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Silagem de milho insuficiente: como superar esse desafio em fazendas de leite?

NOVIDADES DOS PARCEIROS

EM 17/09/2020

9 MIN DE LEITURA

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A silagem de milho é um dos principais volumosos utilizados na pecuária de leite, cuja demanda vem aumentando diariamente. A necessidade de melhorar a eficiência econômica dos sistemas tem levado à sua intensificação, buscando produtividades mais elevadas. Assim, as características físico-químicas da silagem de milho a torna elegível nesses sistemas intensificados.

A silagem de milho se diferencia dos demais volumosos – principalmente – por apresentar alta produção de matéria seca por área, de alto conteúdo energético em baixa frequência de cortes. Esta forragem possui alta qualidade fermentativa por apresentar baixo poder tampão, boa concentração de carboidratos solúveis e adequado teor de matéria seca na ocasião do ponto de corte. O adequado processo fermentativo possibilita manter um padrão de qualidade de dieta constante ao longo do ano. A qualidade nutricional possibilita a redução do uso de ingredientes concentrados e/ou obtenção de maiores produtividades. As fazendas mais eficientes têm maximizado o uso de silagem e conseguido ambos os benefícios. A associação desses fatores torna o uso da silagem de milho muito atrativo, entretanto, sua produção em quantidade suficiente é limitante a um número significativo de propriedades produtoras de leite.

Lavoura de Milho.

A disponibilidade de silagem de milho abaixo da quantidade necessária pode se dar por diversos motivos. Dentre eles, estão: limitação de área para plantio, plantio de menor área que o necessário, evolução do rebanho além do esperado, produtividade da lavoura abaixo do esperado. Nesse sentido, serão discutidas nesse artigo alternativas para suprir a falta de silagem de milho.

É importante sempre estimar a demanda e mensurar a quantidade de silagem produzida. Quanto antes identificarmos que a silagem não será suficiente e verificarmos a quantidade deficitária de forragem, mais sucesso teremos na adoção de estratégias que solucionem esse problema. Em cenários de oferta restrita, o primeiro passo é estimar o estoque. A partir disso, saberemos o quanto é necessário economizar e/ou comprar.

Após este passo, discutiremos basicamente 4 alternativas:

  1. Comprar silagem de milho para suprir o déficit;
  2. Adequar o número de animais à quantidade de silagem disponível;
  3. Direcionar a silagem de milho a apenas determinadas categorias e/ou substituir por outro volumoso;
  4. Aumentar a oferta de alimentos concentrados na dieta e reduzir a proporção de volumoso.

Para cada cenário haverá uma estratégia mais adequada. Em alguns casos, mesclar mais de uma estratégia poderá ser a melhor alternativa.

1. A compra da silagem de milho, na maioria das regiões, se mostra uma alternativa de baixa viabilidade, principalmente por não haver um mercado bem estabelecido para o comércio e pela dificuldade de transporte devido à alta umidade. A falta de um mercado estabelecido leva frequentemente à compra de silagem a preço muito elevado, sendo comum encontrarmos preços de duas a quatro vezes maiores que o custo de produção, o que inviabiliza a atividade. Também é rotineira a disponibilidade para compra de silagem de baixa qualidade, principalmente, devido ao baixo teor de amido, alta umidade e inadequado processo de fermentação. Em muitos casos, os dois fatores se combinam.


Apesar dos pontos negativos, é uma alternativa que deve ser analisada. A demanda do rebanho por esse volumoso, a presença de um bom fornecedor próximo à fazenda, e a viabilidade ou não das demais alternativas constituem fatores decisivos na compra.

2. Outra possibilidade é reduzir a quantidade de animais, adequando o rebanho à quantidade de silagem disponível. A venda de vacas em lactação é a ação de maior impacto a curto prazo, pois refletirá diretamente na renda da propriedade. Essa alternativa é atrativa principalmente quando antecipamos os descartes já previstos. Visto que são animais que geralmente têm menor contribuição na produção e já sairão do rebanho, essa ação compromete menos o resultado a curto e a longo prazo.


A venda de animais em recria também é uma possibilidade, sem impacto imediato, não comprometendo o desempenho das vacas em lactação e a receita da fazenda com a venda de leite. Em fazendas que possuem excessiva quantidade de animais de reposição e/ou que o crescimento do rebanho não foi planejado, certamente essa alternativa é viável. Já em fazendas com limitada reposição, como consequência, haverá déficit na entrada de primíparas, levando à redução da quantidade de vacas em lactação num futuro próximo. Para adoção dessa alternativa é necessário avaliar a evolução do rebanho e o planejamento da propriedade, e só através disso teremos a resposta da viabilidade.

3. Direcionar silagem de milho apenas a determinados lotes/categorias, por ser o volumoso mais nobre, é uma estratégia adequada em situações em que se tem outros volumosos disponíveis e que existem categorias menos exigentes na fazenda. Para esses animais, a associação de volumoso alternativo e ajustes nutricionais permitem a manutenção do resultado zootécnico.


