Gráfico 1. ICAP-L/Cepea - Índice Mensal de Captação de Leite (Junho de 2004 = 100).
Fonte: CEPEA - Esalq/USP
Vale lembrar que em junho de 2005 o preço do leite começou a cair, fruto do significativo aumento da produção interna (aliado à queda do dólar e entrada de leite da Argentina), que culminou com a elevação recorde de 12% da produção formal ao longo do ano, em um salto de patamar só comparável (ou até mesmo superior) ao verificado entre 2000 e 2001 (Gráfico 2), ano da grande crise do leite. Neste ano, no primeiro semestre, segundo o Cepea, a produção está meros 2,5% acima do mesmo período de 2005, e com tendência de redução da diferença, se considerarmos que no primeiro trimestre a produção estava cerca de 3,75% acima do ano passado (obs: o IBGE indicou 5% de aumento no primeiro trimestre sobre 2005).
Gráfico 2. Captação de leite no Brasil, em mil litros - IBGE.
Fonte: IBGE
Elaboração: Equipe MilkPoint
As exportações e importações também contribuem para que tenhamos uma menor disponibilidade interna de leite no país. Até julho, as exportações em volume foram 37% superiores ao mesmo período do ano passado, ao passo que as importações foram 4,7% inferiores. Tudo somado, aliado ao aumento da população nesse período, chega-se ao fato de que a disponibilidade de leite por pessoa caiu para 7,16 kg/hab/mês, uma redução de 3,38% frente à disponibilidade observada em 2005.
Tabela 1. Disponibilidade de leite per capita de leite formal
Fonte: IBGE, Cepea, Secex.
Elaboração: Equipe MilkPoint
O resultado é que os preços dos lácteos estão, no atacado, em valores satisfatórios. Em matéria que trouxemos essa semana sobre o mercado de queijos, demonstrou-se que a receita menos o custo de matéria prima para a fabricação de mussarela em junho de 2006 está 31% acima de junho de 2005, significando uma folga maior para o setor queijeiro do que no ano passado (Tabela 2).
Tabela 2. Diferença entre o valor obtido pelo queijo mussarela no atacado e o custo da matéria-prima (assumindo 10 litros de leite = 1 kg de queijo), a partir dos dados do IEA e do Cepea.
Os preços do leite, nesse cenário de pouco leite, como não poderia deixar de ser, repercutiram positivamente nos últimos meses, recuperando parte das perdas verificadas desde o segundo semestre de 2005. De fato, enquanto em março de 2006 os valores nominais estavam 17,5% abaixo dos valores de março de 2005, em julho a diferença havia caído para 11,75%. Analisando a tendência das curvas, é possível que, em agosto, os valores de 2006 atinjam os de agosto de 2005 que, é verdade, já estavam em queda livre (Gráfico 3).
Gráfico 3. Média de preços nacionais, em valores nominais, coletada pelo Cepea, em R$/l.
Mas considerando que o cenário em termos de disponibilidade de leite hoje é bem mais apertado do que em 2005, por que os preços não sobem mais? Uma explicação única é talvez impossível de ser dada, considerando a falta de informações como bem colocou o pesquisador Leandro Ponchio, no Fazendo a Diferença desta semana. Entretanto, algumas razões podem ser discutidas. A primeira delas é o dólar, que acaba sendo uma barreira a preços médios muito mais altos do que os atuais. Considerando o real cotado a R$ 2,14, o preço médio no Brasil hoje é US$ 0,233/litro, valor compatível com os vigentes no mercado externo e, mais do que isso, podendo representar um teto virtual para os preços, visto que valores mais elevados provavelmente atrairiam mais leite de fora (gráfico 4).
Gráfico 4. Valores em dólares por litro.
Fonte: Cepea, Banco Central
Elaboração: Equipe MilkPoint
Um outro item que ajuda a segurar os preços é o fato dos insumos de alimentação estarem em patamares mais baixos do que no ano passado, significando menos pressão por parte de produtores para aumento de preços. De fato, com a melhor relação de troca, os preços de hoje são mais digeríveis do que no ano passado, como pode ser visto no gráfico 5, que traz a relação de troca entre leite, milho e farelo de soja, considerando índice 100 para os 3 produtos em abril de 2005.
Gráfico 5. Relações de troca - Variação dos preços do leite, milho e farelo de soja.
Fonte: Cepea, SEAB-PR, Conab/IE
Elaboração: Equipe MilkPoint
Por fim, o fato do mercado estar ajustado não significa que há falta de leite. Se assim houvesse, acredito que a concorrência seria suficientemente forte para puxar os preços para cima, pelo menos em um primeiro momento, até que houvesse novo estímulo à produção e equilibrasse as coisas. Por outro lado, também não há motivos para reduções de preços. No final de julho, houve um ensaio de queda no leite Spot por conta de uma manutenção em fábrica de um grande laticínio que adquire parcela significativa desse leite, mas não teve efeito prático. O resultado foi que o leite foi rapidamente realocado para outros compradores, mantendo os preços constantes. Este ano, até agora, não está trazendo grandes emoções em termos de preços de leite, especialmente ao se comparar com 2005. Resta saber qual será o comportamento do mercado a partir do momento em que as chuvas de fato começarem no Centro-oeste e Sudeste, aumentando a disponibilidade de leite.