Em relação ao mesmo mês do ano passado, o valor do leite em janeiro foi cerca de 17% superior, ou seja, pouco mais de sete centavos por litro a mais que o obtido no mesmo período de 2006. Está certo que os preços de janeiro de 2006 representaram o fundo do poço, mas de qualquer forma há indicativos de uma recuperação de mercado e, mais do isso, uma boa abertura para o ano, se comparado a 2006.
Gráfico 1.Evolução dos preços de leite pagos aos produtores.
Paralelamente ao valor mais alto do leite neste ano estão os custos com insumos, principalmente grãos para a fabricação de ração animal. No atacado de São Paulo, por exemplo, o milho em janeiro ficou 36,5% mais caro se comparado ao valor do mesmo período do ano passado, segundo a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), e a soja em farelo ficou 5,2% mais cara.
Acompanhando a tendência de alta no segmento de insumos, produtos alternativos, como caroço de algodão, polpa cítrica e cevada acabam tendo preços elevados também. Sendo assim, a margem de lucro dos produtores de leite pode não se elevar à medida que aumentam os preços do leite, e há muitos produtores estão desestimulados com a atividade.
A perspectiva, no entanto, é de melhora nas condições de mercado e, com elas, a percepção dos produtores deve melhorar também.
De fato, para o pagamento feito em março, tendo em vista que normalmente ocorre uma queda de produção a partir de janeiro na maioria das regiões produtoras, como pode ser observado no Gráfico 2, a expectativa é de aumento de preços. O mercado de leite spot já sinaliza alta em alguns estados em fevereiro, o que é um indício para a tendência de alta nos próximos meses. Conforme agentes do setor, fala-se em dois centavos por litro de leite para esse mercado.
Gráfico 2. Índice de captação medido pelo Cepea comparado à captação formal divulgada trimestralmente pelo IBGE.
Um dos fatores que pode direcionar a recuperação de preços no mercado doméstico é a alta dos preços internacionais. O valor médio do leite em pó integral para exportação no Oeste da Europa em janeiro ficou cerca de 40% superior ao obtido no mesmo período do ano passado, enquanto na Oceania o aumento foi de 31%, segundo dados do USDA. A alta continua em fevereiro, com preços ultrapassando US$ 3 mil por tonelada, recorde histórico.
Além disso, o aumento nos valores do leite e derivados no atacado brasileiro (segundo agentes de mercado, o leite em pó, por exemplo, está com preços 20% mais altos se comparado com o mesmo período do ano anterior) e o aumento do consumo com a volta às aulas também são fatores que vêm impulsionando os preços do produto doméstico.
Fazendo uma análise mais regional, em Minas Gerais, segundo agentes de mercado, a oferta está bastante ajustada à demanda e não há excedentes. Observa-se maior concorrência entre laticínios pela compra do leite. Isso se deve às intensas chuvas ocorridas desde o final do ano passado, que comprometeram a entrega e a qualidade do produto.
A oferta no estado deve ser ainda menor nos próximos meses com a redução da produção de pastagens. A tendência é de aumento nos preços de cerca de dois centavos por litro para o pagamento que será feito em março, puxado pelas principais empresas do mercado
Em São Paulo, também não há excedente de oferta. A produção deve continuar se reduzindo em função do final do ciclo de pastagens, que diminui a produção de alimento para o gado nesse período do ano.
Em função disso, agentes do mercado também esperam no estado um aumento de cerca de dois centavos por litro pelo leite pago ao produtor.
Em Goiás, o mercado de leite spot tem reagido desde a segunda quinzena de janeiro, indicando um aumento de preços para o leite entregue em fevereiro. Segundo agentes de mercado, o valor do leite spot no estado está entre R$ 0,58 e R$ 0,60 por litro, muito diferente dos R$ 0,45 ou menos do mesmo período dano passado. Há uma procura razoável pelo produto por parte dos laticínios, principalmente para exportação de leite em pó, produto que mantém os preços elevados no mercado externo.
A região Sul apresenta algumas áreas com estiagem, o que está começando a influenciar a produção leiteira. Com a redução de oferta no Paraná, há uma tendência de aumento de preço, conforme já reportado pelo Conseleite.
No Rio Grande do Sul, a produção se mantém estável em relação a janeiro, mas deve começar a se reduzir a partir da segunda quinzena de fevereiro em função do final do ciclo de pastagens. Em função disso, os preços permanecem estáveis, como já sinalizados pelo Cepea em janeiro, havendo expectativa de aumento de preços para março.
Entre os principais estados, o RS é o que apresenta maior oferta relativa em relação aos anos anteriores. Segundo o Cepea, a captação em 2006 foi 15,22% superior à de 2005, o maior aumento do Brasil, evitando que a captação formal, de acordo com o órgão, caísse de 2005 para 2006. Certamente, o anúncio de diversos investimentos em fábricas no estado, aliado à crise da agricultura, levou a investimentos na produção de leite, resultando no aumento maciço da produção.
No estado gaúcho também há alguns pontos de estiagem, não muito acentuada, cujas regiões já começam a ter falta de água para pastagens e paralisação do crescimento das mesmas.
No Nordeste, também há baixa precipitação em algumas regiões, o que tem comprometido a produção de leite. Na Bahia, o estado que mais produz leite na região, a produção está ligeiramente abaixo do normal para o período e há uma tendência de redução nos próximos meses. Como se trata de um estado com tecnificação menos desenvolvida se comparada à de outros estados, há uma maior sazonalidade de produção em período de entressafra.
Há um equilíbrio entre a oferta e a demanda no estado, e as compras das empresas, tendo em vista o mercado exportador, tem absorvido bem a oferta de leite. Os preços na região permancem estáveis, sinalizando alta.
Em outros estados do Nordeste, como Pernambuco e Sergipe, a estiagem também tem sido um fator que está limitando a produção. Há também estabilidade de preços, com expectativa de alta para os próximos meses.
O cenário do mercado de leite aponta para uma reação de preços nos próximos meses. No entanto, a magnitude desse aumento e o ritmo ainda não estão totalmente claros, até porque alguns direcionadores de preços se mostram indefinidos. O leite longa vida, por exemplo, apresenta recuperação lenta no atacado, estando pouco acima das cotações de janeiro. Espera-se, porém, que a menor oferta devido ao fim das chuvas, aliada às condições do mercado internacional (e ao crescimento interno) puxem os preços. Vale lembrar, porém, que para o produtor de leite, o momento é também de se analisar a margem de lucro tendo em vista o aumento dos custos de suplementação, entre outros.