O estado que apresentou maior redução em novembro foi Minas Gerais, com queda de R$ 0,0684/l, seguido de Goiás, com R$ 0,0573/l.
Nos estados do Sul, os preços já vinham registrando quedas mais acentuadas desde setembro em função da maior oferta local, tendo em vista o período de safra da região. De acordo com o Cepea, só no Rio Grande do Sul houve um aumento da captação de leite de 10% em setembro, frente a agosto, e de 6,5% em outubro.
O estado que apresentou maior diminuição dos valores pagos aos produtores foi Santa Catarina, com quase 18 centavos por litro de redução entre o pico e o último mês, ficando em R$ 0,5276/l em novembro, de acordo com os dados do Cepea. De janeiro a setembro, o aumento de preços neste estado foi de pouco mais de 26 centavos por litro.
Nota-se, porém, que há grandes variações entre estados e regiões no que se refere às magnitudes de aumento e queda nos preços. Na Bahia, por exemplo, houve um aumento de mais de 21 centavos por litro até setembro e uma redução de apenas 2 centavos por litro a partir desse mês, e em novembro o preço médio foi de R$ 0,6427/l.
Gráfico 1. Comparação do aumento dos preços até setembro com a queda dos mesmos a partir deste mês, em reais por litro.
Na média nacional coletada pelo Cepea, houve, até novembro, uma redução de quase 11 centavos por litro desde setembro, comparada a um aumento de mais de 31 centavos por litro desde janeiro.
Em média, os preços no mercado doméstico estiveram 31,8% superiores entre janeiro e novembro, em relação ao mesmo período do ano anterior, ou cerca de 15 centavos mais altos.
Os preços se mantiveram em patamares mais elevados, mesmo com um aumento significativo da captação de leite - segundo o Centro, a captação de leite até outubro foi 8% superior à do mesmo período de 2006. A partir disso, fica a questão sobre se essa mudança de patamar de preços está se consolidando no setor, ou seja, se é uma mudança estrutural. Um indício para que a resposta seja positiva é o aumento dos custos de produção, principalmente dos preços de grãos, como milho e soja, que consequentemente elevam os custos da ração. Os preços desses produtos atingiram níveis muito elevados, e agentes de mercado, por enquanto, não estimam uma reversão desse comportamento no curto ou médio prazo, em virtude da elevada demanda mundial.
Além disso, segundo um estudo do Cepea, CNA e Federações de Agricultura de Goiás e Minas Gerais mostrou que a alimentação é o principal item dentro dos custos operacionais (desembolsos mensais), o que intensifica a preocupação com a situação de alta dos preços dos grãos.
Portanto, a atividade será viável com os elevados custos apenas enquanto os preços pagos pelo leite também permanecerem em patamares superiores aos obtidos nos últimos anos. O fator rentabilidade do setor deve ser decisivo para o crescimento da produção leiteira. Em enquete realizada pelo MilkPoint, o resultado parcial foi que cerca de 49% de um total de 130 participantes, acredita que 2008 será melhor para o setor em termos de rentabilidade.
Neste ano, o principal fator que estimulou um acréscimo na produção leiteira foi a elevação de preços, em função do aumento da demanda por lácteos, tanto interna como externamente. Nesse sentido, o grande impulsionador do aumento das compras desses produtos foi o aumento da renda populacional, e o maior poder de compra das classes C, D e E. E esse fator deve continuar favorecendo o setor leiteiro em 2008, além das exportações, que terão importância cada vez maior ao permitir o crescimento sustentável da produção.
Gráfico 2. Evolução dos preços médios do leite pagos aos produtores, em reais por litro.
Em Minas Gerais, para o leite de dezembro, a expectativa da maioria dos agentes de mercado é de estabilidade, especialmente por parte de grandes empresas que atuam no estado, mas alguns ainda acreditam em ligeira queda de preços, dada a maior pressão de oferta. A produção de leite atingiu seu pico em novembro - com cerca de um mês de atraso em função da estiagem prolongada na região - e deve seguir estável neste mês.
