Os produtores de leite têm duas opções para cobrir as vacas e novilhas: inseminação artificial (IA) e monta natural (touro). A IA há muito tempo é recomendada devido às vantagens genéticas e econômicas.
Recentemente nos EUA a revista Hoard's Dairyman publicou um estudo que mostra um aumento da utilização de touros em rebanhos leiteiros.
Tabela 1. Porcentagem de coberturas com Touros em vacas e novilhas nos EUA
Por que os produtores estão aumentando o uso de touros? Muitos produtores acreditam que não têm custos e são uma boa alternativa para corrigir as falhas do programa de IA. Outros acreditam que os touros têm maior habilidade para detectar vacas em cio e que com isso conseguirão reduzir o intervalo entre partos.
Em muitos casos, as vacas que não ficam gestantes após uma ou duas inseminações consecutivas ou vacas que nunca são detectadas em cio são colocadas com touros. Como em fazendas com vacas de alta produção a taxa de concepção é em torno de 40%, uma porcentagem grande de vacas ficam gestantes dos touros e não apenas as vacas que realmente apresentam algum problema.
Geralmente acredita-se que depois do gasto inicial com a compra do touro as coberturas não têm custos e que o uso de touros economiza dinheiro e tempo em programas ineficientes para detectar cio. Essas posições devem ser reexaminadas.
Primeiro, os gastos com IA devem ser considerados investimentos, devido às comprovadas vantagens da IA. Segundo, muitas das despesas de manutenção do touro são alocadas nas outras despesas da fazenda de leite, ficando escondidas. E para manter o touro na fazenda é necessária a construção de instalações seguras, para evitar acidentes. Por exemplo, no estado de Wisconsin, touros leiteiros são responsáveis por um acidente fatal por ano, não temos essa estatística para o Brasil, mas os acidentes também ocorrem por aqui.
Fertilidade do Touro
Os proprietários geralmente consideram que um touro sexualmente maduro pode identificar, cobrir e emprenhar todas as vacas que entram no cio. Porém, a eficiência dos touros depende de alguns fatores como: fertilidade, libido, capacidade de monta e sanidade. Os touros devem ser examinados frequentemente, para evitar esses problemas.
Outro problema que geralmente esquecido é o efeito do estresse térmico sobre a fertilidade dos touros. A qualidade do sêmen de touros de raças leiteiras é reduzida pela exposição contínua por cinco semanas a temperatura ambiente de 30oC ou de 38oC por duas semanas, sem apresentar redução da libido.
O estresse térmico compromete a fertilidade do touro por reduzir a concentração espermática, a motilidade e aumentar a porcentagem de espermatozóides com morfologia anormal no ejaculado. A qualidade do sêmen só volta à condição anterior ao estresse térmico depois de dois meses. O efeito prolongado do estresse térmico no touro em conjunto com o efeito do estresse térmico na fertilidade da vaca reduz muito a fertilidade do rebanho.
Outros problemas do uso de touros é que eles podem transmitir doenças venéreas. As centrais de sêmen garantem sêmen livre de doenças venéreas por exames periódicos e adição de antibióticos no sêmen e os touros das centrais são examinados para certos defeitos genéticos.
Uma melhor alternativa para as fazendas que apresentam falhas na detecção de cio seria o uso de protocolos de IA em tempo fixo, ao invés do uso de touros.
Controle da Reprodução
Outra importante vantagem de um programa bem conduzido de IA é o acesso aos dados precisos de data de cobertura, que permitem o controle do rebanho e dos índices da eficiência reprodutiva, facilitando a tomada de decisões. Isso nem sempre é possível com o uso de touros, principalmente quando eles ficam soltos com as vacas.
Muitas vezes a previsão da data do parto em vacas cobertas por touros é errada, comprometendo o período seco e o manejo de transição, levando a perda econômica devido ao aumento da incidência de distúrbios metabólicos e a redução da produção na lactação seguinte.
Conclusão
Temos que repensar o uso de touros em fazendas de leite principalmente porque eles são muito utilizados no verão, quando as vacas apresentam problemas decorrentes do estresse térmico. Muitas vezes nos esquecemos que os touros também são afetados pelo estresse térmico e que a recuperação só vai ocorrer dois messes depois do fim do estresse térmico.
Não pense apenas no curto prazo (touros não são provados). Não vamos perder a oportunidade de utilizar animais comprovadamente com capacidade de melhorar a lucratividade de nossos rebanhos. Hoje existem técnicas que permitem a IA em horário pré-determinado, inclusive com a possibilidade de indução de ciclicidade. Pense no longo prazo. Procure um técnico capacitado para orientá-lo.