Os valores cotados na Europa e na Oceania, de acordo com informações do USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) alcançaram níveis inesperados por especialistas do setor. O leite em pó ultrapassou os US$ 5 mil por tonelada e atualmente está até 150% acima dos patamares de 2006.
Gráfico 1. Preços de exportação do leite em pó integral do Brasil, Argentina, Oceania e Oeste da Europa, em dólares por quilo.
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Desta forma, a alta no mercado exportador se tornou atraente para o setor leiteiro e foi motivo de forte competição entre indústrias que trabalham com vendas externas, o que contribuiu para uma elevação dos preços no mercado nacional.
No entanto, dois fatores fundamentais para a atratividade das exportações desfavoreceram esse tipo de negociação: o preço da matéria-prima (leite) em alta e a desvalorização do dólar frente ao real.
Em julho, os preços médios pagos aos produtores pelo leite, segundo dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, ficaram cerca de 37% superiores ao obtido no mesmo período de 2006.
A taxa do dólar, de acordo com dados do Banco Central do Brasil, esteve 14% mais baixa que a cotada em julho do ano passado. Isso desfavorece as exportações brasileiras, uma vez que o produto nacional em dólar se torna mais caro (e, portanto, menos competitivo) no mercado externo.
No caso do leite em pó integral - produto mais exportado pelo Brasil até julho, representando cerca de 26% do total do volume vendido -, mesmo com o dólar em baixa e os valores do leite mais altos, a rentabilidade da exportação do produto é relativamente maior neste ano, considerando a receita obtida no mercado externo e o custo em dólar da matéria-prima.
O gráfico 2 mostra a evolução dos preços da matéria-prima (leite) em dólar para a fabricação de leite em pó integral - foram considerados 8,2 litros de leite para a fabricação de 1 kg de leite em pó integral - e a variação dos preços (em dólares por quilo) do produto final obtidos com as exportações.
Embora a análise não inclua todos os itens de custo de fabricação do leite em pó integral, os dados dão um bom parâmetro de como a taxa do dólar e os preços mais altos do leite no mercado interno estão afetando as exportações desse produto.
Gráfico 2. Evolução dos preços médios de exportação do leite em pó integral brasileiro e os custos com a matéria-prima (leite) no mercado nacional, em dólares por quilo.
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Observa-se que a partir de dezembro do ano passado os preços do leite em pó integral vendido ao mercado externo aumentaram em maior proporção que os custos com a matéria-prima. De janeiro a julho deste ano os custos com leite (valores cotados em dólar) aumentaram 56,5% contra um acréscimo de 71% no preço médio de exportação do leite em pó integral.
Entre julho deste ano e o mesmo mês de 2006, os custos com o leite nacional representaram um aumento de58,5%.
Isso pode ser melhor visto através do gráfico 3, que mostra uma diferença entre a receita com o produto final e o custo de 8,2 litros de leite em dólares. Essa diferença, que dar uma idéia de "rentabilidade" do exportador, em julho é 1.100% superior à obtida no mesmo mês de 2006. Em relação a janeiro deste ano, o acréscimo é de 109%.
Vale destacar que em julho do ano passado o preço do leite em pó integral exportado foi relativamente baixo - de US$ 1,98/kg, contra US$ 4,10/kg neste ano. Esse é o principal fator que influenciou o aumento de 1.100% na "rentabilidade" entre os dois períodos.
Gráfico 3. Diferença entre o preço médio obtido pelo leite em pó integral exportado e os custos com a matéria-prima (leite), em dólar.
Portanto, os principais fatores que poderiam prejudicar a margem de rentabilidade do setor exportador de lácteos (custo da matéria-prima e dólar em baixa) não inviabilizaram as exportações do leite em pó integral, principal produto exportado atualmente. Pelo contrário, os dados mostram que neste ano as margens estão maiores em função do aumento dos preços de venda ao mercado externo.