- em dezembro, os preços médios, de acordo com o Cepea, foram 7 centavos maiores do que no mesmo mês do ano anterior;
- em janeiro, espera-se pouca alteração desse quadro, caracterizando uma safra bastante curta, se é que se pode chamar de safra;
- os preços externos seguem em alta, sem perspectivas de redução nos próximos meses
- nada indica substancial aumento da oferta interna de leite;
- os preços do leite em pó e queijos vem reagindo aos poucos; longa vida ainda não, mas a tendência é de aumento para o próximo mês;
- esses fatores deverão ser responsáveis por uma elevação de preços médios em comparação a 2006 (em valores nominais).
Esse quadro de preços mais altos sugere aumento da rentabilidade. Porém, antes de contar com os ovos na cesta, convém analisar os preços dos insumos de alimentação, uma vez que a escalada dos preços de algumas commodities tem sido um fato novo - e preocupante - no cenário.
O milho é que apresenta a situação mais complicada. Segundo dados da Seab/PR (Secretaria da Agricultura e do Abastecimento do estado do Paraná), o valor no atacado em dezembro do ano passado foi 34,5% superior ao preço de janeiro do mesmo ano. No atacado de São Paulo, segundo dados da Conab, a variação foi de 35,1%. A média cotada no segundo semestre do ano foi cerca de 21,5% superior à do primeiro semestre em São Paulo (Conab) e 14,4% no Paraná (Seab).
No caso da soja, o aumento tem sido menos expressivo, se analisarmos os dados da Seab/PR. De acordo com eles, a média do segundo semestre no atacado foi apenas 1,5% superior à média obtida no primeiro semestre do ano passado.
Com os preços em alta, já se observam previsões de aumento de área plantada das duas culturas devido ao maior entusiasmo com o setor para 2007. No entanto, um estudo do Cepea, comentado em notícia do jornal DCI, reforçou a tendência de alta de preços de produtos agropecuários mesmo com um aumento da safra no Brasil. O trabalho aborda o fato de que os mercados futuros desses grãos indicam tendência de alta para 2007.
Esses aumentos corroem a rentabilidade da produção animal, especialmente as mais intensivas no uso de ração. Para ilustrar, o gráfico abaixo traz a variação de preços do milho, farelo de soja e leite desde abril de 2005, classificado como índice 100. Observa-se a evolução dos preços de milho e soja a partir de setembro do ano passado. Em dezembro, o milho atingiu pela primeira vez os valores de abril de 2005 (sem contabilizar a inflação do período), enquanto a soja e o leite continuam abaixo desse patamar. Embora analisando o período em questão, a soja já esteja em uma situação de preço melhor do que o leite, em termos comparativos, o que representa uma margem de lucro menor para a atividade no período para os produtores que utilizaram os grãos para alimentar o rebanho.
Gráfico 1. Variação dos preços de leite, milho e farelo de soja.
Fontes:Cepea, Seab/PR
Elaboração: Equipe MilkPoint
Nesse cenário, o produtor de leite precisa trabalhar muito bem os custos de suplementação, seja utilizando subprodutos economicamente interessantes, seja arraçoando com maior precisão, seja trabalhando com forragens de elevada qualidade, que demandam uso menos intenso de concentrados, seja evitando o desperdício. Em épocas de preços elevados de alimentos, mais do que nunca é fundamental ser eficiente na suplementação.
Além da relação de preços do leite e outros insumos, é interessante analisar um outro índice, que ajuda a dimensionar de modo mais correto a atual situação. A figura 1 mostra a variação da Receita Menos o Custo da Ração, deflacionada pelo IGP-DI, considerando o período de 2000 a 2006. Definiu-se uma vaca produzindo 20 kg/dia, recebendo 7 kg de uma ração baseada em milho e farelo de soja, os principais insumos e que acabam puxando as demais cotações.
Figura 1. Variação da Receita Menos o Custo da Ração, deflacionada pelo IGP-DI, entre 2000 e 2006.
Fontes: Cepea, Seab/PR, FGV
Elaboração: Equipe MilkPoint
A média desse valor, nesses últimos 7 anos, calculada mês a mês, é de R$ 7,47 por vaca/dia. Esse é o valor que sobraria para pagar os demais custos, incluindo o volumoso, e gerar lucro. Nota-se grande variação desse valor em função das flutuações nos preços do leite e dos grãos, apesar de que, em 2006, dada a relativa estabilidade, a flutuação tenha sido bem menor do que nos demais anos. O ponto a ser analisado é que dezembro de 2006 verificou valores 4,5% abaixo da média geral para o período, atingindo R$ 7,13. Esse valor (tabela 1) é menor do que a média de todos os últimos 7 anos, à exceção de 2001, o ano da maior crise da atividade, e de 2002.
Isso não é tudo. Em setembro de 2006, havíamos escrito que esperava-se preços médios para o milho em 2007 até 20% mais altos do que em 2006. Para a soja, esse aumento seria de 5% (valor que está se mostrando conservador). Considerando que essas previsões estão corretas, o leite deveria ter preço médio de R$ 0,503/litro em 2007 para que a RMCR seja igual a de 2006. Comparado a 2005, o segundo melhor ano da série, o preço médio deveria ser de R$ 0,537/litro. Constatando que em 2006 o preço médio foi de R$ 0,4811/litro e que começamos janeiro com preços cerca de 16 a 17% mais altos do que no mesmo período do ano passado, o aumento necessário de 11,7% no preço médio, em comparação a 2006, para que a RMCR atinja os patamares de 2005, parece possível, dada a conjuntura de mercado.
Isso não quer dizer que a rentabilidade do produtor será mais alta, mesmo que a RMCR alcance valores até superiores aos verificados em 2000 e 2005, os dois melhores anos. É importante lembrar que esse índice, embora isolando o principal item de custo, não contempla as variações em itens relevantes, como mão-de-obra, energia elétrica, óleo diesel e fertilizantes, para ficar em alguns apenas. De qualquer forma, pode-se dizer que 2007 começa com uma perspectiva de mercado positiva, ainda que os custos de alimentação demandem uma boa dose de alerta e bom gerenciamento da programa de alimentação.
Essa percepção positiva pode ser captada pela enquete realizada pelo site MilkPoint, em que 58,8% dos votantes acreditam que 2007 será melhor do que 2006, contra 16,2% que consideram que será pior, enquanto o restante acredita que será equivalente ou não sabe.
Tabela 1. Receita Menos o Custo da Ração (RCMR) médio dos últimos 7 anos (R$/vaca em lactação/dia, supondo uma vaca de 20 kg/dia recebendo 7 kg de ração feita na fazenda, à base de milho, farejo de soja e minerais).
Fontes: Cepea, Seab/PR, FGV
Elaboração: Equipe MilkPoint