O Pinkeke pode se disseminar rapidamente, fato que dificulta o controle da doença, tornando as perdas econômicas mais significativas. Nos casos mais graves, pode afetar os dois olhos, comprometendo expressivamente o conforto do animal, dificultando o acesso ao alimento, e ainda, favorecendo a ocorrência de acidentes.
As perdas econômicas ocasionadas pelo Pinkeye estão associadas à perda de peso, à redução da produção de leite, e à cegueira. Deve-se destacar que esta doença afeta principalmente os bezerros na fase de aleitamento, prejudicando o desenvolvimento do animal. Com a redução de peso, o estresse causado pela dor e o desconforto, os bezerros afetados pelo Pinkeye tornam-se mais susceptíveis à ocorrência das doenças mais prevalentes nesta fase, como a diarréia, tristeza parasitária e pneumonia.
A Moraxella bovis é a bactéria causadora desta enfermidade. É uma bactéria gran negativa, que produz exotoxinas que infectam a córnea e a conjuntiva (Figura 1). As lesões causadas pelas exotoxinas desencadeiam um processo inflamatório que provoca edema da córnea e opacidade corneal. Com a redução da espessura corneal, em casos extremos, a pressão do humor aquoso pode provocar a ruptura da córnea, levando o animal à cegueira irreversível.
Além da Moraxella bovis, outras bactérias patogênicas da microbiota ocular colonizam as lesões, contribuindo para o agravamento do quadro. É importante ressaltar que já foram identificadas diferentes cepas da Moraxella bovis, sendo que algumas são mais patogênicas que outras.
Todos os fatores que podem irritar os olhos são fatores predisponentes, tais como poeira de estrada, poeira da manipulação de concentrados, capim alto, insetos, algum tipo de pulverização feita próxima à instalação dos animais. Além disso, há também os fatores que favorecem a transmissão da bactéria entre os animais: falta de higiene nas instalações, contato focinho-focinho de bezerros em aleitamento, higiene dos utensílios para aleitamento, frascos de colírio e as mãos dos funcionários. Há também relatos da hipovitaminose do tipo A acarretar a anormalidade epitelial e favorecer ocorrência do Pinkeye.
Perante aos fatores predisponentes enumerados acima, fica simples compreender porque a moléstia é mais comum durante o verão. Neste período do ano, há maior concentração de moscas, maior umidade, maior chance de contaminação bacteriana e também, maior radiação ultravioleta.
As moscas são um importante transmissor do Pinkeye e após ingerir a secreção contaminada, voam para outros vários animais, disseminando a bactéria. Após a cura, os animais tornam-se reservatórios da bactéria, podendo também apresentar o agente na secreção nasal e vaginal.
Os primeiros sintomas do Pinkeye são a produção abundante de lágrimas, e o fato do animal tentar ficar com os olhos parcialmente fechados. Em seguida, ocorre o aparecimento de uma mancha branca no centro da córnea, que de acordo com a severidade da infecção e com as condições de tratamento, pode ou não evoluir para uma úlcera. (Figuras 2 e 3)
O tratamento do Pinkeye deve ser feito com antibiótico. Existem algumas opções de antibióticoterapia parenteral que apresentam bons resultados: Tetraciclina intramuscular ou o Florfenicol intramuscular. Outra opção são as aplicações subconjuntivais de penicilina; para executar esta aplicação é indicado um bom período de treinamento com o veterinário.
Não é indicado executar esta aplicação sem experiência prévia. A utilização de colírios e "sprays" não têm a mesma ação que os métodos mencionados acima (com uso de antibióticos), principalmente devido ao período de contato ser pequeno (a lágrima retira o medicamento). Quando houver manipulação dos olhos do animal acometido é recomendado o uso de luvas para evitar aumento da disseminação da enfermidade. Tenha sempre a rotina de anotar os animais acometidos, o tratamento utilizado e os resultados obtidos.
Uma opção para auxiliar o tratamento é cobrir os olhos afetados, desta forma é possível proteger a área afetada de irritações (poeira, capim), insetos e da luz solar. A forma mais usada para proteção dos olhos é o uso de uma aba de tecido resistente (brim, por exemplo).
Em última análise, o controle da enfermidade é realizado com o controle dos fatores predisponentes, principalmente as moscas. Quando poucos animais estão acometidos pode-se optar pela separação para reduzir a transmissão. É importante a conscientização dos funcionários sobre a facilidade de disseminação desta enfermidade para os demais animais do rebanho, bem como as medidas de higiene para reduzir a contaminação de vários animais e a ocorrência de um surto da enfermidade.
Figura 1. Nomenclatura das diferentes estruturas do olho, observar a localização da córnea e da conjuntiva (principais regiões do olho afetadas pelo Pinkeye).
Figura 2. Novilha com inicio da lesão, mancha branca no centro da córnea.
Figura 3. Bezerra com um mês de idade,que apresenta um quadro severo de pinkeye.
Fonte:
Maas, J. Pinkeye theraphy. UCD Vet Views - California Cattleman, maio, 2002. https://www.vetmed.ucdavis.edu/vetext/INF-BE_cca/INF-BE_cca02/INF BE_cca0205.html
Stades, F. C., et al. Fundamentos de oftalmologia veterinária. 1. ed. São Paulo: Manole, 1999.
Walker, B. Pinkeye in cattle. NSW - Departament of Primary Industries - Agriculture, outubro, 2004. https://www.agric.nsw.gov.au/reader/cattlehealth/a0931.htm