Em lotes de alta e média produção é possível realizar pequena redução de silagem de milho desde que avaliado o teor de energia da dieta e as características do volumoso secundário. É necessário se atentar principalmente ao nível energético desse volumoso e aos níveis de fibra fisicamente efetiva da dieta final. Lotes de baixa produção são mais propícios à essa estratégia, pois suas dietas geralmente apresentam potencial de redução de energia. Vacas secas e animais em recria após a puberdade se enquadram na mesma situação. Nas dietas de vacas em pré-parto também é possível reduzir silagem, mas apenas quando isso também ocorre no lote pós-parto ou de alta produção.

Algumas alternativas de volumoso secundário são: as pastagens, capins e cana-de-açúcar. A substituição de silagem por estes volumosos alternativos demanda ajustes nutricionais visando a manutenção do desempenho, que na maioria dos casos, estão associados ao aumento do fornecimento de ingredientes concentrados. Porém, outros ajustes podem ser necessários devido à grande variabilidade de forragens disponíveis e de demanda nutricional.

Com caráter de exemplificação, discutiremos a utilização de capim-elefante, cultivar BRS Capiaçu, que tem sido adotado por diversos produtores ao redor do país. Os principais fatores que têm levado à alta implementação dessa forragem são o elevado potencial de produção e o bom valor nutricional, quando comparado a outras cultivares de capim-elefante. De acordo com a Embrapa (2016), o BRS Capiaçu tem capacidade de produzir até 300 toneladas por hectare/ano. Entretanto, levando em conta a variabilidade de solos, tratos culturais e demais variáveis que afetam o desempenho geral, associado a uma visão conservadora, a consideração de 180 a 220 toneladas por hectare/ano seria razoável. Essa produtividade representará até 2 vezes mais MS (matéria seca) que a obtida no cultivo de safra e safrinha de silagem de milho (tabela 1). A relativa facilidade para a colheita mecânica e menor risco agronômico também incentivam à utilização do BRS Capiaçu. Apesar de alguns benefícios, a qualidade do BRS Capiaçu é inferior à silagem de milho. Quando ensilado, os teores médios de 5% de PB (proteína bruta) e de 45% de NDT (nutrientes digestíveis totais), representam 2/3 do valor proteico e energético da silagem de milho.

Capim-elefante BRS Capiaçu.

Um aspecto importante a ser considerado é que a adoção de BRS Capiaçu tem sido muito difundida, especialmente em regiões que apresentam limitação de área para plantio de milho, devido a topografia muito acidentada. Nessas situações, a propriedade passa a ter capacidade de alimentar mais vacas em uma mesma área. Na tabela 1 foram consideradas produtividades médias de matéria natural e de matéria seca de silagem de milho e de BRS Capiaçu. É possível observar que mesmo considerando a produção de milho na safra e safrinha, a produção de matéria seca do capim foi quase duas vezes superior, consequentemente suportando o dobro de vacas por hectare (13,7 vs. 7,5).

Tabela 1: Comparação da produtividade e capacidade de suporte da silagem de milho e do BRS Capiaçu

Ingrediente

Produtividade de MN / ha (ton)

Teor de MS

Produtividade de MS / ha (ton)

Relação da produção de MS

Vacas / ha / ano¹

Silagem de Milho Safra

50

32%

16,0

32%

4,4

Silagem de Milho Safrinha

35

32%

11,2

22%

3,1

Silagem de Milho Safra + Safrinha

85

32%

27,2

54%

7,5

BRS Capiaçu

200

25%

50,0

100%

13,7

MN – Matéria Natural; MS – Matéria Seca. ¹ Considerado consumo médio de 10 kg/vaca/dia de MS de volumoso.

4. A utilização de ingredientes concentrados em maior proporção na dieta também é uma opção para reduzir o uso de silagem de milho. Vantagens da adoção dessa estratégia são maximizar o número de animais por área de forragem produzida e facilidade de encontrar os ingredientes alternativos. Isso possibilita a imediata redução do uso da silagem de milho, o que não seria possível, por exemplo, no caso da implantação de uma capineira. Como os ingredientes concentrados representam a maior proporção do custo de produção, as alterações em seu uso têm grande impacto, sendo sempre necessária a análise de viabilidade econômica dessa estratégia.

Na tabela 2, estão listados os principais ingredientes utilizados em substituição à silagem de milho, podendo, cada um deles, ser mais ou menos vantajoso em função do preço, facilidade de estocagem, distância do fornecedor etc. Foram simuladas algumas substituições em base de MS, sendo possível visualizar que os ingredientes concentrados tendem a ter maior custo. No entanto, a simulação da compra da silagem de milho a R$ 250/tonelada altera totalmente o cenário econômico. Ingredientes proteicos podem trazer o benefício adicional de redução de fontes proteicas da dieta, podendo gerar redução do custo total de alimentação. É fundamental ter ciência que cada ingrediente alternativo apresenta um potencial, mas também ressalvas, havendo limitações em quantidade de uso e de substituição.

