Mesmo com uma produção relativamente alta, os preços do leite se mantêm elevados. Em fevereiro, a média foi de R$ 0,6860/l, o que representa aumento de 37% em relação ao mesmo mês de 2007. Os valores dos últimos meses foram sustentados principalmente em função da maior demanda por parte das indústrias exportadoras de leite em pó.
Gráfico 1. Evolução dos preços pagos pelo leite ao produtor, em reais por litro, e o índice de captação de leite pelas indústrias (base 100 em junho de 2004).
Observa-se, pelo Gráfico 1, o índice de captação de leite e o patamar de preços pagos aos produtores nos últimos meses, visivelmente superiores aos de 2006 e 2005. Nesse cenário, a questão é se há espaço para novos aumentos nos valores pagos aos produtores. A resposta varia muito de acordo com a política de cada empresa e dos preços que elas vinham pagando, além da paridade do preço de exportação.
Há, no geral, uma expectativa de alta de preços para março. Porém, algumas empresas que pagaram preços relativamente altos durante o período de safra pretendem ainda manter estabilidade para março. Um exemplo disso é a rentabilidade relativamente baixa nos últimos meses dos segmentos de leite longa vida e queijos em função do maior custo da matéria-prima e queda no preço final do produto, conforme o MilkPoint publicou no último artigo de mercado (clique aqui para ler).
Em fevereiro já houve um aumento médio de cerca de 2 centavos por litro no preço do leite pago ao produtor, de acordo com o Cepea. Os estoques nas indústrias estão ficando menores em função de uma queda de produção em várias regiões, segundo agentes do setor, e há uma maior disputa entre as empresas pela matéria-prima. Apesar dessa queda de produção, normal para a época, a produção de 2008 certamente continua bem acima da de 2007, o que é indicativo, aliado a redução nos estoques, do consumo que segue elevado.
No segmento de leite longa vida (que normalmente impulsiona o mercado no campo), de acordo com agentes de mercado, o varejo tem aceitado um aumento de preços nas últimas semanas e a expectativa é que haja nova alta do produto.
Gráfico 2. Evolução dos preços do leite longa vida no varejo do Paraná, em reais por litro, e a representação do custo da matéria-prima (média nacional) no valor final do produto.
No mercado spot (comercialização entre as empresas), há uma sinalização de alta de preços. Em Goiás, os valores ficaram na faixa de R$ 0,80/l a R$ 0,82/l (com ICMS) - em meados de fevereiro, os preços oscilavam entre R$ 0,72/l e R$ 0,73/l.
Os custos, principalmente com ração animal, também permanecem elevados. O farelo de soja cotado pela Seab/PR em fevereiro ficou em R$ 713,92/t, o que representou aumento de 31,7% em relação ao mesmo mês do ano passado. Os preços do milho recuaram um pouco em fevereiro em função da colheita, mas no final do mês apresentaram sinais de recuperação. A média cotada no mês passado foi de R$ 23,98/sc de 60kg, o que significou uma alta de 29,2% sobre fevereiro de 2007.
Isso tende a sustentar os preços do leite em patamares mais elevados que o dos últimos anos. Caso contrário, há o risco de haver uma queda de produção em virtude da inviabilidade econômica.
Nesse cenário, há dois pontos que devem ser destacados: o baixo valor do dólar frente ao real e o quanto isso pode influenciar nas exportações e importações de lácteos; e as cotações internacionais dos lácteos, que já não apresentam o mesmo vigor de antes. A moeda nacional mais valorizada frente ao dólar encarece o produto brasileiro, o que provoca uma perda de competitividade com produtos estrangeiros, além de atrair a importação, criando um teto natural de preços internos.
De acordo com dados do Banco Central, na primeira quinzena de março o dólar foi cotado a R$ 1,68 em média, enquanto no mesmo mês de 2007, o valor era de R$ 2,09. Em dólar, o preço médio do leite no campo em fevereiro ficou em US$ 0,3965/l, 66,4% superior ao de fevereiro do ano passado. No mesmo mês, nos Estados Unidos, o valor médio foi de US$ 0,3754/kg.
Gráfico 3. Evolução dos preços do leite no Brasil e nos Estados Unidos, em dólares por litro.
Por outro lado, a economia brasileira vem crescendo acima do esperado, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas), impulsionada pelo consumo das famílias, e acredita-se que essa tendência se mantenha em 2008, o que deve favorecer um aumento da demanda de lácteos.
Tudo somado, a avaliação do momento é que há espaço para elevações dos preços no atacado, desafogando os segmentos de queijos e longa vida. Parte dessa elevação retornará ao produtor; porém, se os preços internos ficarem muito acima dos preços no mercado internacional, há o risco de aumento das importações. Tanto o câmbio quanto os preços externos estão em pior situação quando comparados a 2007. Nesse sentido, as tarifas anti-dumping são importantes para evitar entrada maciça de produtos lácteos, em especial dos Estados Unidos e União Européia.