Na realidade, o comportamento dos preços indicam uma recuperação dos mesmos, visto que em 2006 os valores praticados foram baixos e ficaram, na maior parte do ano, abaixo das cotações de 2005.
Evolução dos preços do leite pagos aos produtores, em reais por litro.
Fonte: Cepea
Elaboração: Esalq/USP
Os preços do produto nacional em dólar ainda alcançaram o maior valor em abril desde janeiro de 2005, como pode ser visto no gráfico abaixo. No entanto, essa alta pode ser melhor explicada pelo baixo valor da moeda estrangeira, que já chegou a ficar inferior a R$ 2,00.
Em abril, o preço médio do litro de leite ficou em US$ 0,2670. Vale destacar que, segundo dados da LTO Nederland, o preço pago pelo leite em março na Nova Zelândia foi de US$ 0,2256/l.
Gráfico 1. Evolução de preços em dólar do leite pagos ao produtor, deflacionados pelo IGP-DI.
Fontes: Cepea - Esalq/USP, Banco Central do Brasil
Elaboração: Equipe MilkPoint
A alta dos preços também atinge o atacado. Segundo agentes do setor, o leite em pó integral está custando entre R$ 8,50/kg e R$ 8,70/kg e o leite em pó desnatado está entre R$ 8,90/kg e R$ 9,10/kg. Em janeiro, segundo o Cepea, o preço médio do leite em pó integral foi de R$ 7,50/kg, ou seja, houve uma alta de aproximadamente 15% entre janeiro e o final de abril.
No caso do queijo mussarela, que, segundo dados do Cepea estava em R$ 6,00/kg no atacado de São Paulo, houve uma recuperação de preços, ficando entre R$ 7,00/kg e R$ 7,50/kg, segundo agentes do setor.
O leite UHT está em aproximadamente R$ 1,40/l no atacado, enquanto em janeiro, segundo mostrou dados do Cepea, ficou em média a R$ 1,11/l.
A tendência para maio, segundo agentes de mercado, é de novo aumento de preços, entre 2 e 3 centavos na média nacional. No mercado interno, o principal fator é a queda da oferta, impulsionada pelo período de entressafra da produção de pastagens. Segundo dados do Cepea, a captação de leite pelas indústrias caiu 2,3% em fevereiro e 7,9% em março.
Outro fator são os maiores custos com ração animal em função de maiores preços do milho e da soja. Mesmo em queda nos últimos meses em função da maior oferta interna, o preço médio da soja cotado pelo Cepea em abril no atacado do Paraná ficou 22,2% acima do obtido no mesmo mês do ano anterior. No caso do milho, a alta é de 33% na mesma comparação.
O mercado externo também tem influeciado bastante o comportamento dos preços nacionais. Os preços internacionais continuam em alta, e atingindo níveis recordes. Segundo dados do USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos), na semana 19 (de 7 a 11 de maio), o valor do leite em pó denatado no oeste da Europa variou entre US$ 4700 e US$ 5080 por tonelada. Para se ter idéia do patamar desse preço, em 2006 a média do leite em pó desnatado naquele bloco foi de US$ 2514 por tonelada. O leite em pó integral ficou em média a US$ 4725/t no mesmo período.
Na Oceania, os preços do leite em pó desnatado ficaram em média a US$ 4150/t e o leite em pó integral a US$ 4000/t no mesmo período.
Considerando os elevados patamares dos preços de exportação, torna-se atrativo também para o Brasil vender lácteos ao mercado externo, e é esse fator que vem estimulando a elevada procura pela matéria-prima nas regiões produtoras, aumentando o preço do leite. O valor do leite em pó integral exportado pelo Brasil aumentou 17% de janeiro a abril.
Além disso, os elevados preços internacionais diminuem a atratividade das importações brasileiras, o que estimula uma maior procura pelo produto nacional.
A tendência para o cenário externo é de sustentabilidade no curto prazo, sem previsões que quedas. A oferta internacional de lácteos é restrita em função da seca na Austrália, que prejudicou a produção local, e da redução de subsídios na União Européia, alguns dos principais exportadores mundiais do setor.
Além disso, a Nova Zelândia, segundo dados do USDA, deve aumentar em apenas 1,3% a produção do ano que termina em 31 de maio, e nos Estados Unidos o incremento deve ser de apenas 0,6%.
Para o mês de junho, a tendência é de estabilidade, mas ainda com espaço para altas em função da elevada procura na maior parte das regiões produtoras. No próximo mês, há expectativa de aumento de produção em propriedades que utilizam maior quantidade de silagem e, portanto, possuem melhor resposta na produção leiteira. No entanto, esse aumento não deve refletir nos preços de mercado no curto prazo.
