Além disso, as indústrias, em geral, ainda estão com um nível de estoque elevado o que fez com que essa menor produção não se refletisse em menor disponibilidade de leite e, consequentemente, melhoria de preços.
Outro fator que está influenciando o comportamento dos preços no campo é o mercado de leite longa vida, cujo consumo segue mais retraído em virtude do período de férias escolares.
Algumas indústrias de Minas Gerais pretendem manter os preços pagos aos produtores até março, segundo agentes de mercado, podendo haver alguma reação de preços a partir de abril. Porém, o comportamento dos preços ainda dependerá da política de cada empresa compradora e dos preços que elas vinham pagando. No geral, a expectativa é de estabilidade ou pequena alta de preços para fevereiro e março, e uma elevação mais significativa a partir de abril. No entanto, as condições climáticas também deverão ditar as tendências nesse período.
No mercado de leite spot (comercialização entre as indústrias) de Goiás, os preços estão estáveis, entre R$ 0,72/l e R$ 0,73/l (com ICMS). Em Minas Gerais, houve uma pequena reação, ficando entre R$ 0,70/l e R$ 0,75/l, dependendo da empresa. Em Santa Catarina, o preço está entre R$ 0,71/l e R$ 0,75/l (com ICMS).
O mercado de leite em pó segue firme, em função da maior demanda por empresas exportadoras e do aumento da demanda interna, impulsionada desde o episódio de fraude envolvendo o leite longa vida em outubro. Os preços do produto estão sendo reajustados em função da Páscoa, em cujo período há uma maior demanda pelo produto, e pelo início da entressafra de leite.
Empresas exportadoras de leite em pó que se beneficiam dos preços externos em alta (que inclusive se recuperaram do período de quedas consecutivas iniciado em outubro) acabam remunerando melhor o produtor pela matéria-prima, o que tem afetado a concorrência para as indústrias voltadas ao mercado interno e de outros segmentos. Segundo agentes do setor, hoje o leite em pó integral é vendido no atacado por volta de R$ 9,50/kg (embalagem de 25kg).
As indústrias de leite longa vida são as que possuem maior estoque no momento, segundo agentes do setor, em função dos preços relativamente baixos, tendo em vista o maior preço da matéria-prima, e do consumo mais retraído, em virtude do período de férias: algumas empresas acabam também retendo a mercadoria na expectativa de um aumento de preços. O longa vida deu sinais de reação, mas o mercado não absorveu ainda. Há quem acredite que este pode ser um fator que atrase o aumento de preços aos produtores.
No varejo, segundo dados da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Paraná (Seab), o preço médio cotado em janeiro foi de R$ 1,43/l, o que representou uma redução de 6% frente a dezembro. O valor representa um acréscimo de de 13,5% frente a janeiro de 2007, porém, o preço médio da matéria-prima esteve cerca de 36% superior na mesma comparação.
O segmento de queijos, segundo agentes do setor, também segue com margem mais apertada. Isso porque o custo da matéria-prima está relativamente alto, puxado pelas indústrias de leite em pó, e porque até o momento não houve espaço para alta de preços, apesar da procura razoável pelo produto.
De acordo com dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, os preços do queijo mussarela no atacado tiveram uma queda de 28,6% entre agosto e dezembro do ano passado.
Fazendo uma estimativa da rentabilidade relativa das indústrias de queijos, leite em pó e longa vida, por meio da diferença entre o preço do atacado e o custo da matéria-prima em 2007 (e supondo estáveis os demais custos no período), observa-se uma significativa redução, dada pela queda dos preços no atacado, principalmente no segundo semestre do ano passado, aliada aos preços relativamente elevados do leite.
Gráfico 1. Evolução da rentabilidade relativa para queijo mussarela, leite em pó integral e leite longa vida, de janeiro de 2007 a janeiro de 2008.
De acordo com o gráfico, o melhor momento para os três segmentos foi entre junho e agosto, quando a rentabilidade foi maior. Em julho, o índice foi 142% superior a janeiro no caso do queijo mussarela, 103% no caso do leite em pó integral e 68% no caso do leite longa vida. Em dezembro, os segmentos de queijos e leite longa vida registraram índice inferior ao do início do ano passado e apenas o de leite em pó, apesar da queda, permaneceu relativamente alto no final de 2007.
Contudo, com a entressafra, a expectativa é que os preços do leite tenham um aumento, o que pode refletir nos preços dos derivados. Com uma margem apertada, é possível também que as indústrias repassem os maiores custos para os consumidores nos próximos meses, quando o consumo tende a aumentar, em função do retorno das férias escolares.
Os custos mais altos de produção de leite, os preços externos em alta e o aumento da demanda por lácteos também tendem a segurar os valores do produto no mercado interno. Isso pode contribuir para aumentar o custo das indústrias, mas também elevar os preços do produto final. O mercado ainda dependerá do comportamento das vendas.