Este texto é a parte da palestra apresentada pelo Dr. William W. Thatcher da Universidade da Florida, no XVIII Curso Novos Enfoques na Produção e Reprodução de Bovinos, realizado em Uberlândia de 20 e 21 de março de 2014.
Para atender as crescentes demandas da população mundial por alimentos, é essencial adotar práticas de manejo e tecnologias que melhorem a eficiência da produção, ao mesmo tempo em que se reduz o uso de recursos e diminui o impacto ambiental. Atualmente, os esforços de pesquisa e extensão têm como foco os programas de manejo reprodutivo que transcende os processos reprodutivos e coordena as disciplinas de fisiologia, nutrição, saúde, manejo e bem estar das vacas e genética. Hoje, o produtor de leite tem um repertório de abordagens para coordenar as necessidades da vaca leiteira de alta produção para que ela se reproduza de maneira eficiente. O manejo reprodutivo deve ser abordado de forma holística agora e será ainda mais refinado por meio de contínuos avanços das tecnologias.
A associação entre a relação de porcentagem de gordura: porcentagem de proteína (RGP) do leite e o balanço energético tem sido bem caracterizado na primeira lactação de vacas leiteiras (Buttchereit et al., 2010). A RGP é maior durante o período inicial da lactação, quando o déficit energético é mais pronunciado. O balanço energético é estabilizado quando para o declínio na RGP. Nas vacas, a correlação entre a RGP e o balanço energético foi mais próxima (r = -0,43) no primeiro estágio da lactação. A explanação para esta associação biológica é que um déficit de energia leva a maior lipólise e captação destes ácidos graxos pela glândula mamária. Ao mesmo tempo, a ingestão inadequada de carboidratos fermentáveis para a fermentação pelas bactérias ruminais pode resultar em redução da proliferação das bactérias ruminais e, portanto, da proteína bacteriana. O fluxo de aminoácidos para a glândula mamária é reduzido e a porcentagem de proteína do leite é diminuída. Como consequência, um aumento da RGP para 1,5 é indicativo de maior balanço energético negativo que está classicamente associado a aumentos na lipólise. Aumento da RPG para > 1,5 é preditivo de transtornos no início da produção, como cetose, deslocamento do abomaso, cistos ovarianos, mastite e claudicação (Toni et al., 2011).
As associações genéticas positivas moderadas entre RGP e características de fertilidade, como número de dias até a primeira IA e dias vazio, variaram entre 0,14 e 0,28 (Negussie et al., 2013). As vacas com RGP relativamente maior tenderam a ter primeira IA mais tardia por causa do balanço energético negativo e subsequente mobilização de reservas corporais, característica do início da lactação. A RGP do leite é uma característica hereditária que variou de 0,16 a 0,25. Com a nova tecnologia na sala de ordenha para monitorar a RGP do leite de cada vaca, é possível avaliar o balanço energético individual ou do rebanho. Isto permite ajuste das dietas de forma a otimizar os programas de arraçoamento do período de transição. Também proporciona uma visão potencial das respostas reprodutivas subsequentes, que influenciam o intervalo até a prenhez e é potencialmente útil para a seleção da fertilidade.
Futuros avanços para melhorar ainda mais a eficiência dos programas irão exigir o monitoramento online diário das vacas para diagnóstico precoce de prenhez, status dos ovários e ciclos ovarianos, status metabólico e de saúde, utilizando tecnologia de biosensores na sala de ordenha. Combinada com alojamento otimizado para maximizar o conforto, a saúde e o bem estar animal, esta tecnologia irá permitir que vacas leiteiras de alta produção se reproduzam e mantenham altos níveis de produção de leite. A empresa S.A.E AFIKIM Co de Israel apresenta o sistema Afilab (http://www.afimilk.com/sites/default/files/44/afilab.pdf), com instalações em Israel e na Europa, e estações de pesquisa selecionadas na América do Norte. Combinado com a tecnologia de infravermelho, este sistema de sensor na linha de leite estima os teores de gordura, proteína, lactose, CCS e a presença de sangue no leite, avaliando o padrão de dispersão da luz quando passa através do leite que flui para o receptor. Além disso, estão disponíveis sistemas integrados simultâneos para monitorar a atividade da vaca por meio de pedômetros e/ou tags de atividade, para detectar mudanças na atividade que podem ser indicativas de que a vaca está no cio ou possivelmente com claudicação, bem como um sistema automático, de passagem, para monitorar o peso corporal
O Herd Navigator® (http://www.herdnavigator.com/pages) é um sistema com tecnologia diferente – é automático, online, com nanotecnologia, desenvolvido pela DeLaval e FOSS, atualmente distribuído na Europa e no Canadá. A unidade Herd Navigator é instalada na granja leiteira e utiliza a tecnologia de biosensores (Brandt et al., 2010) para medir quatro produtos hormonais ou metabólicos: progesterona, LDH (lactato desidrogenase), BHB (beta hidroxibutirato) e uréia. Utilizando biomodelos computadorizados na granja, o sistema pode descrever o status fisiológico e metabólico das vacas, permitindo a tomada de decisões no momento oportuno. Os dados de progesterona são usados para prever cio, prenhez, cistos, anestro e aborto. A enzima LDH é liberada no leite quando as células são destruídas durante uma inflamação no úbere. A LDH é adequada para a detecção dos estágios iniciais de mastite e diminui rapidamente depois que a mastite é reduzida. O corpo cetônico, BHB, é usado principalmente para detectar cetose clínica e subclínica e outras anomalias que comprometem o metabolismo. A presença de uréia no leite pode ser indicador de consumo excessivo ou insuficiente de proteína na dieta. Estas tecnologias exemplificam o potencial das abordagens holísticas, integrando status fisiológico e metabólico para otimizar o desempenho reprodutivo, a saúde e o bem estar da vaca leiteira em lactação. É provável que um biosensor mais específico para detectar prenhez venha a ser desenvolvido como resultado de um relato recente (Lawson et al., 2013). Os autores mostram que glicoproteínas associadas a prenhez (PAG) podem ser medidas no leite com alto grau de precisão aos 30 dias de prenhez. A possibilidade de medir PAG no leite no dia 30 da gestação irá complementar o uso do programa ressincronização da IATF para a reinseminação de vacas não prenhes de maneira adequada.
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