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Melhorando a reprodução da vaca leiteira durante o estresse térmico

POR RICARDA MARIA DOS SANTOS

E JOSÉ LUIZ MORAES VASCONCELOS

JOSÉ LUIZ M.VASCONCELOS E RICARDA MARIA DOS SANTOS

EM 07/10/2009

9 MIN DE LEITURA

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Este texto é parte da palestra apresentada por Dr. Todd R. Bilby, no XIII Curso de Novos Enfoques na Reprodução e Produção de Bovinos, realizado em Uberlândia em março de 2009.

O manejo da vaca leiteira em ambientes de calor intenso melhorou consideravelmente com a publicação de resultados de inúmeras pesquisas. Duas estratégias fundamentais são minimizar o ganho de calor pela redução da carga resultante da insolação e maximizar a perda de calor através da redução da temperatura do ar ao redor do animal ou promover maior perda evaporativa de calor diretamente pelos animais.

Conforto e Resfriamento das Vacas

Oferecer sombra e resfriamento é fundamental para assegurar o conforto das vacas. A área mínima de sombra é de 3,5 a 4,1 m2/vaca leiteira adulta para reduzir a incidência de radiação solar. Sistemas de pulverizadores/aspersores de água e ventiladores devem ser usados na baia, sobre os cochos, em free-stalls e sob coberturas em granjas de climas áridos. Uma maneira de baixo custo de resfriar as vacas é no corredor de saída da sala de ordenha. Além disso, é fundamental garantir acesso a água durante épocas de ET, aumentando a quantidade por animal 1,2 a 2 vezes durante o calor. Vacas em lactação necessitam de 132 a 170 litros de água por dia. Recomenda-se localizar os bebedouros na saída da sala de ordenha e entre as áreas de cocho e descanso em granjas tipo free-stall. Não se pode esquecer que o leite é composto de 90% de água; o consumo de água é vital para a produção de leite e para a manutenção da homeostase.

O curral de espera é geralmente uma área de ET. As vacas ficam agrupadas em um espaço confinado por minutos a horas, embora não devessem passar mais de 60 a 90 minutos no curral de espera. Recomenda-se instalar uma cobertura para sombra, ventiladores e aspersores. Um estudo do Arizona demonstrou uma queda de 2ºC na temperatura corporal e um aumento de 0,8 kg na produção de leite/vaca/dia) quando as vacas foram resfriadas com ventiladores e aspersores antes de entrar na sala de ordenha (Wiersma e Armstrong, 1983). Práticas de manejo como apartação, inclusão de vacas ao rebanho, exames veterinários e outros procedimentos devem ser sempre realizadas pela manhã. As vacas apresentam a maior temperatura corporal entre as 6 da tarde e meia-noite. A redução dos horários de manejo pode reduzir o ET, especialmente em granjas que não dispõem de dispositivos de resfriamento.

Modificações Nutricionais

O impacto da nutrição sobre a reprodução já foi bem documentado. O controle dos distúrbios metabólicos permite melhorar a reprodução durante os meses de calor. Algumas estratégias simples de formulação e manejo nutricional podem ser implantadas para atenuar os efeitos negativos do ET sobre a reprodução.

As necessidades de manutenção de vacas leiteiras em lactação aumentam significativamente com a elevação da temperatura ambiente. Sempre que possível, deve-se aumentar o número de refeições para estimular a IMS. Além disso, fornecer alimento nas horas mais frescas do dia e elevar o teor de umidade da dieta de 35 a 40% para 45 a 50% estimula o consumo.

A vaca sob ET é mais suscetível à acidose e muitos dos efeitos do calor (laminite, redução do teor de gordura do leite, etc.) podem provavelmente ser relacionados ao baixo pH ruminal durante o calor. Assim, dietas muito concentradas devem ser fornecidas com extrema cautela em épocas de calor. Obviamente, a qualidade da fibra é sempre importante, mas passa a ser vital durante o verão, uma vez que tem capacidade de tamponamento e estimula a produção de saliva.

O fornecimento de gordura na dieta (gordura inerte no rúmen/ bypass) continua a ser uma boa estratégia de fornecer energia adicional durante o balanço negativo de energia. Em comparação ao amido e fibra, a gordura resulta em incremento calórico muito mais baixo no rúmen, fornecendo energia sem o efeito térmico adverso.

