Como citado no radar anterior, a retenção de placenta é um problema sério em vacas de leite, sendo que de 8 a 30% dos partos normais em vacas de leite resultam em retenção de placenta. Após revisão da literatura sobre este assunto e baseado nos métodos de tratamentos utilizados por muitos técnicos, concluiu-se que havia grande número de técnicas de tratamentos empregadas, de drogas e de hormônios recomendados e variação no tempo de início do tratamento, porém sendo de consenso de que não se deve efetuar a extração manual forçada da placenta por causa de possíveis injúrias ao endométrio e que a aplicação de prostaglandina mais estrógeno em vacas com e sem retenção de placenta, apressou a diminuição da contaminação uterina em vacas no pós-parto.
O tratamento das infecções uterinas inespecíficas, que tomam forma de metrites, endometrites e piometras, é assunto bastante controvertido. Existe muita divergência sobre os melhores tratamentos, talvez por causa da pouca atenção dada ao processo normal de involução e aos mecanismos de defesa uterina, durante o período pós-parto.
Uma conduta racional para a terapia antibacteriana dessas infecções depende do isolamento e identificação do agente causador da infecção, da sua sensibilidade "in vitro" às drogas antibacterianas e da concentração necessária do antibiótico no útero da vaca.
O útero, no pós-parto, oferece condições ideais para o crescimento de bactérias que, entretanto, sobre condições normais, são eliminadas em poucos dias ou semanas. Elas são eliminadas pelas contrações do miométrio, que forçam a saída do lóquio através da cérvix, pela atividade de fagocitose dos leucócitos nos fluidos uterinos e no endométrio e pelas substâncias antibacterianas produzidas pelas glândulas uterinas.
A flora bacteriana uterina no início do puerpério contém grande número de espécies, sendo estreptococos, estafilococos, Corynebacterium pyogenes e coliformes as mais freqüentemente encontradas. A composição da flora não é persistente e varia em um mesmo animal, após sucessivas colheitas, como resultado de espontânea contaminação, limpeza e recontaminação. Após o parto, o útero é exposto, rapidamente, a uma grande variedade de bactérias originárias da vagina, vestíbulo e do períneo. Após certo período, a flora começa a ficar menos abundante e Corynebacterium pyogenes começa a predominar em certas vacas.
Tem sido observado rápido decréscimo na porcentagem de infecções detectáveis no útero após o parto, sendo de 93% entre três a 15 dias, 78% entre 16 a 30 dias, 50% entre 31 a 45 dias e somente 9% entre 45 a 60 dias. As bactérias mais freqüentemente isoladas foram estafilococos, Pseudomonas e Corynebacterium.
Outros autores encontraram 32,1% de contaminação por E.coli, 28,6% por Corynebacterium pyogenes e 17,9% por Streptococus faecalis e salientaram que as bactérias Gram-negativas predominavam no início do pós-parto, ao passo que as Gram-positivas apareciam em maior proporção posteriormente.
Outros autores citaram que o exame detalhado do trato genital de bovinos deve ser feito entre 30 e 40 dias pós-parto, para evitar tratamentos antecipados e desnecessários em vacas que vão se recuperar espontaneamente e prevenir infecções graves que poderão atrasar a concepção. Em colheitas feitas entre 30 a 37 dias pós-parto, em vacas com sintomas clínicos de infecção, observou-se mais de 50% de contaminação por Corynebacterium pyogenes, sozinho ou combinado com outros microrganismos e 12% de contaminação por bactérias Gram-negativas (E.coli e Proteus). Ainda, endometrites severas estavam associadas ao Corynebacterium sp. e endometrites moderadas estavam relacionadas a Staphylococus sp., coliformes e Streptococus sp.
Tratamentos de endometrites pós-parto após o 40ºdia são menos eficientes que os realizados antes desse período, salientando que, nesse último caso, o efeito do tratamento pode estar confundido com a cura espontânea, ou seja, tome cuidado na interpretação dos resultados quando se faz o tratamento antes do 35ºdia pós-parto.
Como conclusão, não é necessário tratar o útero antes do 35ºdia pós-parto, mesmo quando da retenção placentária, exceto nos casos de comprometimento sistêmico.
Mais uma vez, lembramos da importância do manejo e conforto da vaca no período periparto, visando diminuir, dentro do possível, todos os fatores potencialmente estressantes como: estresse térmico, balanço energético negativo, presença de micotoxinas na dieta e suprir com segurança os minerais e vitaminas que fortalecem o sistema imunológico (Vit. E, Selênio, Cobre, Zinco), visando diminuir o número de animais com infecções aos 35 dias pós-parto.
No próximo radar discutiremos alguns resultados de freqüência de bactérias contaminantes no pós-parto de vacas leiteiras e o grau de sensibilidade a antibióticos.
fonte: MilkPoint