O mercado nacional de leite encontra-se altista, caminhando firme para entressafra no Sudeste e Centro-Oeste e para safra do Sul. A expectativa dos agentes de mercado é de que esse cenário favorável se sustente em curto prazo e de que em meados de junho em diante, o mercado responderá de acordo com a safra sulista e as importações.
As regiões Sudeste e Centro-Oeste começaram a apresentar decréscimos mais expressivos na produção. Com o "fim" dos pastos nas regiões e os insumos encarecendo, essa tendência deve acentuar-se ainda mais. Na comparação com o ano anterior os agentes de mercado consultados pelo MilkPoint apontaram uma safra para o sudeste bem próxima ou levemente acima da de 2010, mas bem abaixo no centro-oeste.
No Sul, a expectativa é de produção recorde, com incremento entre 8 a 12% sobre 2010. Em enquete sobre a expectativa para a safra na região, as respostas foram análogas em afirmar condições climáticas bastante favoráveis ao desenvolvimento de pastagens de inverno e milho (silagem), preços animadores ao produtor e rebanhos em condições melhores do que em outros anos. Vale completar que todo o Cone Sul está assim. Argentina e Uruguai estão com aumentos de 2 dígitos em 2011 versus 2010.
Nesse sentido, devemos observar incrementos crescentes já a partir dessa quarta semana de maio, com pico de produção em meados de junho e duração até setembro/outubro.
Demanda
No momento, a procura por leite por parte das empresas é alta, com o leite spot sendo comercializado entre 89-92 centavos de real/litro. O spot mais caro teve um leve recuo: "ninguém quer comprar spot muito caro, logo vem a safra do sul", explica um dos agentes. Mesmo assim, a média para o mês é superior a de abril e o preço está estável em interessante patamar, um importante indicativo de que os preços ao produtor devem sofrer expressivo ajuste para maio (até 3-4 centavos).
Os preços, principalmente de leite longa vida, seguiram comportamento do leite spot, crescendo no início de maio e estabilizando à medida que o mês chega ao fim, permanecendo também em interessante patamar. O mercado de UHT está firme, bons volumes de vendas e negócios no atacado variando de R$ 1,63 até 1,87/litro - São Paulo apresentando os maiores valores.
Leite em pó e queijos também tiveram leve reação no início do mês. As vendas de leite em pó estão girando bem e não há estoques do produto. Os preços têm variado no atacado entre R$ 8,00 e 8,40/kg, não muito atrativos para a indústria. O queijo (mussarela) ainda não atingiu o patamar do fim do ano anterior e está sendo negociado, em média, a R$ 9,00/kg. Contudo já existem negócios a R$ 10,00/kg. Alguns agentes de mercado acreditam que algum estoque de queijo começa a se formar com expectativa de um 2º semestre mais favorável, como o foi em 2010.
Em suma, a demanda por lácteos tem estado firme, maior em maio do que em abril. Porém, ha dúvidas a respeito dos possíveis efeitos do crescimento do endividamento da população, restrição de crédito, aliada a outras medidas de restrição de consumo (por conta da inflação), que podem fazer efeito. A situação econômica mundial (incluindo a brasileira) parece ter piorado nos últimos meses, por conta da inflação.
Mercado estável: até quando?
Os efeitos da safra recorde sulista e das importações (leia artigo relacionado às importações em abril), ainda mais atuando em conjunto, têm preocupado a grande maioria dos agentes de mercado consultados pelo MilkPoint. Alguns desses prevêem um ano similar ao anterior, com queda de preços ao produtor a partir de junho/julho.
A explicação reside no fato de que um incremento significativo da oferta não encontraria paralelo na demanda, ocasionando uma pressão baixista de preços por parte do atacado/varejo. O repasse encontraria uma indústria demandando menos leite (spot cairia) e com preços mais baratos (região sul e produto importado). As importações, apesar da briga aduaneira entre Brasil e Argentina devem ser fortes em maio, outra estratégia do governo para reduzir preço dos alimentos e, por consequência, a inflação. Nesse cenário a previsão de um ano semelhante a 2010 se confirmaria.
Contudo, outros fundamentos apontam um horizonte diferente ou pelo menos, de menor magnitude.
O preço do leite longa vida, destino de grande parte da produção, está em um patamar elevado e sinalizando leve alta em algumas regiões. Se o preço se sustentar nessa faixa, e a safra do sul atrasar um pouco, o mercado ainda terá gordura para queimar. Em nossa pesquisa no varejo de Piracicaba (SP), o longa vida valorizou cerca de 5% em maio sobre abril, para R$ 2,13/litro. Mas mais importante, o tempo de prateleira, um indicativo de como estão as vendas, reduziu 27,5% (gráfico 1).
Outro fator, mais delicado, é a renovação do acordo de limite de importação de leite em pó da Argentina, que vence no fim de maio. O acordo está sendo renegociado no momento e terá efeitos importantes em um cenário de aumento de produção deles.
Gráfico 1. Preço do leite longa vida (UHT) e dias de fabricação no varejo de Piracicaba-SP.
Em suma, ainda é cedo para falar de virada do mercado ou apontar o período exato que isto irá ocorrer. Em conversas com agentes, essa estabilidade em meados de junho será testada e os preços podem começar a sofrer reajustes.
Como ponto positivo o mercado "não quer outro 2010", e a estratégia e planejamento de produtores e indústria deve passar pela memória de um passado recente. Assim sendo, teríamos um ano de menor oscilação/maior estabilidade nos preços. Finalmente, vale lembrar que os custos estão pelo menos 10% mais altos do que em 2010, o que coloca em risco a oferta futura caso haja queda significativa nos preços.
Panorama Externo
O mercado externo está bem equilibrado, com preços caminhando de lado nos leilões da Fonterra (últimos três) e relatórios quinzenais de preços de exportação divulgados pelo USDA. O dólar permanece desvalorizado sobre outras moedas, o que tende a aumentar os preços das commodities denominados em dólar.
Do lado da oferta, Estados Unidos e Nova Zelândia têm reportado importantes incrementos na produção de leite. No hemisfério Sul, o clima tem ajudado; se estivesse pior teríamos preços mais firmes com a atual demanda, representada principalmente pelo efeito China.