Wheelock et al. (2006) já tinham demonstrado que a maximização da produção ruminal de precursores de glicose (propionato) pode ser uma estratégia eficaz para manter a produção durante o ET. Entretanto, devido a questões de saúde ruminal, é preciso fornecer os grãos com muito cuidado. Um método seguro e eficaz de maximizar a produção ruminal de propionato é através da administração de monensina (aprovada para vacas leiteiras em lactação em 2004). Além disso, a monensina pode ajudar a estabilizar o pH ruminal em situações de estresse. Muitas vezes o propileno glicol é fornecido às vacas em início de lactação e pode ser um método eficaz de aumentar a produção de propionato durante o ET.

Alterações do Protocolo Reprodutivo

Recomenda-se observar o estro mais frequentemente durante o calor (tempo e número de observações visuais). A aplicação de tinta na região da inserção da cauda é o artifício mais popular para detecção de estro e deve ser usada em quantidade adequada e cores de fácil visualização, juntamente com a detecção visual dos sinais de estro. Existem inúmeras tecnologias disponíveis para melhorar a identificação do estro. O sistema HeatWatch® (CowChips, LLC, Denver, CO) registra o número e o tempo de monta durante o estro através de um transdutor de radiotelemetria de pressão aplicado à região da inserção da causa para transmitir as informações para um computador. Os pedômetros também podem ser usados para detectar o aumento de atividade física associado ao estro.

O estresse térmico afeta significativamente a fertilidade de touros. A qualidade do sêmen apresenta piora quando os touros são continuamente expostos a temperaturas de 30ºC por 5 semanas ou 37,7ºC por 2 semanas, apesar de não haver efeito aparente sobre a libido. O estresse térmico reduz a concentração espermática e a motilidade e aumenta a porcentagem de espermatozóides morfologicamente anormais por ejaculado. Depois de um período de ET, a qualidade do sêmen só retorna ao normal em cerca de 2 meses devido à duração do ciclo espermático, contribuindo para o efeito de carry-over do ET sobre a reprodução, tornando recomendável a verificação periódica da qualidade do sêmen. Muitos produtores usam um número fixo de IAs (geralmente 3 IAs) e em seguida expõem a vaca ao touro; entretanto, talvez seja melhor continuar a usar IA para procurar evitar os efeitos negativos do ET sobre o touro.

O uso de IA em tempo fixo (IATF) para evitar os efeitos negativos da menor detecção de estro já está bem documentado. O uso dos protocolos de IATF, associados ou não à detecção de estro, pode melhorar a fertilidade durante os meses de verão. Um estudo conduzido na Flórida durante o verão obteve aumento da taxa de prenhez aos 120 dias pós-parto (27% vs. 16,5%, respectivamente) e redução no número de dias abertos, no intervalo entre o parto e a primeira cobertura e no número de serviços por concepção em vacas submetidas a IATF, comparado as vacas inseminadas após detecção de estro (De la Sota et al., 1998).

Outra maneira possível de melhorar a fertilidade no verão é através da administração de uma injeção de GnRH ao estro. Ullah et al. (1996) injetaram GnRH em vacas leiteiras em lactação após detecção do estro durante o verão no Mississippi e obtiveram aumento da taxa de concepção de 18% para 29%. Em outro estudo conduzido em Israel, as vacas receberam a injeção de GnRH ao primeiro sinal de estro durante os meses de verão e outono e houve aumento da taxa de concepção em comparação aos controles não tratados (41 % e 56 %, respectivamente; Kaim et al., 2003).

Possíveis soluções para a melhora da fertilidade durante o calor

A transferência de embriões pode melhorar significativamente as taxas de prenhez durante os meses de verão (Drost et al., 1999), evitando o período (antes do dia 7) em que o embrião é mais suscetível ao ET.

A seleção de determinados genes que controlam características relacionadas à termotolerância faz com que seja possível selecionar animais mais resistentes sem afetar inadvertidamente a seleção para rendimento leiteiro (Hansen e Arechiga, 1999). As características que poderiam ser selecionadas incluem coloração da pelagem, genes que controlam o comprimento dos pelos e genes que controlam a resistência celular ao choque térmico (consultar revisão de Hansen e Arechiga, 1999). Além disso, a modificação genética ou alteração das propriedades bioquímicas do embrião antes da transferência poderiam melhorar a resistência térmica e a fertilidade.

