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Relação de troca está ajudando, apesar dos preços de leite

POR MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

PANORAMA DE MERCADO

EM 13/04/2006

4 MIN DE LEITURA

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Em valores nominais, ou seja, sem a correção pela inflação, o preço médio de leite no Brasil em março foi 17,5% menor do que no mesmo mês do ano passado. Se colocarmos a inflação nesse período, a queda passa dos 20%. Mesmo com essa brusca queda de preços, não há a impressão de crise generalizada no setor, nem de queda de oferta, o que seria de se esperar quando a atividade passa por uma situação de perdas elevadas. Não discuto aqui se os preços estão em um patamar desejado pelo produtor, mas sim constato que, se comparada com outros momentos de preços mais baixos, a insatisfação tem sido seguramente menor agora.

Porque isso ocorre?

A chave para compreender esse fenômeno está na relação de troca, ou seja, quanto se consegue adquirir de insumos a partir do produto vendido. É uma indicação do poder de compra do produtor. A tabela 1 traz a evolução dos preços de leite (a partir dos valores do CEPEA/USP, leite C, valores brutos), preços do farelo de soja (SEAB-Atacado - PR), milho (Conab - Atacado - SP) e salário mínimo. Utilizou-se base 100 para comparação dos valores, sendo o índice 100 estabelecido para o ano 2000 e os demais calculados a partir das médias dos anos seguintes em relação à média de 2000.

Tabela 1. Valorização do leite, farelo de soja, milho e salário mínimo de 2000 a 2006
 


A tabela 2 traz novamente o leite, agora comparado com uma mistura hipotética de 70% de milho e 30% de farelo de soja, formulada com o objetivo de simular uma ração. Considerando que as demais fontes energéticas tendem a ter um comportamento de preços semelhante ao do milho e as demais fontes protéicas variam de preço de forma parecida com o farelo de soja, pode-se assumir sem muito erro que essa composição simula o custo da suplementação das vacas nesse período. Indo além, assumindo que o custo de alimentação representa cerca de 50% do custo total de produção (incluindo volumosos), a avaliação da variação desse índice dá um indicativo interessante da atratividade do negócio.

Tabela 2. Valorização do leite e mistura milho/farelo de soja, de 2000 a 2006

 


O gráfico 1, por sua vez, traz a flutação do valor do leite e dessa mistura milho+farelo de soja no período em questão, facilitando a análise visual. Percebe-se, pela tabela 2 e pelo gráfico 1, que de 2001 a 2004, o leite perdeu valor em relação a suplementação. De 2000 a 2002, por exemplo, a valorização do leite alcançou apenas 70% daquela obtida pela mistura. Na realidade, de 2001 a 2004, o leite ficou sempre abaixo de 80% em relação a valorização do preço da mistura.

Gráfico 1. Variação dos preços do leite e mistura milho/farelo de soja

 


Somente em 2005, isto é, ano passado, houve recuperação, aliás bastante significativa. Na média anual, o leite terminou com valorização 9% superior a alcançada pela mistura, ainda tendo como base 2000. Houve, portanto, aumento significativo do poder de compra do produtor de leite em 2005 em relação a essa variável. Esse poder de compra vem se mantendo, embora em menor grau, em 2006.

Essa recuperação de poder de compra, é bom que se reforce, se deu mais em função da queda do preço do milho e do farelo de soja do que pela valorização do leite: de 2004 para 2005, o o valor do leite elevou-se 4,4% ao passo que o valor da mistura milho/farelo de soja caiu 23,7% de preço.

Esse fato, que tem como contra-face a menor rentabilidade das culturas, foi provavelmente em larga medida responsável pela elevação de 12% na produção formal em 2005 e ainda exerce efeito hoje. Apesar dos preços reduzidos verificados nesse primeiro trimestre, o fato é que a relação de troca ainda é a segunda melhor em seis anos. É importante ressaltar que estamos analisando apenas uma variável - importante, sem dúvida. Se compararmos com o salário mínimo, veremos que o leite vem perdendo, e muito (tabela 3 e gráfico 2): de 2000 a 2006, o leite ao produtor se valorizou apenas 68% do verificado pelo salário mínimo, com evidente impacto na capacidade do produtor de adquirir esse serviço (com o aumento do mínimo para R$ 350, a diferença ficará obviamente maior).

Tabela 3. Valorização do leite e salário mínimo de 2000 a 2006

 


Gráfico 2. Variação dos preços do leite e do salário mínimo

 


Dessa forma, pode-se dizer que, embora a relação de troca com alguns insumos seja ainda razoável, o estímulo ao aumento de produção, alavancado também pela difícil situação dos produtores de milho e soja, muitos deles migrando para o leite, encontra obstáculos como a própria redução de preços e ausência de cenário futuro claro para 2006, que colocam cautela no caldeirão. Os dados divulgados há pouco pelo IBGE (gráfico 3), relativos ao último trimestre de 2005, mostram que houve um gradativo arrefecimento do crescimento em relação a 2005, com dezembro fechando com produção apenas 1,8% maior do que a do mesmo mês de 2005.

Em função desse cenário um tanto nebuloso, em que se mesclam relações de troca em algum grau aceitáveis e preços aceitáveis, as estimativas de crescimento tem sido conservadoras, optando por valores históricos, de 3 a 4%.

Gráfico 3. Produção de leite inspecionado - 1997 a 2005

 

MARCELO PEREIRA DE CARVALHO

Engenheiro Agrônomo (ESALQ/USP), Mestre em Ciência Animal (ESALQ/USP), MBA Executivo Internacional (FIA/USP), diretor executivo da AgriPoint e coordenador do MilkPoint.

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PAULO FERNANDO ANDRADE CORREA DA SILVA

VALENÇA - RIO DE JANEIRO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 15/04/2006

Marcelo,



Os 2 itens de custo comparados, concentrado e m.o. são de fato os de maior peso nas despesas para produzir leite. O restante, digamos 40% do custo, porém, tiveram no período observado, um aumento enorme em relação ao preço do leite.



Remédios, energia elétrica, combustíveis, peças para ordenha, para citar alguns, subiram de tal forma que estão inviabilizando a produção.



Com relação a anomalia do mercado que não reduz a produção com a queda dos preços, sugiro que o MilkPoint estude a influência do caixa 2 no subsídio à produção de leite no Brasil.



Acredito que nós todos vamos nos surpreender com a relevância deste fator.



Paulo Fernando

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