O único produto que sofreu deflação no período foi o queijo. Os valores no atacado/varejo em meados de fevereiro são entre 15 a 20% menores do que os bons preços no fim do ano anterior. A mudança no perfil do consumidor e oferta mais elevada, aliada as importações de 8,54 mil toneladas em dezembro e janeiro reduziram os preços de, em média, R$ 10,50 para R$ 8,00/kg no atacado.
Gráfico 1. Preços no varejo em Piracicaba-SP.
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Como o queijo é destino de boa parte da produção em certos estados, agentes de mercado acreditaram no recuo dos preços ao produtor em janeiro. Segundo o Cepea-Esalq/USP, essa previsão não se confirmou. A média nacional ao produtor teve leve valorização em janeiro, de 1,2%, para R$ 0,7294/litro. O valor é ainda 20% maior do que em janeiro/10, sinalizando preços sob um patamar recorde para o período.
A leve alta tem explicação: i) os preços dos insumos subiram, com milho e soja valorizando 34% e 26%, respectivamente, frente a janeiro de 2010; ii) a safra do Sul e Sudeste atrasou seu início em razão da seca e foi prejudicada pelas excessivas chuvas, não apresentando-se tão forte; iii) a demanda, apesar do período de férias, manteve-se forte. Os laticínios precisam de leite para equiparar a demanda, principalmente considerando a época de menor produção e consumo forte, que ocorre a partir de abril no país.
Sob a ótica da oferta, a expectativa é que esse cenário em viés de alta se mantenha e se intensifique em curto prazo. A safra no Sudeste e Sul está em declínio, e para meados de março e abril se espera um "vazio" até a safra de inverno do Sul. Boa parte de Minas Gerais, segundo o técnico da EMATER, Sidney Lacerda do Carmo, "sofre de um veranico de mais de 30 dias, impactando pastagens e lavouras de milho para silagem". Os preços de insumos devem continuar crescendo, bem como a renda do brasileiro - o novo salário mínimo deve ser de R$ 545,00-, e, por consequência, a demanda por produtos lácteos deve continuar elevada.
O mercado externo, sob os maiores níveis de preços dos últimos 2 anos, é outro fator favorável, sinalizando uma possível retomada das exportações caso esses patamares se mantenham.
A alta nos preços internacionais ocorre por prejuízos gerados pelo clima em dois importantes exportadores mundiais. A Nova Zelândia, que responde por 40% do comércio mundial de lácteos, sofreu um intensa seca e a Austrália foi prejudicada por chuvas excessivas. Do outro lado, os Estados Unidos e União Europeia, o segundo e primeiro (em bloco) maiores produtores mundiais iniciaram o ano com as safras acimas de 2010 e tem perspectivas favoráveis para o restante do ano.
Gráfico 2. Preços internacionais de leite em pó (US$/kg).
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Ainda assim é incerto até onde os preços podem chegar e se o Brasil retomará as exportações em significativos volumes. No momento, o mercado doméstico com pouco mais de 190 milhões de pessoas permanece como carro chefe e o lugar onde devemos olhar com maior atenção.
Em fevereiro, os preços ao produtor devem ter novamente alguma alta, amenizada pelas vendas aquém da expectativa da indústria na 1ª quinzena. Contudo, segundo agentes de mercado consultados pelo MilkPoint, para o fim do mês já observa-se um movimento de alta para o leite spot, um importante sinalizador da demanda por leite pelas indústrias.
Portanto, em março o viés de alta deve continuar. Entretanto, é muito importante que o produtor fique atento ao movimento crescente dos custos de produção. Maior receita não é indicativo de maiores lucros.
Além disso, é necessário analisar os preços de venda no atacado. Se não houver elevação nos preços, não haverá espaço para significativos aumentos ao produtor, sob o risco de repetir o que se viu em 2010. E várias indústrias reportam mercado difícil, com vendas fracas. Hoje, com leite cotado a mais de R$ 0,80/litro em algumas regiões, o UHT já se encontra sob margens apertadas. E a boa relação de troca deve estimular a produção.