José Luiz Moraes Vasconcelos
A vaca de leite pode ser vista como uma máquina de alto desempenho, que queima combustível, na forma de alimento, sintetizando leite. Como qualquer motor, a vaca produz calor que precisa ser liberado para evitar o superaquecimento. Quando isto não é possível, em função de altas temperaturas ambientais, a temperatura do corpo do animal se eleva, levando à redução no consumo de alimento, na produção de leite e na função reprodutiva.
Os efeitos drásticos do stress térmico na reprodução vêm de 2 maneiras principais: redução da detecção do estro e menor taxa de concepção. A magnitude destes efeitos pode ser severa, com a taxa de detecção de estro caindo para menos do que 50% em alguns casos e a taxa de prenhez chegando a menos de 10%. Em regiões quentes, estes números são comuns. Apesar de ser difícil resolver este problema, há estratégias que podem ser empregadas.
O primeiro aspecto que deve ser lembrado é que não é necessário um dia muito quente para que as vacas sintam stress térmico. A temperatura corporal começa a subir quando o ambiente atinge 26ºC, o que ocorre mesmo no verão de regiões temperadas, isto é, trata-se de um problema generalizado para quem produz leite.
O segundo aspecto é que o stress térmico acompanha o nível produtivo dos animais. Vacas de alta produção têm altas taxas metabólicas e geram mais calor. O que fazer?
Evidentemente, as técnicas de sombreamento e resfriamento dos animais são fundamentais, mas não são capazes de eliminar totalmente os problemas causados pelo stress térmico (Figura 1).
Figura 1. Variação estacional na taxa de concepção (% de inseminações que geraram prenhez) em um rebanho comercial no sul da Flórida. Mesmo considerando que estas vacas estavam alojadas em uma instalação com sombra, ventiladores e aspersores, o declínio na taxa de concepção foi considerável durante o verão. (reproduzido de Hansen, Journal of Animal Science, 77 (suppl. 2): 36 (1999).
Dentre todos os efeitos do stress, certamente a redução na taxa de concepção é o mais drástico. Há 2 enfoques para minimizar o problema. O primeiro é utilizar dispositivos para deteção de estro, visando elevar esta taxa. A outra possibilidade é utilizar técnicas de sincronização de ovulação, dispensando a necessidade de detecção de estro.
Há técnicas simples como a aplicação de pinceis na base da cauda, seguida de observação criteriosa dos animais para identificar o desaparecimento da tinta, indicando que a vaca foi possivelmente montada. Em um estudo na Flórida (EUA), as taxas de detecção de estro em vacas que receberam prostaglandina aumentou de 24 para 43% pela simples utilização do pincel, seguido de observação de estro criteriosa.
Protocolos de inseminação, como o Ovsynch, eliminam a necessidade de detecção de estro porque as vacas são cobertas em momento fixo e definido, independentemente da observação visual do estro. Em 2 estudos da Flórida utilizando IA programada, houve elevação na taxa de concepção ao primeiro serviço (tabela 1).
Alguns produtores preferem utilizar touros durante período de stress térmico. Há pouca dúvida de que touros são melhores do que vacas para detecção de estro, mas por outro lado os touros podem ficar letárgicos e sub-férteis durante o calor. Deve-se tomar cuidado para que a utilização de monta natural não piore ainda mais o problema de fertilidade no verão.
A inseminação da vaca é apenas parte da batalha; auxiliar o embrião a sobreviver no ambiente hostil de uma vaca estressada por calor é outra tarefa difícil. Tratamentos hormonais empregados para melhorar a fertilidade não têm sido eficazes na sobrevivência do embrião em condição de stress térmico. Há alguma evidência de que aumentando a quantidade de antioxidantes (por exemplo, beta-caroteno) pode-se elevar a fertilidade durante o verão, porém mais trabalhos são necessários antes de se generalizar qualquer recomendação.
Transferência de embriões
Uma técnica promissora é a transferência de embriões no verão. Os pesquisadores Bill Thatcher e Maarten Drost na Universidade da Flórida têm sido pioneiros na utilização desta técnica em situação de stress térmico. Considerando que os embriões mais jovens são os mais sensíveis, a transferência destes para receptoras nos dias 7 ou 8, pode resultar em maior taxa de prenhez em relação à inseminação artificial (tabela 2).
Várias fazendas estão utilizando a técnica no Brasil, com resultados muitos semelhantes aos citados na tabela 2.
Uma limitação desta técnica é o alto custo da produção de embriões, mas a tendência é que estes custos caiam com o tempo e com a adoção generalizada da técnica. Nos EUA, há empresas que estão utilizando fertilização in vitro a partir de oócitos recuperados em matadouros, a partir de vacas de mérito genético pouca coisa inferior à média. A utilização destes oócitos pode resultar em animais superiores, uma vez que é relativamente barato empregar sêmen de alto mérito genético, visto que uma dose pode ser utilizada para produzir vários embriões pela fertilização in vitro em comparação com 1 embrião (no máximo), produzido pela inseminação artificial.
fonte: adaptado de Peter Hansen, Hoard´s Dairyman, june/2000, por Equipe MilkPoint