A estabilidade de preços pode ocorrer, de acordo com agentes, em virtude da menor produção de leite longa vida - ocasionada pela redução do consumo que ocorreu em função das denúncias de fraude - o que tem pressionado menos os valores no campo. Uma maior quantidade de matéria-prima está sendo enviada para as indústrias de leite em pó e de queijos, que em geral possuem melhores condições de negociação e de alternativas de mercado para lidar com estoques.
O leite spot no mercado mineiro está sendo vendido entre R$ 0,55/l e R$ 0,70/l, segundo agentes de mercado, variando de acordo com a qualidade do leite. Com as denúncias de fraude, algumas empresas acabaram deixando de comprar leite spot, preferindo a mercadoria dos próprios fornecedores.
De acordo com agentes do setor, pode ainda haver uma ligeira queda no preço do leite spot, mas se houver, será de, no máximo, cerca de 3 centavos por litro.
Em Goiás a oferta também aumentou nos últimos meses em função da chegada das chuvas e maior produção de pastagens. Segundo o Cepea, a captação de leite em outubro no estado aumentou 7,94% em relação a setembro. A expectativa de agentes de mercado também é de estabilidade ou ligeiro recuo de preços para dezembro.
No Rio Grande do Sul, a tendência, segundo agentes do setor, é estabilidade ou alguma recuperação de preços em dezembro. A oferta de leite está menor, visto que o pasto de inverno acabou e o de verão ainda está no início da produção. Com isso, a expectativa é de aumento da produção de leite ao longo deste mês e de janeiro, e um declínio da mesma para fevereiro.
Agentes de mercado afirmam ainda que os estoques de leite em pó e leite longa vida no estado gaúcho estão baixos, e o que é produzido acaba sendo vendido.
Há também uma preocupação grande com a possibilidade de redução dos créditos presumidos às empresas de laticínios no estado, que tendem a reduzir incentivos como o desconto do Imposto de Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). Agentes de mercado acreditam que esta medida pode ser desestimulante para o setor, depois de tantos investimentos de indústrias neste ano no Rio Grande do Sul.
No Paraná, o Conseleite projetou uma redução de pouco mais de 2 centavos por litro de leite aos produtores em dezembro, em função da queda dos preços de leite longa vida e queijos no atacado. No entanto, há possibilidade de, até o final do mês, a queda ser inferior à prevista, isso porque a projeção é feita com base no comportamento dos preços de atacado nos primeiros dias do mês.
A produção paranaense está aumentando com a chegada das chuvas, mas ainda de forma modesta, visto que muitos produtores utilizaram o alimento para o gado suplementar às pastagens antecipadamente, em virtude da estiagem prolongada.
Desse modo, o cenário tende a ser mais estável em janeiro, visto que a produção de leite na maioria das regiões se estabiliza ou começa a diminuir. O fato é que, mesmo com os preços de janeiro historicamente mais baixos que dos meses anteriores (Gráfico 2), os custos mais elevados neste momento tendem a segurar mais os preços mesmo durante a safra.
Nesse contexto, os valores pagos pelo leite no começo de 2008 tendem ainda a permanecer acima dos cotados no início deste ano, provavelmente na casa de 30%, mesmo que em patamares mais baixos que os registrados entre agosto e outubro. Mas o comportamento do mercado ainda dependerá de fatores como clima, e consequentemente da oferta da matéria-prima.
As exportações têm sido um importante canal de comercialização. Até outubro, mesmo com os altos valores do leite no mercado internacional, as vendas se mantiveram abaixo do esperado em volume e inferiores a 2006. No entanto, em novembro, o país atingiu novo recorde em volume e valor exportados em lácteos, impulsionado pelas vendas de leite em pó integral - cerca de 15 mil toneladas a US$ 59 milhões, enquanto que a média dos meses anteriores em 2007 foi de 6,8 mil toneladas e US$ 17 milhões.
Um motivo importante para este salto foi a falta de produtos lácteos na Venezuela (principal importador de leite em pó integral em novembro), que tem, inclusive, importado o produto emergencialmente em aviões, como ocorreu no início de dezembro, com negociações com a Itambé.
Se esse comportamento permanecer nos próximos meses, será também um importante fator para sustentar os preços internos, em virtude do maior escoamento de produtos lácteos.
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