Além disso, as menores temperaturas neste período do ano devem favorecer o desenvolvimento da produção de pastagens de inverno no Sul do país, elevando assim a produção. No entanto, ainda não se sabe sobre o efeito de um aumento de produção da região no mercado nacional. Segundo agentes de mercado, a safra do Sul ainda não deve influenciar muito o mercado em junho, justamente em função da elevada demanda por matéria-prima.
Em Minas Gerais, a tendência é de aumento de preços entre 2 e 3 centavos por litro. A procura pelo leite ainda é elevada, influenciada pelos altos preços externos. A menor oferta interna também é motivo para o otimismo do setor. Segundo o Cepea, o estado apresentou uma queda de produção de 3,5% em fevereiro e 4,9% em março.
No mercado de leite spot, os preços variam entre R$ 0,72/l e R$ 0,74/l, incluindo o ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços). Há, inclusive mercado spot de leite em pó em virtude da disputa pelo produto destinado à exportação.
Para junho a tendência em MG é de estabilidade. Isso porque no estado, já se fala em aumento de produção em várias propriedades em virtude de uma expectativa de uma melhor remuneração. Além disso, no caso de produtores mais especializados, o maior uso de suplementação contribui para elevação da produção em algumas propriedades.
No entanto, segundo agentes de mercado, por enquanto um leve aumento da produção não deve influenciar os preços de mercado em função da elevada procura pela matéria-prima.
Em Goiás, segundo agentes de mercado, a oferta neste período do ano é cerca de 30% menor se comparada à de janeiro, mas representa um aumento em torno de 10% em relação ao mesmo período do ano anterior, segundo agentes de mercado.
E a produção no estado deve permanecer baixa nos próximos meses em função do clima mais frio e menor produção de pastagens.
Segundo agentes de mercado, o leite "spot" permanece em estabilidade, porém em altos patamares, sendo vendido entre R$ 0,70/l e R$ 0,73/l. Desde janeiro até o final de abril, este valor já aumentou em cerca de 50%. O fator que mais impulsionou essa alta no mercado spot foi a elevada procura por parte de indústrias focadas em exportação, tendo em vista os preços recordes do leite em pó praticados no mercado internacional.
De acordo com agentes do setor, com a alta velocidade de aumento dos preços no mercado spot, a tendência é de estabilidade para os próximos meses, podendo seguir até agosto ou setembro. Porém, não se descarta a possibilidade de alta, tendo em vista a elevada procura pelos laticínios. O fato é que não há motivos para quedas substanciais de preços.
Em São Paulo, a tendência é de redução de oferta de leite em função da menor quantidade de chuvas no período e menor produção de pastagem. Assim como em Minas Gerais, há também uma perspectiva de aumento de produção em propriedades que utilizam maior quantidade de silagem. Outro fator relevante no estado e que ocorre em outras regiões produtoras é o avanço da cultura da cana-de-açúcar e instalação de novas indústrias, fazendo com muitos produtores de leite saiam da atividade.
No Sul, segundo agentes do setor, a disputa pelo leite é ainda maior em função da instalação de novas indústrias. A forte concorrência acaba prejudicando empresas menores que não têm condições de elevar os valores pagos aos produtores tanto quanto as grandes empresas, que buscam a matéria-prima a qualquer preço.
No estado do Paraná, segundo o Conseleite, a previsão é de um aumento de 4 centavos por litro de leite para maio em função da elevada disputa pelo leite. Segundo agentes do setor, a alta pode ainda se estender para junho. No Rio Grande do Sul, a procura é elevada, o que leva a uma tendência de aumento de preços.
Enfim, o cenário permanece favorável aos produtores de leite em função dos aumentos de preços com a menor oferta interna, impulsionada ainda pelo comportamento altista dos valores de lácteos no mercado internacional.
Os altos e firmes preços externos por enquanto impulsionam uma elevação da demanda pelo leite no mercado internacional destinado à exportação, favorecendo assim uma sustentabilidade dos mesmos no curto prazo. Sendo assim, pelo menos até junho os valores praticados no mercado doméstico devem permanecer nos mesmos patamares, mesmo com o provável aumento da oferta no Sul do país em função do início da produção de pastagens de inverno.
Convidamos os leitores a dar sua opinião sobre o mercado de leite na região que atuam, indicando a situação de preço e oferta.