $ 15 adicionais.

Porém, trata-se da decisão errada. A decisão de tratar ou não envolve o conceito de custo marginal, devendo-se considerar apenas os custos variáveis. Para fazê-la, seria preciso saber qual o custo diretamente envolvido com a criação daquele único porco.

Vamos supor que, no exemplo acima, o único custo marginal digno de nota, além dos $ 15 da cirurgia, seriam $ 10 de alimentação. Logo, com preço de venda de $ 35, o resultado de manter o porco operado gera R$ 10 (35 - 25) sobre o custo marginal. Deste modo, por pior que possa parecer, é mais negócio operar e manter o porco. Se a garantia de cura não for 100%, é preciso avaliar melhor a situação, ficando esta análise para uma próxima oportunidade.

Vale lembrar que se todos os porcos tivessem hérnia como rotina, esta deveria ser incorporada ao custo médio de produção. Portanto, ao encontrar uma situação como esta, é preciso:

a) decidir se é uma decisão marginal;
b) reconhecer se os custos são fixos ou marginais

Cuidado ao lidar com valores médios. Muitos produtores pensam em valores médios, como o custo médio para se produzir um litro de leite. A utilização destas médias na tomada de decisão levará à perda de oportunidades preciosas de aumento da rentabilidade. Pode-se dizer que decisões "médias" levam a fazendas médias.

Voltando ao caso do deslocamento de abomaso, fica claro agora que se trata de uma decisão marginal. Esta análise pode ser feita para colocação de ventiladores em um estábulo, para a aquisição de um novo equipamento de ordenha ou qualquer outro item de investimento, como para a entrada de uma vaca a mais no rebanho.

Comece a pensar marginalmente em suas decisões diárias.

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fonte: Dairy Herd Management, Outubro de 1997 e Agosto de 2000, por Marcelo Pereira de Carvalho