Alguns aditivos de ração podem atenuar parcialmente os efeitos do ET através de maior dissipação de calor, reduzindo assim a temperatura interna do organismo. Em vários estudos, culturas de fungos adicionadas à dieta reduziram a temperatura corporal e a freqüência respiratória durante o calor, mas não em épocas mais amenas (Huber et al., 1994). Um experimento recente no Arizona demonstrou maior sudorese e redução da temperatura corporal quando niacina encapsulada foi fornecida a vacas em lactação, em comparação a controles mantidos em condições de termoneutralidade (Zimbelman et al., 2007).

Um estudo complementar foi conduzido em uma granja comercial durante os meses de verão no Arizona com niacina protegida fornecida a vacas em final de lactação. Os resultados demonstram efeitos semelhantes, com redução da temperatura corporal durante as horas mais quentes do dia e maior produção de leite corrigido para gordura e energia (Zimbelman et al., 2008). O fornecimento de ácidos graxos insaturados a ovelhas alterou a composição lipídica dos ovócitos, aumentando a termotolerância (Zeron et al., 2002). O uso de técnicas de encapsulamento para proteger aditivos da ação ruminal poderá resultar em maior perda de calor e (ou) a manipulação da composição bioquímica celular, melhorando a função reprodutiva durante os meses de calor; entretanto, mais estudos são necessários.

O índice médio temperatura máxima-umidade (THI) é calculado usando tanto a temperatura ambiente quanto a umidade relativa. Até o momento, os pesquisadores sugerem que as vacas passam a sentir estresse a partir de um THI de 72. Os valores de THI foram divididos em níveis de estresse brando, moderado e grave pelo Livestock Conservation Institute (Armstrong, 1994). Berman (2005) ressaltou que os dados que justificam esta classificação não são claros. Por exemplo, o índice é baseado em uma análise retrospectiva de estudos conduzidos na Universidade do Missouri no final dos anos 50 e início da década de 60 com um total de 56 vacas com produção média de 15,4 kg de leite/dia, variando de 2,6 a 31,7 kg/dia. Hoje em dia, a produção média por vaca nos Estados Unidos é superior a 28 kg/dia e muitas vacas produzem mais de 45 kg/dia em pico de lactação. Estudos estão sendo conduzidos na Universidade do Arizona para reavaliar o índice THI usando vacas leiteiras modernas de alta produção. Provavelmente, a nova interpretação do THI será um estímulo ao maior uso de técnicas de resfriamento em temperaturas mais baixas que as atualmente recomendadas, reduzindo os efeitos negativos do ET sobre a reprodução.

Conclusão

Um bom sistema de resfriamento ainda é a maneira mais eficaz e rentável de melhorar tanto a produção de leite quanto a reprodução durante os meses de calor e ET. Até mesmo regiões de clima geralmente ameno podem ter períodos de ondas de calor e ET, que reduzem dramaticamente a fertilidade. As vacas secas também são suscetíveis ao ET e devem ser submetidas a algum tipo de resfriamento para melhorar a fertilidade após a parição. O ET pós-parto pode reduzir significativamente as taxas de prenhez e seus efeitos podem se prolongar até o os meses de outono. Estratégias para reduzir e atenuar os efeitos negativos do ET sobre a fertilidade como sistemas de resfriamento, ajustes nutricionais e alterações de protocolos reprodutivos podem melhorar a rentabilidade das granjas leiteiras.

RICARDA MARIA DOS SANTOS

Professora da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade Federal de Uberlândia.
Médica veterinária formada pela FMVZ-UNESP de Botucatu em 1995, com doutorado em Medicina Veterinária pela FCAV-UNESP de Jaboticabal em 2005.

JOSÉ LUIZ MORAES VASCONCELOS

Médico Veterinário e professor da FMVZ/UNESP, campus de Botucatu

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JORGE PEGOLO FILHO

JALES - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 18/11/2009

Creio que o estresse térmico em rebanhos leiteiros no Brasil é pouco conhecido, principlamente por médios e pequenos produtores e, por alguns dos técnicos da área (sem generalizar). Estratégias de melhora do ET, como por exemplo, sobreamento ambiental, sombreamente e resfriamento em sala de espera e melhoria na distribuição de bebedouros, além da manutenção da boa qualidade da água, são medidas relativamente baratas e que justificam-se pelo custo-benefício.
Abraços.

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