Tabela 2: Principais ingredientes concentrados alternativos à silagem de milho

Ingrediente

Teor de MS

kg de MS fornecido em 9 Kg de MN

Relação da substituição de silagem de milho¹

R$/kg MN hipotético

Custo vaca/dia

Silagem de Milho

30%

2,7

9,0 kg

R$ 0,15

R$ 1,35

Resíduo Úmido de Cervejaria

25%

2,25

10,8 kg

R$ 0,18

R$ 1,94

Caroço de Algodão

92%

8,28

2,9 kg

R$ 0,70

R$ 2,05

Casquinha de Soja

91%

8,19

3,0 kg

R$ 0,45

R$ 1,34

Polpa Cítrica

88%

7,92

3,1 kg

R$ 0,55

R$ 1,69

MS – Matéria Seca; MN – Matéria Natural; ¹ foi comparado a relação de substituição de 9 kg de silagem de milho pelos demais ingredientes, mantendo o fornecimento de MS.

O uso de ingredientes alternativos deve ser avaliado com critério, pois, nutricionalmente, em algumas dietas, podem ser muito favoráveis, trazendo resposta produtiva. Essa resposta é esperada principalmente em dietas de alto volumoso, com alta fibra em detergente neutro fisicamente efetiva (FDNfe), de forma que os ingredientes concentrados podem levar ao adensamento da dieta, sem prejuízo a saúde ruminal. Já dietas de baixo volumoso e/ou com silagem muito processada, a substituição de volumoso por concentrado pode levar à piora no ambiente ruminal e a problemas metabólicos e produtivos. Além disso, para cada ingrediente existe um limite de substituição que deve ser considerado pelo nutricionista.

Como descrito neste artigo, existem várias alternativas à correção da disponibilidade insuficiente de silagem de milho e, certamente, ao menos uma delas será viável nos diferentes cenários e sistemas de produção existentes. Um aspecto fundamental é mensurar a demanda o quanto antes e agir o mais rápido possível para não se deparar – de forma despreparada – com a falta de volumoso, sendo possível, dessa forma, superar a restrição à silagem de milho sem prejuízo zootécnico e econômico. Entretanto, essas são medidas de curto prazo para manter a produção e a receita da fazenda, mas o ideal é que para o longo prazo seja realizado o rearranjo de animais e/ou planejamento forrageiro baseado na evolução do rebanho. Para otimizar os resultados na adoção das estratégias é recomendado que o nutricionista seja consultado.

Por Luciano Primola de Melo - consultor de serviços técnicos de bovinos leiteiros na Agroceres Multimix.

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MARCO ANTONIO PARREIRAS CARVALHO

BELO VALE - MINAS GERAIS

EM 28/01/2022

Tenho gado brahman PO e, na seca, utilizo cana fresca com uréia e sulfato de amônia, em proporções variadas de acordo com a categoria do indivíduo. Associada a proteinado o ano todo. As vacas paridas ainda comem um kg de ração lacmaster Itambé 24% de proteína. Tenho intervalo de partos de 13 meses porque utilizo inseminação artificial (se fosse cruzamento direto com touro esse tempo seria menor). Alguma sugestão ao manejo? Nas águas, protéico energético mais pastejo rotatinuo.
MARCUS VINICIUS CASTRO MOREIRA

VIÇOSA - MINAS GERAIS - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 12/12/2020

Excelente artigo!
Parabéns!
BRENO

VAZANTE - MINAS GERAIS

EM 30/10/2020

Bom dia Luciano Primola de Melo, sou pequeno produtor de leite, e caminhando para crescer, tenho acompanhado várias pesquisas e relatos de experiências de produtores que vem implantando a silagem do CAPIAÇU acrescido de fubá de milho, por acaso você já trabalhou com essa experiência? tem um produtor no sul de Minas, não me lembro o nome e nem a cidade, em uma entrevista, relatou que tem 100 vacas em lactação, no compost barn, planta 6 hectares de capiuaçu, o qual ele ensila, com essa área consegue volumoso suficiente para todo ano, ele diz que acrescenta 8% de fubá de milho à silagem, também coloca inoculante, na reportagem ele relatou que a produção média das vacas é de 31kg de leite, e que tem vaca com pico de lactação acima de 50KG dia, você ja viu ou conhece alguém com essa experiência? será que é possível substituir o fubá de milho por resíduos com a mesma eficiência?
ALEX DE OLIVEIRA DA COSTA

BUÍQUE - PERNAMBUCO - INDÚSTRIA DE LATICÍNIOS

EM 05/11/2020

Boa tarde, uma pergunta muito boa, posso ter acesso a resposta também. Forte Abraço
JOÃO CESAR DE RESENDE

JUIZ DE FORA - MINAS GERAIS - PESQUISA/ENSINO

EM 21/09/2020

Oi Luciano, aqui o João Cesar, economista da Embrapa. Muito oportuno de sua parte tocar no assunto e pensar em saídas para o problema da falta de silagem. Infelizmente um problema recorrente e mais frequente do que parece --- por incrível que pareça --- em muitas fazendas de leite. Seu artigo mostra que, além de excelente especialista, você possui boa vivência com a "roça". Estou compartilhando sua orientação com alguns "amigos" que volta e meia entram em parafusos com este problema.
Parabéns pelo seu artigo.
Abraço para você.
João Cesar
(32) 9 9964 4027

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