Os estados que apresentaram maiores aumentos de preços foram justamente os mais prejudicados com excesso de chuvas, como Minas Gerais e Goiás. Na região mineira do Vale do Rio Doce, por exemplo, a variação foi de 8,32%, passando da média de R$ 0,4944/l para R$ 0,5355/l. No Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, o preço do leite ao produtor passou de R$ 0,4882/l para R$ 0,5103/l, variando em 4,52%.
Os laticínios reportam menor oferta de leite, que foi refletida no índice de captação de leite do Cepea: em janeiro, a captação foi quase 3% menor do que em dezembro, seguindo a tendência dos últimos 2 anos. A expectativa é que fevereiro tenha fechado com oferta ainda menor, como normalmente ocorre.
A ligação entre menor captação e aumento de preços é evidente ao se considerar Minas Gerais. O principal estado produtor verificou, de acordo com o Cepea, queda de 7,56% na captação de dezembro para janeiro, o que refletiu em preços 5,33% mais elevados no Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba.
A menor oferta pode ser vista também na análise do consumo aparente de leite, compilada para 2006. Considerando a projeção de aumento de 1,87% em 2006 sobre a produção de 2005 (segundo os dados do Cepea para a captação formal de leite em 2006), subtraindo-se as importações equivalentes em leite e somando-se as exportações equivalentes em leite, obtém-se um leve aumento na disponibilidade por habitante, de cerca de 1% no consumo per capita em 2006, como pode ser observado na Tabela 1. Isso em um ano em que as vendas gerais no varejo aumentaram, segundo o IBGE, 6,2%. Em resumo, se em 2006 já não tivemos um aumento significativo da oferta per capita, tudo indica que em 2007 estamos com valores ainda mais baixos para essa variável.
Tabela 1. Análise do consumo per capita aparente no mercado interno.
O resultado faz-se observar nos preços. Observa-se, pelo gráfico 1, que após um longo período de preços estáveis, dezembro e janeiro trouxeram quedas que foram integralmente recuperadas em fevereiro. Esse aumento, porém, é ainda menor do que o verificado na mesma época do ano passado. As quedas nos meses de dezembro e janeiro deveram-se a uma maior oferta, normalmente verificada no período, visto que aumentam as temperaturas e o volume de chuvas, que favorecem as pastagens, e, portanto, a produção de leite.
Gráfico 1. Variação em porcentagem dos preços de leite pagos aos produtores em relação ao mês anterior.
A média de preços verificada em fevereiro representa uma alta de 15,8% em relação à média obtida no mesmo período do ano passado. Vale lembrar que em 2006 os preços foram relativamente baixos, o que mostra que o que acontece neste início de ano, na verdade, é uma recuperação de mercado. Em relação a 2005, o valor médio de fevereiro ficou 6,2% inferior, em valor nominal.
Se analisarmos os preços do mercado interno em dólar, verifica-se que os valores obtidos no início deste ano ficaram acima dos efetuados nos últimos anos. Na realidade, desde agosto do ano passado os preços vêm se sustentando em patamares superiores aos de 2005 e 2004 em dólar. Em fevereiro deste ano, com uma maior valorização ainda do real frente ao dólar (a moeda estrangeira ficou em média a R$ 2,10 no mês passado), o preço médio do leite chegou a US$ 0,24/l no mercado doméstico, o maior valor registrado desde julho de 2005.
Gráfico 2. Preços do leite no mercado nacional convertidos em dólar (US$ por litro).
Os preços internos altos, se convertidos em dólar, certamente inviabilizariam as exportações brasileiras em uma situação normal de mercado e, com uma maior oferta no mercado nacional, haveria efeitos negativos no mercado doméstico. No entanto, a alta dos preços internacionais vem "amenizando" esse fator negativo, uma vez que o mercado externo segue aquecido, com preços recordes de US$ 3000/tonelada de leite em pó.
O mercado interno atacadista também vem se recuperando. Os preços do leite em pó desnatado, por exemplo, estão aproximadamente cotados a R$ 7,50/kg, considerando sacas de 25 kg, uma alta de cerca de 9% em relação ao mês anterior, segundo agentes do setor. E, ainda, há uma expectativa de novo aumento para o período entre março e abril. Isso deve ocorrer em função da atratividade das exportações, puxando o mercado. O reflexo nas vendas externas foi imediato, com aumento de mais de 60% das exportações em janeiro, em virtude principalmente do acréscimo de vendas de leite em pó para o exterior. Assim, os valores lá fora ajudam a sustentar os preços no Brasil.
É válido observar ainda que, já que o mercado brasileiro está de olho no comportamento dos preços externos, a tendência verificada em países da Europa - principal bloco exportador de leite - é de mercado firme no primeiro trimestre do ano, e a demanda mundial continua elevada. Os preços, segundo o USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos), continuam em constante elevação, inclusive no início de março. No Oeste da Europa, por exemplo, o preço médio de exportação do leite em pó integral da semana entre 26 de fevereiro e 2 de março foi em média de US$ 3,43/kg, patamar elevado se considerar os US$ 2,20/kg deste produto no mesmo período do ano passado.
Em função desse cenário, é de se esperar novo aumento de preços para a matéria-prima em março.