A safra nacional de leite entrou em declínio, rumando para os meses de historicamente menor produção do ano. O recuo frente a fevereiro tem variado de 5 a até 15% dependendo da região, segundo agentes de mercado consultados pelo MilkPoint. Para abril, essas variações devem acentuar-se.
Os produtores têm observado uma escalada dos custos de produção, liderados pelas altas da soja e milho. Os principais componentes utilizados para ração valorizaram 13,2% e 53,4%, respectivamente, no período de um ano, considerando a média mensal no atacado de fevereiro da SEAB-PR (Secretaria da Agricultura e do Abastecimento do Estado do Paraná).
Contudo, os preços pago aos produtores no período, segundo média nacional do Cepea-Esalq/USP, valorizaram quase 20%, chegando a R$ 0,7371/litro. Indicando que a alta nos custos tem sido relativamente compensada pela receita, conforme pode-se observar em nosso cálculo de Receita Menos Custo da Ração.
Gráfico 1. Receita menos custo da ração - últimos 12 meses (R$/vaca.dia, corrigidos pelo efeito da inflação)
Para a indústria, os dois primeiros meses do ano apresentaram vendas aquém da expectativa, o que respondeu pela manutenção ou leve valorização do preço ao produtor nesses meses. Em março, com o fim do carnaval e início (efetivo) do período escolar, as vendas começaram a acontecer e alguns agentes se mostram positivos para o restante do mês.
O preço do leite em pó reagiu, sendo encontrados por valores entre R$ 8,20 a 8,70/kg no atacado. O mercado de queijos, que teve um início de ano ruim, está se recuperando e os preços no atacado estão a R$ 8,00-8,50/kg. Em São Paulo, já existem negócios a R$ 9,50/kg de mussarela.
O leite longa vida (UHT) tem sinalizado melhora de preços, principalmente, nos últimos 15 dias e os valores no atacado têm variado de R$ 1,45 a 1,65/litro dependendo da região. Mesmo assim, segundo quase totalidade dos agentes de mercado consultados pelo MilkPoint, está sendo difícil emplacar maiores preços e/ou volume de vendas no varejo e algum estoque começa a se formar.
No panorama externo, após consecutivas altas e uma expressiva queda - conforme anunciamos em nosso twitter (@MilkPointBR), o preço médio do leite em pó integral no último leilão da Fonterra recuou 11,4%, para US$ 4.105/ton - o cenário é de instabilidade, principalmente do lado da demanda.
A tragédia no Japão - que ainda não se sabe o efeito na oferta, estoques e demanda -, a crise no Norte da África e em países do Oriente Médio, os últimos importantes importadores de lácteos, torna a previsão de um ponto de equilíbrio entre oferta e demanda, e por consequência, uma faixa de preço, praticamente impossível.
O efeito disso para o Brasil é que mesmo com os preços sob patamares históricos, a cotação baixista do dólar tem praticamente impossibilitado as exportações. Pelo contrário, as importações nos primeiros dois meses do ano é que foram favorecidas.
Tabela 1. Volume e valor comercializado em janeiro e fevereiro de 2011 e variação sobre mesmo período em 2010.
Leite spot
Retornando ao mercado nacional e com um indicativo favorável ao produtor: o mercado de leite spot (comercializado entre indústrias), cotado entre 85 e 87 centavos/litro, está sinalizando valorização de 2-3 centavos, algumas indústrias tentando até 5 centavos.
Este é um importante sinalizador de que teremos uma valorização de preços em março. A amplitude dependerá, contudo, das vendas nessa segunda quinzena do mês.