Ainda que esta afirmação não seja exatamente uma novidade quando falamos no leite, a escala de produção na fazenda, ou o volume diário de leite comercializado, tem efeito significativo nos custos de produção e nos resultados da atividade leiteira no Brasil.
Do lado do custo, há vários itens fixos na atividade leiteira que são diluídos em volumes maiores de leite produzido e, portanto, custam menos por litro. O próprio valor de venda de alguns equipamentos carrega já um ganho de escala, como fica claro no gráfico 1, que apresenta diferentes capacidades de tanques de resfriamento de leite e o seu preço de venda aos produtores (apresentado em R$ por litro de leite de capacidade do equipamento).
Gráfico 1. Tanques de resfriamento de leite – Capacidades e preços de venda por litro de leite de capacidade (R$/litro de capacidade).
Fonte: tabela de venda de empresa do setor
O efeito da escala de produção aparece mais claramente quando avaliamos os resultados de Custo Operacional Efetivo (COT - desembolsos + depreciações + pro labore do fazendeiro) e de Custo Total (COT + remuneração do capital investido + custo de oportunidade da terra). Para esta avaliação, usamos os dados de um grupo de 305 produtores de leite no estado do Rio Grande do Sul, atendidos e monitorados pela Transpondo (www.transpondo.com.br). No gráfico 2 aparecem os dados de Custo Total (CT) de produção das 305 fazendas e o volume diário de leite de cada uma delas.
Gráfico 2. Custo Total (CT) e volume diário de produção de 305 fazendas leiteiras no Rio Grande do Sul – 2017 (ano fechado).
Fonte: elaborado pelo MilkPoint Mercado com base em dados cedidos pela Transpondo (www.transpondo.com.br)
Na amostra de 305 propriedades leiteiras no Rio Grande do Sul, há uma relação bastante razoável (R2 = 0,66) entre o volume diário de produção de leite e o Custo Total – quanto maior o volume de leite, menor o custo. Na mesma direção, a lucratividade deste grupo de fazendas está bastante associada ao tamanho (volume) da produção; o gráfico 3 associa as duas variáveis:
Gráfico 3. Resultado Líquido do Exercício (REL) e volume diário de produção de 305 fazendas leiteiras no Rio Grande do Sul – 2017 (ano fechado).
Fonte: elaborado pelo MilkPoint Mercado com base em dados cedidos pela Transpondo (www.transpondo.com.br)
No gráfico 3, quanto maior o volume de produção, maior o retorno da atividade, com correlação de quase 0,80. Nele, vemos dois efeitos atuando em conjunto: a diluição do custo fixo por maiores volumes de produção e os preços mais elevados pagos aos maiores produtores de leite (bonificação por volume).
Sobre esta diferenciação de preços, que vem gerando vários comentários no artigo “Estamos sendo justos com os produtores pequenos?”, do Sávio Santiago, publicado recentemente no MilkPoint , ela vem aparecendo mensalmente, há mais de 2 anos, nos relatórios divulgados aos produtores participantes do MilkPoint Radar – veja, no gráfico 4, a parcial de preços pagos por faixa de produção agora no mês de dezembro/2018 pelo leite fornecido em novembro/2018, para os produtores participantes do MilkPoint Radar:
Gráfico 4. MilkPoint Radar – Preço líquido por faixa de produção (mês de pagamento).
Fonte: relatório parcial do MilkPoint Radar, dez/2018
Assim, parafraseando o Sávio, se o mercado não é justo com o pequeno produtor de leite, via bonificações por volume no preço do leite, os ganhos em escala de produção reforçam a situação. Então, a alternativa para o pequeno produtor é crescer e diluir seus custos, com o cuidado de não “estacionar” na faixa dos médios produtores que, em minha humilde opinião, são aqueles que mais risco sofrem de sair do mercado. Mas, esta é conversa para um outro artigo...