A greve dos caminhoneiros trouxe e ainda tem trazido fortes efeitos na cadeia láctea brasileira. É possível perceber nesta primeira semana pós-greve:
Preços no atacado em alta
Apesar do aumento dos estoques de produtos na indústria (em função da interrupção da logística de vendas/entregas ao varejo), os preços dos derivados lácteos explodiram no atacado (preços de venda da indústria aos diferentes canais varejistas) e seguem subindo ao longo desta semana. O leite UHT chega próximo a R$ 3/litro e a muçarela, próxima aos R$ 20/kg. Este efeito (que já havia sido previsto e antecipado aos assinantes do MilkPoint Mercado, ainda durante a greve) vem da necessidade do “trade” (os diferentes canais de varejo) de recompor os seus estoques de produtos (que foram muito reduzidos em função da interrupção dos canais de abastecimento), além de atender à demanda normal de vendas – ou seja, as compras dos varejistas são, neste momento, bastante agressivas.
Difícil indicar até onde irá este efeito, mas é possível que um novo patamar de preços (mais elevado que o anterior) se estabeleça para as próximas semanas.
Oferta em baixa
Diferentes motivos (como o empobrecimento das dietas das vacas, a interrupção da sua curva normal de lactação e o difícil e demorado retorno às condições anteriores de produção) indicam que a produção de leite nas diferentes bacias leiteiras tenha uma substancial redução, em relação ao cenário anterior à greve. Ao mesmo tempo, a logística de importações (além da elevada taxa de câmbio) também reduz a “oferta” via importações.
Fretes em alta
Ainda em avaliação pelos diferentes setores da economia o impacto da nova tabela de preços de frete imposta pelo governo federal como parte do seu acordo com os caminhoneiros. No setor lácteo, a avaliação, ainda preliminar, de diferentes empresas é de aumentos substanciais, notadamente no T-2 (frete do leite fresco spot ou entre postos de resfriamento e fábricas ou entre fábricas) e no transporte de produtos finais (as principais bacias leiteiras do país estão a, pelo menos, 1.000 – 1.500 km de distância dos principais centros consumidores.
Neste cenário, os preços pagos aos produtores seguem subindo. O mais recente relatório do MilkPoint Radar (nosso aplicativo de mercado para produtores de leite) indica altas consecutivas nos valores pagos aos produtores nas diferentes bacias (observe o gráfico 1, que mostra as médias simples e ponderada pelo volume, para os últimos meses)
Gráfico 1. Preços do leite aos produtores – MilkPoint Radar. Fonte: MilkPoint Radar.
Esta elevação de preços voltou a ser sentida no mercado do leite spot (negociado quinzenalmente entre empresas). Depois de algumas quinzenas de estabilidade, as negociações para a primeira quinzena de junho se arrastaram mais do que o normal no “pós- greve” e indicam retomada forte no spot, que também tenta “achar” nova referência de preços.
Importante observar a direção que tomará o mercado e os novos patamares de equilíbrio de preços. De qualquer forma, os efeitos da paralisação dos transportes parecem ainda não ter terminado.