O USDA revisou em julho deste ano os números da produção de leite nos principais países produtores. O departamento espera um aumento de 2,66% na produção em 2006 frente ao ano passado (considerando 13 dos principais países produtores, além dos 25 países da União Européia). Em dezembro de 2005, o USDA tinha projetado um aumento de 2,8% na produção leiteira desses países.
O aumento da produção representa 11,023 bilhões de litros de leite, e mais da metade (6,75 bilhões de litros de leite) é originada da China e Índia, sendo utilizada para suprir a demanda crescente nesses países. Cerca de 20% desse incremento será dos Estados Unidos, segundo o USDA. Estados Unidos e União Européia devem consumir, juntos, 2 bilhões de litros de leite a mais nesse ano. O resultado é que resta muito pouco leite para ser transacionado no mercado internacional, em um momento em que a economia mundial cresce a taxas elevadas.
Alguns países em especial sofrem com a baixa oferta. A seca na Austrália, que deverá ter queda de 1,72% na produção, ante à previsão de aumento de 3,09% e o desaquecimento da produção dos EUA e da Europa, são os principais exemplos.
O clima desfavorável na Europa, como a seca do verão no Sul da UE, tem contribuído para uma redução na oferta de leite, que, segundo estimativas, será de cerca de 1 milhão de toneladas (ou seja, queda de 0,5% em relação a 2005), para este ano na UE, conforme informações recentes da USDA.
Aliás, alguns analistas colocam que os problemas climáticos estão se tornando cada vez mais regulares em importantes regiões produtoras, a ponto de poder ser considerado uma mudança estrutural, com impactos duradouros no fornecimento mundial de leite.
Há ainda um outro fator que afeta a produção de leite na UE. A introdução de subsídios desacoplados da produção reduz o interesse de se produzir mais em países como a Alemanha e o Reino Unido. O desejo de não ultrapassar a cota e ter que pagar por uma produção excessiva também ajudou a reduzir a produção no bloco. Apenas a Polônia e a República Tcheca não apresentaram queda de produção até agora.
Demanda elevada
O consumo de leite fluído, segundo dados do USDA, deve aumentar 2,38% entre os países selecionados, ou seja, um volume de 3,876 milhões de toneladas. Considerando um expressivo aumento de consumo observado nos países da Europa, entre outros, os queijos e outros produtos de valor agregado devem impulsionar ainda mais um incremento da demanda por lácteos neste ano.
Como resultado, muitos países estão com a produção já comercializada, como a Argentina, que está totalmente vendida até fevereiro de 2007.
Em função desse cenário, na União Européia, o Management Committee em Bruxelas decidiu na semana passada impôr um corte de subsídios para exportação de leite em pó integral com 26% de gordura em 210 euros por tonelada, ou seja, passou de 520 euros para 310 euros por tonelada.
Os subsídios também foram cortados de 10% a 30% para queijos, dependendo do tipo. O novo subsídio para leitelho em pó (sweet buttermilk powder) será informado em breve.
Num mercado em que as exportações representam cerca de 10% do total produzido, a redução dos subsídios pode influenciar as vendas externas do bloco.
Esses são os principais motivos aparentes para a elevação dos preços na UE. Observa-se no gráfico abaixo que os preços do leite em pó integral apontados pelo USDA no Oeste da Europa ficaram muito acima dos cotados em outros países, como Argentina, Brasil e a Oceania (Austrália e Nova Zelândia), e representam um aumento de 8,5% frente a outubro do ano passado. O valor médio do leite em pó desnatado, representa um acréscimo ainda maior em relação ao mesmo período de 2005, de 24,5%.
Fontes de mercado informam que há escassez também de lactose e soro no mercado internacional.
Gráfico 1. Evolução dos preços internacionais de leite em pó integral, em dólares por quilo.
Fontes: Secex/MDIC, Senasa (Argentina) e USDA
Elaboração: Equipe MilkPoint
Perspectivas futuras
A questão é se o mercado atingiu um teto ou se há espaço para novos aumentos. Alguns analistas apontam que é possível que a situação de escassez permaneça nos próximos meses, pois nada indica uma significativa recuperação na oferta ou redução na demanda.
Nos Estados Unidos, por exemplo, a previsão para esse ano é de aumento de produção de 2,86% frente a 2005 (no ano passado, houve um acréscimo de 3,5% em relação a 2004), segundo estudo do USDA publicado no site Cattlenetwork. Já para 2007, há uma estimativa que a produção seja de 83,007 milhões de toneladas, ou seja, menos de 1% de acréscimo frente a 2006.
Em função do modesto aumento em relação à expressiva demanda nos EUA, há uma expectativa de preços mais altos naquele país no próximo ano. O consumo de queijos deve continuar forte, segundo informações da USDA, mas os preços devem ser pressionados ainda por uma elevada oferta até o primeiro semestre do ano que vem. Porém, no total do ano, os preços dos queijos também devem ficar, em média, superiores aos deste ano.
A oferta de soro de leite deve ser reduzida e é esperado um aumento das exportações de NDM e SMP em função da demanda internacional, impulsionada por um dólar fraco, e menor oferta na Austrália e UE.